Unidades da GM e da Volks ampliam horas extras e trabalham em ritmo acelerado para atender a demanda gerada pela redução de IPI
Vendas do setor automotivo em março chegaram a 271 mil unidades, melhor resultado para o mês em todos os tempos
FÁBIO AMATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS
DIMITRI DO VALLE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA
Pouco mais de seis meses após o agravamento da crise financeira, que derrubou as vendas e a produção de carros no Brasil, funcionários de montadoras já fazem horas extras para atender à demanda por automóveis, aquecida pela redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados).
Entre janeiro e março, a indústria automotiva registrou forte crescimento e, em pelo menos duas fábricas -uma da Volkswagen e outra da GM-, o ritmo de produção já é igual ao do período pré-crise. O número de empregos no setor, entretanto, continuou caindo no período (veja texto nessa página).
Em março, o setor automotivo registrou o melhor resultado de vendas para um mês de março. Foram 271.494 veículos vendidos -incluindo automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus-, 17% a mais que em igual período de 2008. O primeiro trimestre também foi o melhor da história para a indústria, com o emplacamento de 668.314 veículos.
Na fábrica da Volkswagen em Taubaté (SP), de onde saem os modelos Gol e Voyage, a produção já retomou o ritmo do período anterior à crise -cerca de 1.050 carros por dia. O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Isaac do Carmo, disse que, de janeiro a março, os funcionários da planta trabalharam nove sábados (a jornada normal é de segunda a sexta).
Para este mês, foi assinado acordo entre o sindicato e a empresa que prevê o funcionamento da fábrica em três sábados e dois feriados. Carmo disse que, em março, 280 trabalhadores foram efetivados ou tiverem o contrato renovado.
Situação semelhante vive a fábrica da GM em Gravataí (RS), onde são produzidos os modelos Celta e Prisma. Segundo o presidente do sindicato dos metalúrgicos local, Valcir Ascari, os cerca de 4.500 empregados estão fazendo 22 minutos de hora extra por dia, além de trabalharem dois sábados por mês, jornada igual ao do período pré-crise.
A produção na unidade, disse Ascari, também voltou aos níveis de setembro, com cerca de 880 carros por dia. “A produção aqui está bombando. Temos a informação de que já tem até fila de espera para comprar Celta e Prisma”, afirmou ele. “Acho que o governo deve estender a redução do IPI enquanto tiver rumores de crise.”
Nas fábricas da GM em São José dos Campos e São Caetano do Sul (ambas em SP), a produção já atinge os níveis de 2007 e também há setores em que os funcionários fazem horas extras, informam os sindicatos dos metalúrgicos.
Na unidade de São José dos Campos, onde em janeiro a GM fez um corte de 744 funcionários, a produção, que no auge da crise caiu a 500 carros por dia, está agora em cerca de 780.
A direção do Sindicato dos Metalúrgicos de Betim (MG) diz que a fábrica da Fiat vem dando expediente também aos sábados para aumentar a produção, o que motivou uma denúncia na Delegacia Regional do Trabalho. Segundo o presidente do sindicato, Marcelino da Rocha, a inclusão dos sábados não estava prevista em acordo e os trabalhadores não estão recebendo pelas horas a mais. O dirigente disse que em 2009 a montadora já acionou os funcionários para cumprir jornada extra em nove sábados.
A assessoria da Fiat diz que foram trabalhados quatro sábados e que “há um saldo de horas não trabalhadas a compensar”.
A Fiat tem produção de 2.700 unidades por dia, segundo o sindicato dos trabalhadores, ante a média de 3.100 veículos fabricados até outubro.
Na unidade da Ford em Camaçari (BA), a produção está em 800 carros por dia, segundo o sindicato dos metalúrgicos. O pico diário da produção, antes da crise, foi de 912 carros.