Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Massa salarial sustenta vendas do varejo e ameniza desaceleração

O crescimento expressivo da massa salarial tem sido fundamental para impulsionar as vendas do comércio varejista. Aliada à melhora da qualidade do emprego, com o forte aumento dos postos com carteira assinada, a expansão da massa deverá ser importante para tornar mais brando o ciclo de desaceleração da economia que se espera para os próximos meses, ainda que o avanço da ocupação e do rendimento percam fôlego daqui para frente.

A pujança do mercado de trabalho fica clara quando se analisa a evolução da massa salarial nominal de dezembro de 2005 a maio deste ano: no período, ela cresceu 25,9%, uma expansão fundamental para explicar a alta de 27,2% registrado pela receita nominal do varejo no período. O rendimento nominal do trabalho, por sua vez, teve aumento de 18,9%, evidenciando que a ocupação teve papel importante na elevação da massa nominal.

O momento positivo do varejo também se deve à alta firme do crédito nos últimos anos, mas os analistas ressaltam que a própria expansão de empréstimos e financiamentos decorre em boa parte dos avanços no mercado de trabalho. A melhora do emprego e da renda dá mais confiança para o consumidor entrar em operações de crédito, nota a economista Thaís Marzola Zara, da Rosenberg & Associados.

A crescente formalização dos postos de trabalho joga aí um papel decisivo, acrescenta Thaís. A expansão do consumo é mais sólida do que se fosse baseada numa elevação do endividamento sem expansão consistente do emprego e da renda.

Como Thaís, o economista Fábio Romão, da LCA Consultores, chama a atenção para a forte geração de empregos com carteira assinada. De janeiro a junho, o saldo entre contratados e demitidos ficou em 1,361 milhão postos de trabalho de acordo com números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho. Romão acredita que, em 2008, a criação de empregos formais ficará em 1,786 milhão, mais do que os 1,617 milhão do ano passado. “Os trabalhadores com carteira assinada têm obviamente mais segurança para consumir, porque há uma percepção de que é mais difícil perder o emprego”, afirma ele.

Neste ano, o aumento da ocupação voltou a ser o principal responsável pela expansão da massa salarial acima da inflação, que acumula alta de 5,8% nos 12 meses até junho. O emprego cresceu 3,5% no período, ao passo que a renda teve alta de 2,2% superior à inflação. Em 2007, quando a massa salarial aumentou 6,3%, a contribuição do rendimento real foi de 3,2%, um pouco acima dos 3% da ocupação. A aceleração da alta dos índices de preços explica o crescimento mais fraco do rendimento real neste ano, pondera o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale.

Em 2006 e 2007, a massa real cresceu 6,4% e 6,3%, pela ordem. Para este ano, a expectativa é de uma desaceleração do ritmo de crescimento. Vale aposta em 4,6%, resultado que seria composto por um aumento de 3,1% do emprego e de 1,5% da renda real. Como se vê, a inflação mais alta deve avançar sobre uma parcela ainda maior dos ganhos de renda dos trabalhadores no resto do ano, caindo dos 2,2% nos 12 meses até junho para 1,5% no acumulado em 2008.

Thaís diz que no segundo semestre, com o dissídio de algumas categorias de trabalhadores importantes, pode haver alguma recuperação do rendimento real, mas não a ponto de superar a contribuição da ocupação para o crescimento da massa salarial. Para ela, é possível que a expansão da massa neste ano fique na casa de 5%.

O ciclo de alta de juros deve afetar a atividade econômica com mais força no fim deste ano e no primeiro semestre do próximo. Com isso, a geração de empregos na economia tende a perder mais fôlego a partir do quarto trimestre deste ano.

A boa notícia é que não se espera um tranco brusco no mercado de trabalho. Para Vale, por exemplo, é provável que o ajuste se faça principalmente por meio de reajustes salariais menores, o que deve implicar em crescimento menor da renda real, e não por demissões maciças. Demitir quem tem carteira assinada é uma decisão mais custosa, destaca ele. Como a expectativa é de que o ciclo de desaceleração não jogue a atividade econômica no chão, a ocupação deve manter um ritmo de crescimento razoável, diz Vale. Ele espera que o nível de emprego cresça 3% em 2009, sendo o principal responsável pela alta de 3,5% prevista para a massa salarial real. A MB estima que o PIB tenha uma desaceleração moderada, passando de um crescimento de 4,8% neste ano para 3,5% no ano que vem.

Com a expectativa de um mercado de trabalho ainda razoável em 2009, não deve haver uma desaceleração muito brusca do consumo das famílias, que, junto com o investimento, tem sido o principal motor da demanda. Vale acredita que haverá uma alta de 5,6% neste ano e de 4,5% no ano que vem. “É algo bem razoável, nada drástico”, acredita ele.

O ponto é que, no atual ciclo de aperto monetário, os juros reais devem superar um pouco a casa de 8%, um nível bem abaixo dos mais de 12% observados no ciclo de alta anterior, registrado em 2004 e 2005, nota Vale. Thaís aposta numa desaceleração mais forte do consumo das famílias, de 6,3% para 4%, mas também considera que não se trata de uma perda de fôlego das mais bruscas.

Produtividade sobe e contém impacto de custos na indústria

A produtividade do trabalho na indústria aumentou 4,11% no acumulado de 12 meses até junho, pouco abaixo do ganho apurado no intervalo de 12 meses até maio (de 4,27%), mas ainda próximo do ganho médio de 4,16% observado no ano de 2007. O ganho é resultado do incremento de 6,71% na produção e de 2,5% no total de horas trabalhadas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Na comparação entre semestres, no entanto, o crescimento foi um pouco menor, confirmando a tendência de acomodação da produtividade do trabalho na indústria. Entre janeiro o junho, a taxa de expansão foi de 3,51%, mesmo índice apurado em igual intervalo de 2007. No segundo semestre do ano passado, o aumento foi mais expressivo, de 5,78%. Para economistas, o ganho de eficiência pode ajudar a ´amortecer´ o impacto do aumento nos custos industriais, contribuindo no processo de desaceleração da inflação no segundo semestre.

“O aumento da produtividade está menor, mas ainda é suficiente para incorporar ajustes de salário que devem ocorrer no segundo semestre em função das subidas de preço”, afirma o professor da Unicamp Edgard Pereira, da consultoria Edgard Pereira & Associados. Para o economista, os ganhos de produtividade devem apresentar alguma desaceleração no segundo semestre, por conta das estimativas de desaceleração na taxa de expansão da produção industrial. “É possível que o aumento da produtividade tenha alcançado o seu pico no primeiro semestre.”

Júlio Gomes de Almeida, consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), tem previsão mais otimista. Ele observa que o crescimento de 3,5% no semestre ocorreu com um incremento significativo no número de horas pagas (de 2,67%, ante 1,3% no mesmo intervalo do ano passado). “O ritmo de crescimento do emprego e das horas trabalhadas foi especialmente alto e não deve se manter nesses patamares nos próximos meses”, diz. Para Almeida, mesmo com a previsão de expansão menor da produção industrial, o índice de produtividade deverá melhorar no segundo semestre, encerrando o ano numa faixa mais próxima de 4%. No primeiro semestre, a produção industrial cresceu 6,3% e a projeção do Banco Central para o ano é de um incremento de 5,5% sobre 2007.

O consultor do Iedi observa que o setor industrial tem conseguido manter o ganho médio de produtividade acima de 3% ao ano desde 2004, o que contribui para o crescimento sustentável do setor no longo prazo. Conforme Almeida, ganhos acima de três pontos percentuais por ano permitem que a indústria se proteja parcialmente contra a valorização cambial. “Os custos empresariais estão aumentando muito, tanto salários como matérias-primas. Esse ganho ajuda a dirimir a alta de custos e o repasse de preços ao restante da cadeia.”

Se for convertido em ganho de rentabilidade, o aumento da produtividade também poderia permitir fluxo de caixa para investimentos em capacidade industrial, observa Fernando Sarti, professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Ele ressalva que, nos últimos anos, as indústrias não capitalizaram todo o ganho de produtividade que tiveram. Boa parte foi repassada ao setor público, via tributos, ao setor financeiro via juros e ao setor externo, por conta da valorização cambial. “Seria ótimo se o ganho de eficiência não ficasse restrito à contenção de custos, mas gerasse recursos para investimentos”, afirma. Os possíveis efeitos do ganho de produtividade serão considerados pelo governo para mudanças ou manutenção da atual política monetária, observa. “De toda forma, o aumento da produtividade associado a um incremento no nível de emprego é extremamente positivo.”

No primeiro semestre, os setores que apresentaram maior ganho de produtividade com aumento do total de horas trabalhadas foram o de materiais de transporte (que registrou alta de 12,06% em horas pagas e de 7,64% em produtividade), borracha e plástico (com ganho de 2,98% em horas pagas e 5,81% em produtividade) e minerais não-metálicos, com altas de 2,15% e 5,53%, respectivamente. Outros segmentos seguiram ampliando a produtividade à custa da redução no total de horas pagas. É o caso das indústrias de fumo, têxtil, vestuário, calçados e couro, madeira, papel e gráfica. “Os setores mais afetados pelo real valorizado frente ao dólar e pela concorrência com importados mantêm a trajetória de redução do emprego”, observa Pereira.

No semestre, o indicador do emprego industrial registrou incremento de 2,8%. Dos 17 segmentos da indústria de transformação, 11 apresentaram crescimento, destacando-se máquinas e equipamentos (12,6%), meios de transporte (10,8%) e máquinas, aparelhos eletroeletrônicos e de comunicações (12,9%). O índice do valor de folha de pagamento real também cresceu no semestre, ficando em 6,5%.