Especialistas dizem que País deve se esforçar para enfrentar desaceleração
Adriana Fernandes e Isabel Sobral
Depois das medidas defensivas de curto prazo no enfrentamento da turbulência financeira global, garantir a manutenção do emprego será fator-chave para evitar uma crise de inadimplência no Brasil diante da desaceleração já esperada do crescimento econômico. Com a manutenção do emprego, a perspectiva de aumento da inadimplência é muito menor porque os trabalhadores mesmo num cenário econômico desfavorável conseguem honrar o pagamento das dívidas adquiridas no período recente de fartura do crédito.
Segundo o coordenador de Relações Sindicais do Dieese (Dieese), José Silvestre Oliveira, as pesquisas já apontam para um aumento da inadimplência dos brasileiros. “O que pode evitar ou amenizar isso é o mercado de trabalho, com emprego e a renda”, afirma Oliveira. Com a crise, acrescenta, a perspectiva é de criação menor de vagas e aumento da taxa de desemprego. “Do ponto de vista governamental, é preciso ampliar o crédito e não aumentar os juros”, ressalta. Ele lembra que cada 1 ponto porcentual de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) representa, em tese, 250 mil novos empregos. “Se economia desacelerar de 5, 5,5% para 3% ou 3,5%, como está previsto para 2009, isso significa dizer que vamos deixar de gerar 500 mil empregos”, disse.
A ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) ressaltou na sexta-feira, em Belo Horizonte, a importância da manutenção dos empregos como estratégia para enfrentar a crise. Ela disse que a missão do governo ao fornecer crédito às empresas visa “garantir que se mantenha o emprego”.
Especialista no mercado de trabalho, o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Márcio Pochmann, avalia que a definição de uma ação contra a crise de médio e longo prazos será estratégica agora para o País. Para ele, o Brasil pode neste momento de “ruptura” internacional ter uma política mais agressiva de atração de disputa dos postos de trabalho de empresas transnacionais e rever a sua inserção na economia mundial.
Pochmann defende a adoção de três linhas de ação para a garantia do emprego: fortalecimento do trabalho no campo, atração das redes de produção de grandes empresas do mundo e enriquecimento das cadeias produtivas. “Temos uma forte presença do capital transnacional. As principais empresas do mundo estão no Brasil e elas, de maneira geral, estão se reorganizando. Esse seria um momento espetacular para o Brasil ter uma proposição de atração”, explica.
Antes da crise, o mundo gerava cerca de 45 milhões de empregos por ano – 7 milhões por conta da terceirização, especialmente de serviços – grande parte feita na China e na Índia. “O Brasil tem mão-de-obra qualificada e estrutura empresarial que, numa política mais intensiva, poderia disputar essas vagas”, destaca Pochmann.
Segundo ele, o reforço do mercado interno abriria a perspectiva de atrair parte do processo produtivo que está sendo fechado ou orientado para outros países: “Nós precisamos disputar esses empregos.”.
Para o vice-presidente de Finanças da Caixa Econômica Federal, Márcio Percival, não há risco de uma crise de inadimplência. Para ele, mesmo com desaceleração do PIB em 2009, para 3,5% ou 4%, a economia continuará mantendo o nível de emprego: “Os empregos não vão fechar. Estamos muito longe de pensar numa situação de inadimplência”.