Ivy Martins
Em uma sala quase vazia no Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, a relatora começou a julgar o 15º caso da Turma 2 da Caravana da Anistia, às 19h46 de hoje (4). “Queria muito que esta sala estivesse cheia agora, porque é uma honra relatar este caso”, disse Sueli Belatto, integrante da Comissão da Anistia, que promove a 33ª caravana, em São Paulo.
O processo em questão foi requerido por Florinda Gomes Covas, a dona Lila, mulher do ex-governador de São Paulo Mario Covas, e pedia o reconhecimento de anistiado político ao marido e o pagamento de uma quantia referente aos dez anos em que Covas teve seus direitos políticos cassados e deixou de ganhar o salário de deputado federal – algo em torno de R$ 2,3 milhões.
“O Estado brasileiro pede perdão à família de Mario Covas e o declara anistiado político post mortem”, declarou Sueli. De 13 de março de 1969 a 13 de março de 1979, Covas foi impedido de exercer seus direitos políticos. Durante este período, trabalhou como engenheiro na cidade de Santos, onde nasceu. Seguindo o texto da lei, a relatora do processo afirmou que, ao estado, cabe pagar uma prestação única de 30 salários mínimos por ano de perseguição – foram 10 anos -, com teto de R$ 100 mil.
Durante o relato, Sueli leu trechos de discursos de Covas, incluindo também depoimentos que o então deputado prestou aos militares após o Ato Institucional número 5. “A liberdade é algo pelo qual se merece morrer em qualquer lugar do mundo”, disse Covas, ao ser questionado se morreria pela liberdade de outros países, como o Vietnã.
O neto do ex-governador, o advogado Gustavo Covas Lopes, representou dona Lila na sessão de julgamento. “Ele [Mario Covas] teve uma vida pública bem forte, era respeitado por todos os partidos políticos, todo mundo o reconhecia como um grande homem. Só faltava o Estado brasileiro”, disse. “Em um país em que político é sinônimo de corrupto e ladrão, é mais que uma alegria, é uma honra ser neto de um político como o meu avô.”