DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
VERENA FORNETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Começar a cobrar imposto de renda de aplicações na caderneta de poupança foi uma solução “razoável” mas não a melhor possível para o problema que o governo Luiz Inácio Lula da Silva tinha, diz Ricardo Carneiro, professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Na sua opinião, a fim de impedir que grandes investidores abandonassem os títulos públicos -prejudicando, dessa forma, a rolagem da dívida federal- e rumassem em peso para a poupança, o ideal seria diminuir a liquidez da aplicação popular. Isso significaria mudar o seu rendimento de diário, como acontece hoje, para trimestral. Quem tirasse o dinheiro antes perderia todos os ganhos do período.
“Já foi assim antigamente e é assim em todos os outros países. Essa é uma estrutura que tem sucesso em impedir a especulação”, explica Carneiro. “Dessa maneira ainda se aproveitaria a oportunidade para aprimorar a organização do sistema financeiro, recompensando quem deixa o dinheiro na aplicação por mais tempo.”
Tecnicamente superior, essa opção não foi escolhida, avalia o acadêmico, pelo desgaste político que poderia causar. “A oposição irresponsavelmente falou que as alterações na poupança levariam a um confisco como o realizado por Fernando Collor na década de 1990. Uma regra para desencorajar saques em períodos curtos poderia, portanto, ser distorcida e apresentada por esses políticos como uma tentativa de apropriação por parte do governo.”
O economista Luiz Gonzaga Belluzzo também classifica a medida anunciada ontem como “razoável”. “Acho que o governo foi muito sensato, pois é preciso ter cuidado com as aplicações de valor pequeno, as mais frágeis”, afirma.
A Força Sindical aprovou a resolução. “O governo cumpriu o que havia combinado conosco de garantir até R$ 50 mil. Estamos preocupados, porém, com a tributação para montantes acima desse teto, que é bastante alta. Vamos trabalhar para mexer nisso impedindo que os especuladores vão para a poupança”, disse Paulo Pereira da Silva, presidente da central.
Para a Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimentos), “as mudanças anunciadas são um primeiro passo no sentido de adequar o mercado financeiro aos novos níveis de taxas de juros da economia”, segundo comunicado distribuído pela entidade à imprensa. “Essa discussão só foi possível em decorrência do avanço da economia brasileira nos últimos anos.”