Com a mudança de tom da ata do Copom, analistas projetam que o juro chegará até a 15,25% no fim do ano
Fernando Nakagawa e Fabio Graner, BRASÍLIA
A Ata da última reunião do Copom, que elevou a taxa Selic em 0,75 ponto porcentual, firmou o compromisso do Banco Central (BC) de “agir vigorosamente” e por quanto tempo for necessário para levar a inflação de volta à meta de 4,5% em 2009. O mercado entendeu o recado. Analistas já contam com mais uma alta de 0,75 ponto em setembro.
O documento aponta vários fatores para justificar a elevação da Selic para 13% ao ano, mas ressalta o descompasso entre oferta e demanda nos mercados doméstico e internacional e relativiza a desaceleração de alguns índices, que ainda poderão ser afetados pela alta de preços no atacado, que ainda deve ser repassada ao varejo.
“A política monetária deve atuar vigorosamente, enquanto o balanço dos riscos para a dinâmica inflacionária assim o requerer, por meio do ajuste da taxa básica de juros”, diz o BC. A estratégia adotada pelo Copom confirma que o objetivo é “trazer a inflação de volta à meta central de 4,5%, tempestivamente, isto é, já em 2009”.
Utilizando linguagem mais política que a usual, o BC disse que a elevação dos juros era necessária porque uma inflação alta e persistente pode levar “à redução do potencial de crescimento da economia”, além de ter efeitos regressivos sobre a distribuição de renda.
O tom da ata divulgada ontem é bem mais pessimista que o da de junho. A causa foi o comportamento desfavorável de uma série de indicadores nas últimas semanas, como a inflação corrente e os preços no atacado, além do cenário externo.
Assim, o BC evidenciou que a opção pela alta mais forte da Selic – que subiu 0,5 ponto em cada uma das duas reuniões anteriores – visou a evitar a piora das projeções do mercado para a inflação. A ação do BC busca o que os economistas chamam de ancoragem das expectativas.
De acordo com as pesquisas mais recentes, o mercado trabalha com IPCA de 5% para 2009. Para 2008, a previsão é de 6,58%, portanto, acima do teto de 6,50% da meta.
Em meio a essas preocupações, até a recente desaceleração de alguns índices de inflação e dos preços das commodities foi minimizada. Nas últimas semanas, o Ministério da Fazenda vinha sugerindo que a melhora desses indicadores poderia fazer com que o BC evitasse uma ação mais forte nos juros. No documento, o BC sinaliza, entretanto, que ainda é cedo para comemorar o comportamento desses indicadores.
Vários trechos da ata alertam para a possibilidade de que aumentos de preço no atacado sejam repassados ao varejo, já que a demanda interna continua aquecida e alguns setores podem enfrentar problemas na oferta de produtos e serviços.
“A redução pronta e consistente do descompasso entre o crescimento da oferta de bens e serviços e a demanda continua sendo central na avaliação das diferentes possibilidades que se apresentam para a política monetária”, avalia o BC, salientando que o aumento da renda, do crédito e os gastos do governo potencializam esse quadro.
EXPECTATIVAS
A ata levou o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, a elevar a previsão para os juros no fim do ano de 14,25% para 15,25%. Para ele, o BC deve aumentar o juro em 0,75 ponto em cada uma das três últimas decisões do ano – setembro, outubro e dezembro. Em relatório, ele sustenta a previsão ao lembrar que a expectativa para o IPCA em 2009 está em 5% e em alta.
A LCA Consultores acredita em alta de 0,75 ponto em setembro e em 0,50 ponto em outubro e dezembro. Para o economista Francisco Pessoa Faria, esse aumento adicional de 1,75 ponto até dezembro será suficiente para levar o IPCA para 4,6% em 2009. “O preço será a desaceleração da economia, que deve crescer em torno de 3,3% em 2009.”
MUDANÇA DE TOM
COMO ERA (ATA DE JUNHO)
´A política monetária deve atuar por meio do ajuste da taxa básica de juros´
´Uma atuação cautelosa e tempestiva tem sido fundamental para aumentar a probabilidade de que a inflação no Brasil siga evoluindo segundo a trajetória de metas´
´A persistência de descompasso entre a demanda e oferta tende a exacerbar o risco para a dinâmica inflacionária´
´O Copom considera que se mantém elevada a probabilidade de que pressões inicialmente localizadas venham a apresentar riscos para a trajetória da inflação´
´A contribuição do setor externo para um cenário inflacionário benigno parece estar se tornando menos efetiva´
COMO FICOU (ATA DE JULHO)
“A política monetária deve atuar vigorosamente, enquanto o balanço dos riscos para a dinâmica inflacionária assim o requerer, por meio do ajuste da taxa básica de juros´
´Uma atuação cautelosa e tempestiva tem sido fundamental para aumentar a probabilidade de que a inflação no Brasil volte a evoluir segundo a trajetória de metas´
´A persistência de descompasso entre a demanda e oferta vem exacerbando o risco para a dinâmica inflacionária´
´O Copom considera que se elevou a probabilidade de que pressões inicialmente localizadas venham a apresentar riscos para a trajetória da inflação´
´A contribuição do setor externo para um cenário inflacionário favorável tornou-se menos efetiva´