GENEBRA – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva acusou o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) de não terem uma resposta para a crise e chegou a mostrar até mesmo irritação com a falta de decisões do G-20, sugerindo que a Organização das Nações Unidades (ONU) se encarregue de um debate sobre a crise. Lula também convocou os sindicalistas a fazerem pressão nas reuniões internacionais para que os interesses dos trabalhadores sejam atendidos na reforma do sistema financeiro. “Nas crises dos anos 80 e 90, o FMI e o Banco Mundial tinham todas as soluções para os países pobres. Quando a crise se dá nos EUA, Japão e Europa, nem o FMI nem o Banco Mundial têm propostas para solucionar a crise”, disse Lula, em discurso no qual foi ovacionado na Organização Internacional do Trabalho (OIT), em Genebra, na Suíça.
“Bancos importantes que todos os dias medem o risco do México ou do Brasil, que eram tão especialistas em medir nossos riscos, não mediram os próprios riscos e quebraram”, acusou. “Não poderemos viver com sistema financeiro que especula sem gerar um posto de trabalho, sem produzir um sapato, uma camisa. Nessa crise, o FMI e o Banco Mundial não tinham respostas e muitos governos estão sem respostas”. Lula insinuou que já está cansado da forma de atuar do G-20 e disse que já existem líderes preocupados com a falta de implementação de decisões do grupo.
O presidente brasileiro defendeu uma nova atuação dos países emergentes. “O que estamos percebendo é que, em vez de os países pobres ficarem reclamando dos efeitos da crise, temos a oportunidade de debater a crise e suas soluções, para que a crise não repercuta mais fortemente na parte mais pobre da humanidade. Nessa crise, precisamos aprender que, em vez de chorar, é melhor refletir. Em vez de xingar, propor. Porque o mundo está precisamos de novas alternativas.”
Ele admite que o G-20 não poderá dar todas as respostas e que uma solução para a crise terá de vir de um debate mais amplo na ONU. Lula apelou aos sindicalistas para que aproveitem a situação internacional para fazer propostas ao G-20 e a outros grupos, como o G-8, que se reúne em julho na Itália. “Vocês precisam voltar a ser militantes. Por enquanto, o desemprego é apenas um problema social. Ele só vai se transformar em um problema político quando vocês começarem a agir, cobrar e exigir.” Lula defendeu a participação de sindicatos nos debates do G-20. “Não é justo que FMI, Banco Mundial e OMC estejam no G-20 e a OIT, não.”
Lula encerrou sua visita a Genebra, fazendo uma crítica à direita europeia por transformar imigrantes estrangeiros em “instrumentos de campanha” em momentos de crise.
O presidente passou o dia batendo na tecla de que “não são os imigrantes e os pobres do mundo” os responsáveis pela atual crise econômica. “Eu tenho notado que em algumas campanhas políticas o maior instrumento da direita é dizer que vai diminuir a imigração para garantir o emprego no seu país”, afirmou o presidente. “Não podemos permitir que a direita em cada país utilize o imigrante como se ele fosse um mal da nação ocupando o lugar de uma pessoa do próprio país.” Lula disse que só o movimento sindical poderia assumir o combate à xenofobia entre os trabalhadores.
Em plena Suíça, país conhecido por suas contas secretas e por ter um terço das fortunas do mundo, o presidente pediu o fim dos paraísos fiscais. Lula insistiu que a luta contra os paraísos fiscais deveria ser uma das prioridades na reforma do sistema financeiro internacional. Ele ainda sugeriu que aqueles que queiram ter seu dinheiro guardado em bancos, que permitam que os recursos sejam utilizados apenas para investimentos produtivos, e não em especulação.
O presidente anunciou que governo, empresários e trabalhadores brasileiros assinarão um acordo para garantir condições mínimas de trabalho no setor de cana-de-açúcar. Cerca de 600 empresas já aderiram aos princípios propostos, que inclui nível de renda, proteção aos trabalhadores e benefícios. As companhias representam pouco mais de 70% da produção de cana no Brasil.
Bric
Hoje, Lula participa da primeira reunião de presidentes do BRIC, o grupo composto por Brasil, Rússia, Índia e China. Eles vão discutir a reforma do sistema financeiro internacional, a importância das economias emergentes e a nova ordem global após a crise mundial iniciada no ano passado.Depois do encontro de Ecaterimburgo, Lula segue para o Cazaquistão. Será a primeira visita de um presidente brasileiro ao país. Um grupo de empresários brasileiros de vários setores (construção civil, mineração e alimentos) participa da visita oficial.
Em reunião da OIT, na Suíça, o presidente Lula convocou os sindicalistas a fazer pressão para que os interesses dos trabalhadores sejam atendidos na reforma do sistema financeiro.