Home Notícias Social Comunicação Jornalistas sindicais ampliam rede de comunicação própria
20 abr 2018
Comunicação
O jornalista Esdras Gomes Silva atua na Metamorfose Comunicação, com Marina Valente e Verussa Ribeiro, na prestação de serviços de comunicação para entidades sindicais. Profissional militante, colabora como produtor do programa diário “Democracia no Ar”, na rádio atitude Popular, que pode ser conferido no endereço https://www.facebook.com/democraciaparticipativace/. É também produtor do programa de rádio semanal “Conexão Feminina”, na rádio Classista. Criou com Adriana Franco, da Contracs (Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio e Serviços), e outros jornalistas, no Whatsapp, o grupo “Jornalistas Sindicais”, com participação de profissionais de todo o Brasil que prestam serviços às mais diversas entidades.
Blog Imprensa Sindical – Quais os objetivos deste grupo Jornalistas Sindicais?
Esdras Gomes – Ele surgiu a partir de uma conversa informal com a Adriana Franco, da Contracs, já que somos próximos, tendo em vista que a Metamorfose Comunicação atua com o Fetrace (Federação dos Trabalhadores, Empregados e Empregadas no Comércio e Serviços do Estado do Ceará), de que deveríamos ter um espaço que fortalecesse a comunicação sindical para troca de conhecimentos, notícias, solidariedade, informações e contatos. Principalmente nesse momento político do país. Assim, criaríamos um processo de integração que é fundamental para o jornalismo sindical. Na medida em que adicionamos os (as) jornalistas, achamos diversos contatos pelo país e conseguimos a façanha de reunir profissionais dos 27 estados. E agora, com ajuda do Val Gomes (jornalista da CNTM) e da Kimber Meyer (jornalista da IndustriAll), temos a participação de companheiros de Moçambique. Tem sido uma boa experiência, tendo em vista que no grupo temos apenas os profissionais, de uma forma plural e solidária, pensando comunicação e suas questões.
Blog Imprensa Sindical – Temos entidades sindicais sem investimentos na comunicação com o trabalhador. O que elas perdem com isto?
Esdras Gomes – A disputa sindical se dá em vários níveis. Um deles é a consciência do trabalhador que é disputada 24 horas pelo patronato e por outros segmentos sociais que visam a manutenção da ordem vigente. Acredito na comunicação na visão de Lênin, como um processo de organização coletiva, pois nos obrigamos a criar uma dinâmica de disputa social por uma mudança mais profunda. Quando o sindicato abre mão disso, ele fica refém da “comunicação dos Recursos Humanos” da empresa que mina a percepção dos trabalhadores sobre sua entidade e sobre a unidade classe. Ele vira um “ colaborador”.
Blog Imprensa Sindical – Você diz se preocupar com futuras crises advindas da “superprodução”. Que crises são estas e por que devemos nos preocupar com elas?
Esdras Gomes –Temos de pensar o que nos levou até aqui. Muito se fala sobre a disputa da comunicação. Mas não podemos achar que o fascismo, por exemplo, é somente uma questão de comunicação, excluindo a perspectiva econômica. Fiz, como todo comunista, o que sei fazer de melhor diante de uma luta de classes, parei para pensar os fatores que nos levaram a esse momento. Até porque, como jornalista sindical, temos de ter sempre essa preocupação. Nós não apenas pensamos comunicação, mas todo caráter filosófico, econômico e histórico. Estamos diante de uma crise do capital. E as crises econômicas são próprias do sistema capitalista. Marx, em sua época, já tinha percebido sua natureza e refletiu que em uma delas o sistema se desmancharia, entrando em colapso. Estamos diante de uma crise, advinda do modo de produção fordista, que nos trouxe o toyotismo e a face do precariado. Mas o que está incomodando este precariado? É isso que tento compreender. Vejo que existem fatores que sinalizam, para mim, uma crise de superprodução. Que está para estourar.
Blog Imprensa Sindical – Em razão da concorrência?
Esdras Gomes – Essas crises ocorrem pela corrida pela chance de negócios. Que levam as empresas a oferecerem uma quantidade de produtos superior à capacidade de consumo ou à demanda, levando com que os estoques fiquem cheios e, consequentemente, levem a demissões em massa, que acentuam a crise. No Brasil isso já aconteceu, com o café nos anos 1930 e nos anos 1990 com pátios de montadoras lotados. A experiência das montadoras criou o toyotismo, um tipo de gestão industrial que evita com que os estoques fiquem cheios, mas não evita as crises de demanda. Não sou economista, mas tenho a impressão que no Brasil de hoje podem acontecer crises de demanda nos setores de planos de saúde, telecomunicações e montadoras de veículos. Os fatores que me levam a esta opinião é a grande quantidade de produtos à disposição no mercado.
No caso da telefonia celular, existem ativos no Brasil, segundo dados da Anatel, um total de 235,7 milhões de celulares e uma densidade de 112,98 celulares para cada 100 habitantes (dados de fevereiro de 2018). Porém, segundo a Anatel, o número de linhas celulares no Brasil está em queda: em janeiro de 2017 eram 243,42 milhões e em fevereiro de 2018 caíram para 235,7 milhões. No caso das montadoras, o ano de 2017 foi de aquecimento no setor, mas o número o total de veículos individuais segundo o Denatran (motos, motocicletas, motonetas) somam um total de 79.550.528 veículos, colocando uma taxa de 2,62 de brasileiros para um veículo individual. O setor de motos está em redução de fabricação desde 2012.
Blog Imprensa Sindical – E nas área de saúde e educação?
Esdras Gomes – Nos planos de saúde, o Brasil em dezembro de 2017 possuía 47,3 milhões de beneficiários em planos privados de assistência médica com ou sem odontologia e 22,9 milhões de beneficiários em planos privados exclusivamente odontológicos. Mesmo com essa quantidade de usuários, o setor avança com mudanças de legislação e na tentativa de desmanchar o SUS. Ainda assim, as empresas de plano de saúde, tiveram crescimento negativo do número de beneficiários em planos privados de assistência médica com ou sem odontologia, sendo em 2015 com -2,4, em 2016 com -3,2 e fechando 2017 com -0,6.
No ensino superior privado, eu vejo a questão mais delicada, primeiro porque “a mercadoria” produzida são pessoas diplomadas. Elas têm sonhos e perspectivas que, se não atingidas, geram frustração e desesperança. Na verdade, o perfil do precariado, segundo os pesquisadores do tema, são jovens urbanos de alta escolaridade. Segundo, pois o alto número de profissionais formados nas mesmas áreas de atuação sem mercado se transforma em exército industrial de reserva, ocasionando baixos salários e más condições trabalhistas. E a terceira questão é o endividamento para bancos, através de fundos como o Fundo de Financiamento Estudantil (FIES).
A concentração de alunos no país acontece em 10 cursos segundo reportagem do site G1: administração, ciências biológicas, ciências contábeis, direito, educação física, enfermagem, engenharia civil, medicina, pedagogia e psicologia. Ainda segundo o G1, em 2017, “juntas, elas respondem por 48,7% do total de formandos desde 2001, e 48,3% de todos os estudantes matriculados em um curso de graduação presencial em 2015”.
Penso que outros setores devem ser analisados, como a soja, as seguradoras e a construção civil. Junto com a Marina e duas amigas sociólogas, Viviane e Maria, estamos buscando estudar o precariado e essas crises em suas diferentes características. Mas o que preocupa é que todos esses setores têm alta ligação com o sistema bancário. Ou seja, uma crise em um deles pode significar um efeito cascata e resultar nas piores implicações econômicas e sociais.
Nascido em Fortaleza, capital do Ceará, Esdras Gomes tem 36 anos, formou-se jornalista em 2013 na Faculdade Cearense e em Filosofia em 2015 pela Universidade Estadual do Ceará. É casado com a também jornalista sindical Marina Valente e pai da Maria Eduarda. Já trabalhou na Central Única dos Trabalhadores no projeto “Todas as Letras”. Também atua prestando serviços de comunicação pela Metamorfose Comunicação, onde já atendeu mais de 20 entidades sindicais cearenses.
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