Redução dos encargos é rejeitada e medidas serão discutidas por setor
Isabel Sobral e Tânia Monteiro, BRASÍLIA
As centrais sindicais acertaram ontem com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a estratégia de adoção de medidas diferenciadas por setor para ajudar no enfrentamento da crise financeira e no combate ao desemprego. Um grupo de ministros foi encarregado de discutir com empresários e com sindicalistas os problemas específicos de cada setor e definir ações localizadas. A indústria de alimentação foi escolhida para inaugurar a nova metodologia e deverá será assunto da primeira reunião, na semana que vem.
“A crise é setorial e atinge os setores de maneiras diferentes, como foi na metalurgia, nas montadoras, e agora está profunda na alimentação”, disse o presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho.
“Ficou acertado que vamos reunir empresários e trabalhadores e ver quais medidas o governo pode adotar imediatamente, sem discursos, mas com ações”, completou, após se reunir com o presidente Lula e os ministros da Casa Civil, Dilma Rousseff, do Trabalho, Carlos Lupi, do Desenvolvimento, Miguel Jorge, e da Secretaria Geral, Luiz Dulci.
Os dirigentes sindicais se uniram para rejeitar a ideia de redução temporária dos encargos trabalhistas sobre a folha de salário para empresários que aceitassem se comprometer a não demitir. A proposta estava sendo elaborada pelo Ministério da Fazenda e previa reduções da cota patronal de 20% sobre a folha para a Previdência e da alíquota de 8% sobre salários do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
“As centrais rejeitaram de forma unânime mexer com os direitos trabalhistas em um momento de crise, porque queremos proteger empregos, mas antes de tudo queremos manter a renda dos trabalhadores”, disse o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique Silva.
Segundo os sindicalistas, o presidente Lula mandou “enterrar” o assunto, já que não houve concordância das centrais nem mesmo em discutir a proposta. Para eles, seria um “erro” adotar medidas de desoneração da folha de forma generalizada, porque a crise é setorial.
No setor de alimentação, por exemplo, os sindicalistas destacaram ontem os problemas das médias e pequenas empresas do setor de abate de frangos, cuja cadeia emprega 3.600 mil pessoas. O presidente da Federação dos Trabalhadores da Indústria de Alimentação do Estado de São Paulo, Melquíades Araújo, relatou que, por causa da queda nas exportações, essas empresas “inundaram” o mercado interno com a produção e os preços desabaram. “Para completar, a demora na liberação de crédito dificulta ainda mais a situação e temos frangos morrendo nas granjas.”
ROTATIVIDADE
O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, foi encarregado por Lula de estudar medidas que diminuam a alta rotatividade de mão de obra no País, segundo relato dos sindicalistas. O presidente da CUT defendeu a criação de regras que dificultem as demissões coletivas, como as 4 mil ocorridas em fevereiro na Embraer . “É preciso uma legislação que regulamente as demissões coletivas no País.”