Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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IPI reduzido é visto como alternativa à queda na exportação

Marli Olmos e Guilherme Manechini, de São Paulo


Marcos de Oliveira, presidente da Ford, projeta cenário com base em condições macroeconômicas melhores
 

Os dirigentes da indústria automobilística já se preparam para pedir ao governo uma nova extensão da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). A princípio, o benefício termina em 30 de junho. Há mais de uma proposta em negociação. A Ford, por exemplo, defende que o tributo volte ao que era de forma gradual, ao longo de todo o segundo semestre. Já a Fiat quer que o incentivo seja mantido como está até o fim do ano.

 

O presidente da Fiat, Cledorvino Belini aponta cálculos feitos pelo setor no primeiro trimestre com base na arrecadação total de impostos sobre um volume de vendas que não teria crescido, segundo a indústria, não fosse o benefício. Esses cálculos indicam que os cofres públicos ganharam, no período, R$ 700 milhões. “Se o IPI reduzido é bom para o governo, para a indústria e para a sociedade, deve permanecer”, destaca.

 

Para compensar a crise de aperto no crédito, em meados de dezembro, o governo federal reduziu a alíquota de IPI dos carros à zero nos modelos com motor 1.0 e à metade nos automóveis com motores acima de 1.0 até 2.0. As previsões de mercado dos fabricantes de veículos já estão sendo feitas com base na manutenção do incentivo.

 

A Ford prevê um mercado de 2,75 milhões de veículos em 2009, o que representaria uma queda de 2,5% na comparação com o de 2008. O presidente da Ford, Marcos de Oliveira, diz que esse cálculo refere-se a um cenário de IPI reduzido como está até junho e com o tributo sendo elevado gradativamente ao longo do segundo semestre. A Fiat calcula que o mercado poderá chegar a 2,794 milhões de veículos neste ano se o IPI continuar reduzido.

 

A General Motors trabalha com a perspectiva de um mercado doméstico entre 2,6 milhões e 2,7 milhões de veículos. Segundo o diretor de vendas da GM, Marcos Munhoz, o número mais baixo refere-se a um cenário com o IPI voltando a subir em julho. O segundo refere-se à extensão do benefício até o fim do ano.

 

Mas, além da redução do tributo, os dirigentes da indústria apontam a queda dos juros, a volta do crédito e a elevação dos níveis de confiança do consumidor para traçar o cenário otimista para o setor no Brasil. “O consumidor que estava esperando o pior com a crise e continua empregado pensa: não aconteceu nada comigo e além, de tudo os preços dos carros baixaram e os juros também”, destaca Munhoz, da GM. “Nossas previsões levam em conta que as condições macroeconômicas melhoraram”, destaca Oliveira, da Ford.

 

Os dirigentes esperam um mercado ainda aquecido em maio e junho. Segundo Belini, da Fiat, a média diária de vendas nesse bimestre deverá ficar em torno de 11,5 mil unidades. O número é maior do que a média de 11,2 mil de março e bem acima das médias entre 9 mil e 10 mil do primeiro bimestre.

 

As montadoras também veem na manutenção de um incentivo fiscal no mercado interno uma maneira de compensar as perdas com exportação, que piora à medida que as economias nos países da América do Sul, principais destinos das exportações de carros produzidos no Brasil, continuam enfraquecidas. Segundo dados da Ford, as exportações de veículos no primeiro trimestre apontam retrações de 45% no Chile, 20% no México, 18% na Argentina e de 25% na região andina. A montadora calcula que as vendas externas de veículos este ano vão cair 31%, num total de 510 mil unidades.

 

Já para o setor de autopeças e consultorias especializadas, a queda deverá ser maior. Na opinião do vice-presidente da CSM Worldwide, Paulo Cardamone, a indústria automobilística não tem feito o dever de casa para segurar as exportações. Na projeção da consultoria, a queda em 2009 deverá ser em torno de 40% na comparação com o ano passado em função da crise. Mas, para ele, a queda deve perdurar mais do que o período de crise econômica. “Estávamos a meio caminho de mercados desenvolvidos em questão de conteúdo”, disse, ao ressaltar que a ausência de mais tecnologia nos veículos produzidos para exportação fez com que o país perdesse participação de mercado.

 

Flavio Del Soldato, conselheiro do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes Automotivos (Sindipeças), projeta uma produção entre 2,8 milhões e 2,9 milhões neste ano. “Na prática, vamos produzir mais ou menos o que o país irá consumir, já que as exportações deverão fechar o ano em cerca de 400 mil unidades, bem próximo ao que o país irá importar”, afirma. Segundo o executivo, Argentina e México, são os mercados de maior preocupação para o setor. No primeiro, a questão é imposição de barreiras comerciais colocadas com o objetivo de proteger a indústria local. E no México, o surto de gripe e a proximidade com o mercado americano, que hoje vive o pior momento dos últimos anos, têm colocado os fabricantes de autopeças em alerta.

 

O executivo aponta ainda os investimentos paralisados. “Os aportes realizados garantem uma certa ociosidade, o que torna novas encomendas muito bem vindas”.