Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

História

Metalúrgicos e Eletricitários debatem Revolução Russa e os 100 Anos da primeira Greve Geral do Brasil

O Sindicato dos Eletricitários de São Paulo realizou na quinta, 21 de setembro, um debate sobre os cem anos da Revolução Russa e da primeira greve geral no Brasil. Os debatedores ressaltaram a importância dos dois fatos, ocorridos em 1917, para a vida dos trabalhadores e da população, relacionando-os com o momento atual da classe trabalhadora brasileira: de retirada de direitos, perda de renda, mudança na seguridade, empobrecimento da população, tentativa de enfraquecimento dos sindicatos, privatizações e jogo político, entre outros temas.

Zé Maria, do Conlutas, lembrou que a Revolução Russa destruiu o czarismo e a oligarquia e estabeleceu o poder soviético sob o controle do partido bolchevique. A revolução se dá num contexto da 1ª guerra mundial, economia atrasada e devastação. No Brasil, o domínio se dá pelo capital. “O capitalismo tem uma lógica que é a concentração da riqueza produzida. A resistência aos ataques é fundamental, mas é preciso ter uma saída mais de fundo para esta situação. A mudança se dará quando a classe trabalhadora assumir o poder”, afirmou.

João Guilherme Vargas Netto, consultor sindical de entidades de trabalhadores, destacou a importância do debate pelo movimento sindical e disse que Temer vai entregar o governo com quebra na relação entre Estado e sociedade, quebra na possibilidade do Estado se colocar mais a serviço da sociedade, quebra do processo, embora lento, da defesa ambiental, e quebra das relações do trabalho. “A lei trabalhista vai reinstaurar o conflito na relação de trabalho. O trabalhador vai recorrer ao sindicato, por isso, a luta que os metalúrgicos estão travando, de reconduzir a resistência, é estratégica”, afirmou.

“A gente tem que pegar a história e tirar proveito dela. Temos que atravessar a ponte e enfrentar o outro lado”, disse Miguel Torres, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e da CNTM, vice-presidente da Força Sindical, lembrando uma frase do livro “A greve de 1917”, de José Luiz Del Roio, que diz que “não existe conquista definitiva. O capital está sempre na espreita…”

Miguel Torres disse que o movimento sindical ficou adormecido por muito tempo e, para muitos, a luta de classe deixou de existir. “Quem governa é o sistema; as reformas vêm sendo preparadas desde 2002 e as ações são coordenadas. Veio a PEC dos gastos, corte de investimentos em saúde, educação, retirada de direitos, o ataque às reservas nacionais, venda do patrimônio. É uma orquestração bem feita e a saída para os trabalhadores é reagir”, analisou.

Segundo Miguel Torres, os trabalhadores ainda não atentaram para os efeitos da reforma. “A obrigação nossa é a resistência, temos que ampliar o movimento dos metalúrgicos para outras categorias e construir uma unidade grande”, afirmou. Os debatedores destacaram também a importância do movimento Brasil Metalúrgico, de resistência à aplicação da lei (reforma) trabalhista, aprovada no Congresso Nacional, à aprovação da reforma da Previdência e outras reivindicações trabalhistas e nacionais.

Eduardo Anunciato (Chicão), presidente do Sindicato dos Eletricitários de São Paulo, lembrou que em 1917 não havia whatsapp, facebook, instagran e outras redes sociais como hoje e o povo foi para a rua e parou. “Hoje tem tudo isso e falta solidariedade. Os ataques à infraestrutura, aos direitos dos trabalhadores estão afetando a família. Que a gente construa uma greve geral para marcar os 100 anos dessa história com firmeza e mude a história”, disse.

Presentes ao debate: Mônica Veloso, vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e da CNTM, o secretário-geral do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Jorge Carlos de Morais “Arakém”, e os diretores Adriano Lateri, Edenilson Rossato Alemão e Maurício Forte.

História
A Revolução Russa foi um período de conflitos políticos, iniciado em 1917, que derrubou a autocracia russa e, depois do Governo Provisório (Duma), resultou no estabelecimento do poder soviético sob o controle do partido bolchevique, de Vladimir Lênin. O resultado desse processo foi a criação da União Soviética, que durou até 1991.
No começo do século XX, a Rússia era um país de economia atrasada e dependente da agricultura, pois 80% de sua economia estava concentrada no campo (produção de gêneros agrícolas).

A Greve Geral de 1917 foi um movimento provocado pelos operários e comerciantes de São Paulo nos meses de junho e julho.

Os trabalhadores pediam melhores condições de trabalho, redução da jornada e aumento de salário. Não havia legislação trabalhista, as jornadas duravam 16 horas por dia, mulheres e crianças realizavam trabalhos pesados e as questões laborais eram resolvidas com a polícia. Depois de cinco dias de paralisação geral, os grevistas tiveram suas reivindicações atendidas.

Em 1917, o mundo vivia a Primeira Guerra Mundial que fazia estragos econômicos e sociais nos países europeus. Igualmente, assistia a tomada do poder por socialistas e comunistas, na Rússia.

Por sua vez, o Brasil vivia um período de instabilidade econômica provocada pela escassez de alimentos e, consequentemente, de inflação.

Segundo o jornalista Edgar Leuenroth, a Greve Geral de 1917 deixou marcas entre os trabalhadores urbanos brasileiros:

-o operariado brasileiro adquire consciência de classe,
-desenvolvem-se os primeiros sindicatos a partir das ligas de classe dos bairros,
-divulgação e fortalecimento das ideias de esquerda no Brasil
-a resolução de conflitos sociais não deveria ser resolvida através da polícia.