O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que o próximo período da crise financeira internacional vai ter maior impacto negativo na economia brasileira, provocado, especialmente, pela restrição de liquidez para as empresas brasileiras e pelo “secamento” das linhas de crédito para o comércio exterior.
Apesar da previsão, ele considera que a “fase mais aguda” da crise foi superada depois das medidas anunciadas pelos governos dos Estados Unidos e de países europeus, que investiram 595 bilhões de dólares para a recapitalização de bancos. “Nunca houve tanta parafernália para combater uma crise”, declarou Mantega durante comissão geral sobre o assunto, realizada nesta terça-feira (21), no plenário da Câmara.
Em função da escassez de liquidez e de crédito no mercado internacional, o ministro declarou que o Brasil terá de alterar as expectativas de crescimento para 2009. “Para 2008, podemos manter as mesmas projeções, já que a economia melhorou bastante no primeiro semestre e devemos fechar o ano com crescimento em torno de 5%.” Já para 2009, admitiu, será mais difícil atingir o objetivo de crescer 5%, e a meta terá de ser revista para um patamar entre 4% e 4,5%.
Fases
Mantega divide a crise em duas fases. A primeira, segundo o ministro, durou 12 meses e terminou em meados de setembro, quando o banco americano de investimentos Lehman Brothers quebrou. Essa fase, disse, não provocou impactos graves na economia brasileira, mas o cenário mudou bastante depois disso.
“Passamos de uma crise séria para uma crise muito mais séria, para uma crise grave. O crédito secou completamente e se tornou difícil para as empresas renegociarem os títulos vincendos”, disse. Além da retração ao crédito, a queda dos preços das commodities e a valorização do dólar também preocupam o governo.
Apesar do quadro, Mantega considera que a crise atingirá com menos intensidade as economias emergentes dinâmicas, como ele classifica a brasileira. O ministro listou uma série de “vantagens” para ilustrar essa “boa condição”, entre elas o fato de o compulsório nacional ser bastante alto, permitindo ao governo liberar recursos neste momento de escassez.
Menos vulnerabilidade
Ele também destacou a menor abertura da economia brasileira, que é considerada uma vantagem neste caso, porque o Brasil é menos dependente das suas exportações. Mantega citou o exemplo da China, que deverá sofrer maiores impactos que o Brasil, porque as exportações brasileiras representam cerca de 13% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto que, naquele país, elas representam 33% do PIB.
Outra vantagem comparativa destacada por Mantega é a diversificação do mercado exportador. Antes, a pauta brasileira de exportação era 25% para os EUA e 25% para a União Européia. Hoje esse percentual para os dois grupos somados caiu para 30%, pois o Brasil está exportando mais para outros mercados, como África, países árabes e outros países emergentes, dependendo menos das exportações para os países onde está o epicentro da crise.
O ministro disse ainda que o Brasil tem grande potencial de crescimento do mercado interno, reservas elevadas, reservas de petróleo e gás, e forte regulamentação financeira.