Força e demais Centrais Sindicais não têm deixado de apresentar propostas anticrise ao País. Segmentos empresariais também mostram disposição de vencer a recessão e retomar o crescimento. Mas o governo, emparedado pela crise política e problemas internos, continua lento na tomada de decisões.
“O País não pode esperar mais. A subida da inflação e o aumento do desemprego impõem providências ainda mais urgentes e medidas pontuais, já”, afirma Miguel Torres, presidente da Força Sindical e da Confederação dos Metalúrgicos – CNTM. Ele é o quarto presidente de Central a ser ouvido pela Agência Sindical, na série de matérias sobre a conjuntura e perspectivas para 2016.
Para o dirigente forcista, o sindicalismo e o setor produtivo não têm demorado em apresentar propostas e posições. “Nossa crítica à política de juros altos é pública. O prazo de validade desse remédio já venceu. A taxa Selic está nas alturas e a inflação não baixou. Ao contrário”, argumenta. Os setores têm levado propostas ao governo, que responde com lentidão.
Miguel aponta que o programa de renovação de veículos poderia ter sido adotado ainda em 2015. “Entramos no ano novo sem nada definido. Esse tipo de medida é comum em vários países, de forma permanente. No Brasil, 25% da frota de caminhões tem mais de 30 anos de uso e causa 60% dos acidentes”, diz. Ele também critica a inércia na mudança tributária. “Paga-se IPVA muito alto no carro popular, quando iates, jatinhos e helicópteros são isentos. Por que não mudar isso, não taxar as grandes fortunas e a remessa de lucros?”, questiona o presidente da Força.
Embora considere avanço a MP que mudou regras para acordos de leniência de empresas envolvidas em corrupção, Miguel Torres lamenta que outras medidas não tenham sido tomadas. Dia 3 de dezembro, as Centrais e várias associações empresariais do setor produtivo lançaram o movimento “Compromisso pelo Desenvolvimento”. Dias depois, estiveram com a presidente Dilma, a quem entregaram o conjunto de seis propostas. Haveria novas reuniões para o começo de ano. Até agora, nada foi agendado.
Aço – Miguel Torres aponta problemas graves em setores como aço, construção, óleo, gás e naval e acredita que medidas pontuais levantariam esses segmentos, “com reflexos gerais em quase toda a cadeia produtiva nacional e na economia”. Sem isso, o desemprego avança. Ele argumenta: “Todo país desenvolvido protege sua indústria estratégica. Aqui, estamos deixando de fazer isso, com graves consequências para o futuro do País”.
Juros – Há um marco zero para a mudança da política econômica criticada por Miguel e outros sindicalistas. É a redução da taxa de juros. “A atual política econômica põe o País a serviço do rentismo. E falam ainda que a Selic vai subir. Qual capitalista investirá na produção se pode ganhar sem esforço no mercado financeiro?” pergunta.
Conselhão – Sem abrir mão das críticas, a Força Sindical seguirá com o debate e apresentação de propostas. O Estado brasileiro tem canais institucionais para isso. É o caso do Conselho de Desenvolvimento Econômico (Conselhão), que deve ser revigorado. Miguel considera “até natural” que os signatários do ‘Compromisso pelo Desenvolvimento’ ocupem assento. “Temos representatividade, legitimidade, propostas e convergências”, diz o presidente da Central.