Escrito por Juliana Elias
Se o País comemora um período de crescimento sustentável na faixa dos 5%, o segmento da construção civil pode dar pulos de alegria, com desempenhos acima da média. É um dos setores que mais emprega. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, o número de vagas na área – uma das portas de entrada no mercado mais imediatas para a população de baixa renda – é alto e, mais do que isso, não pára de crescer.
Em agosto, a construção civil respondeu, sozinha, por 15% dos 240 mil postos de trabalho formal criados no País. Os 35,8 mil novos trabalhadores que empregou no mês representaram um incremento de 36,5% sobre o saldo do mesmo período no ano passado. Na comparação com o mês anterior, a elevação foi de 2,04% – maior taxa de crescimento entre todos os setores monitorados pelo Caged.
Contingente despreparado
No entanto, esses números não servem só à bonança. Se por um lado o setor está empregando muito, por outro depara com uma mão-de-obra extremamente despreparada. Pesquisa encomendada pela Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat) à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP) mostrou que 80% dos trabalhadores dos canteiros de obra completaram, no máximo, quatro anos de estudo, sendo que 20% deles não são sequer alfabetizados. Apenas 18% desses trabalhadores já passaram alguma vez por curso técnico ou treinamento, e mais da metade deles vive com até dois salários mínimos.
Por conta disso e também da perda de produtividade que os baixos níveis de cultura e compreensão acabam causando, cada vez mais empresas e associações da construção civil têm investido em projetos de capacita-ção da mão-de-obra disponível. “Nós estamos muito preocupados com este gargalo na construção civil”, diz o presidente da Abramat, Melvyn Fox.
Segundo ele, a maior dificuldade do setor está justamente na carência de profissionais gabaritados. “A falta que temos não é nem de material, nem de capacidade de produção. Qualificação é um problema que sempre existiu, não vem de agora”, afirma Fox. “Mas, hoje, com a intensificação da demanda, puxada pelo desenvolvimento imobiliário e de infra-estrutura, sentimos muito mais essa carência.”
Em 2007, essa carência já estava latente. Por isso, a Abramat encomendou o estudo à Poli, com o objetivo de traçar um raio X completo da mão-de-obra em atividade no setor. O resultado foi uma brochura de 130 páginas, publicada no final do ano passado, e um projeto de qualificação em nível nacional que a associação vem desenvolvendo ao longo de todo este ano.
A proposta cria uma rede de cursos de capacitação profissional, com currículo e certificado padronizados e reconhecidos pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro). “Assim como há uma habilitação reconhecida em todo o território nacional para o motorista de caminhão, a idéia é que haja uma também para o profissional da construção”, exemplifica a gerente operacional da Abramat, Laura Marcellini.
O projeto já está em mãos dos ministérios do Trabalho e Emprego, da Educação e na Casa Civil. Na ABNT, há uma equipe de técnicos, empresários e trabalhadores que, desde 2007, vem criando as regras e os tópicos que devem constar nas diferentes habilitações, listagem que deve ficar pronta este ano. O início do projeto, no entanto, depende de uma série de fatores e burocracias e ainda não tem previsão pela Abramat.