Reajuste dos trabalhadores da Renault-Nissan e da Volvo será de 7,67%, mais abono individual de R$ 2 mil
Marcelo Rehder, Tatiana Fávaro e Evandro Fadel
Na primeira greve por tempo indeterminado depois da crise financeira global, os 7,8 mil metalúrgicos da Renault-Nissan e da Volvo, ambas no Paraná, conquistaram reajuste salarial de 7,67% mais abono de R$ 2 mil para cada trabalhador. O abono será pago esta semana.
Aprovada ontem, a proposta das montadoras garantiu aumento de 3% acima da inflação e pôs fim a uma greve de 13 dias na Renault e de 24 horas na Volvo. Nesse período, deixaram de ser produzidos 6,2 mil veículos, segundo sindicalistas.
Na Renault, os metalúrgicos têm ainda a garantia de mais 1% de aumento real conquistado na negociação de 2008, o que eleva para 8,65% o reajuste. Na Volvo, os trabalhadores tiveram garantia de emprego até dezembro. Os dias parados não serão descontados nas duas montadoras e vão compor o banco de horas.
Para o Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba, entidade ligada à Força Sindical, foi ´´o maior acordo salarial da indústria brasileira´´ este ano.
Não é o primeiro acordo favorável comemorado nos últimos dias pelos metalúrgicos. Na terça-feira, depois de cruzarem os braços durante 24 horas, os 5,5 mil metalúrgicos da Toyota, em Indaiatuba, e da Honda, em Sumaré, ambas no interior paulista, conseguiram 10% , que representa aumento real de 5,32%.
A conquista foi celebrada como ´´o maior acordo de aumento real conseguido no País´´ em 2009, nas palavras de Jair dos Santos, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas e Região. A entidade é ligada à Intersindical, que reúne grupo de sindicatos dissidentes da Central Única dos Trabalhadores (CUT).
´´Não é um acordo histórico, também não chegou a contemplar totalmente nossa reivindicação, de aumento de 14,65%, mas nenhuma categoria no Brasil teve aumento real igual ou superior ao que tivemos até este momento´´, disse Santos.
Com esses acordos, ganha força a reivindicação de aumento real dos metalúrgicos. ´´É uma prova que há possibilidade de avançar muito mais nas propostas feitas pelo Sinfavea (Sindicato dos Fabricantes de Veículos Automotores)´´, disse Vivaldo Moreira Alves, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, ligado à Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas).
A entidade negocia em nome dos 8,3 mil trabalhadores da fábrica da GM em São José dos Campos. Eles querem reajuste de 14,65%, mas a montadora oferece 6,53% mais abono de R$ 1,5 mil. Ontem, eles retomaram paralisação de 24 horas, a terceira desde o último dia 10.
´´Apesar do aumento das vendas nos últimos meses e do altíssimo ritmo de trabalho que está sendo imposto, principalmente após as demissões, a GM mantém uma postura intransigente´´, disse o diretor do sindicato, Luiz Carlos Prates. Para pressionar a montadora, a categoria ameaça com greve por tempo indeterminado.
O índice de correção salarial negociado pelos sindicatos de Curitiba e de Campinas ficou bem acima do conseguido pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, ligado à CUT, que garantiu aumento real de 2% mais abono de R$ 1,5 mil. O presidente do sindicato cutista, Sergio Nobre, observa que o ABC paulista tem uma realidade de salários e benefícios muito superiores à de outras regiões.
´´O salário médio de um trabalhador na produção no ABC está hoje em torno de R$ 3,4 mil, enquanto na Honda e na Toyota é de apenas R$ 2,2 mil. No Paraná, é metade do salário daqui´´, disse. ´´É importante avançar nessas regiões onde os salários são inferiores, porque precisamos acabar com as diferenças regionais.´´
Segundo ele, a campanha salarial nas autopeças entra agora numa fase decisiva. Depois de um mês de negociações, até agora as empresas chegaram apenas a uma proposta de 0,8% de aumento real.
Hoje, os metalúrgicos do ABC fazem nova assembleia e, segundo Nobre, se não houver avanço na proposta, não está descartada a greve por tempo indeterminado. Ontem, ocorreram protestos e paralisações parciais em oito fábricas do ABC mobilizando mais de 4 mil trabalhadores.