Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Indústria termina agosto sem desaceleração

A indústria terminou agosto sem sinais claros de desaceleração no ritmo de produção e de encomendas. Diante de vendas ainda fortes, novas contratações e pedidos antecipados para o fim do ano várias empresas estão mantendo – ou mesmo ampliando – as projeções de crescimento feitas no início do ano. A alta da taxa básica de juros – que já soma 1,75 ponto percentual desde abril – não alterou nenhuma previsão ou planejamento, por enquanto. Mesmo no caso de indústrias de bens de consumo não-duráveis, que registraram recuo em julho.

O diretor de controladoria e planejamento da Lepper, Zeno Fischer, diz que a produção da fabricante de cama, mesa e banho manteve em agosto o mesmo ritmo de julho e cresceu 15% sobre agosto de 2007. “Os meses de julho e agosto foram uma agradável surpresa, geralmente são meses mais fracos.” Fischer diz que não há uma razão única para o bom ritmo de encomendas, mas fatores como inverno com boa saída podem ter animado o lojista para fazer as encomendas de verão.

As boas vendas do inverno também são uma das razões apontadas pela Rovitex, do setor têxtil catarinense, para o aumento de 15% nas vendas no ano, percentual que subiu para 17% em agosto, sempre na comparação com 2007. O varejista chegou ao verão capitalizado, avalia Dayana Rambo, diretora de marketing da empresa.

Embora o diretor da Lepper esteja preocupado com o freio que a alta dos juros possa ocasionar nas encomendas, ainda não vê sinais de que isso esteja ocorrendo. A empresa entrou setembro com cerca de 40% da sua produção vendida. “Há bons sinais, estamos confortáveis”, diz. No acumulado do ano, a Lepper apresenta crescimento de 10% nas vendas e espera fechar o ano com um faturamento até 15% maior do que o de 2007.

A Lupo registrou queda de 21% nas vendas de agosto, em comparação com julho. Valquírio Cabral Júnior, diretor-comercial da empresa, disse que a queda nesse nível é normal para o período, devido ao fim do inverno. “Não credito esse resultado a uma desaceleração da demanda”, afirmou Cabral. Até agosto, a produção cresceu 23% e a previsão é que cresça menos a partir de setembro, por conta da base de comparação mais alta e da desaceleração da demanda. Ele prevê para o ano crescimento de até 20% nas vendas.

Para o diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel, o setor deve ter encerrado agosto com crescimento em torno de 1,5% em relação a agosto de 2007, mantendo estabilidade em relação aos dados de julho. “A estatística para o ano está dada”, diz Pimentel, afirmando que não espera mudanças bruscas da trajetória até o fim do ano.

No setor de calçados, a demanda interna aquecida abre espaço para a alta das vendas de itens de maior valor agregado. A Miucha, de Três Coroas (RS), ampliou em 22% a receita apurada de janeiro a agosto, para quase R$ 30 milhões. O desempenho está cerca de dois pontos percentuais acima do previsto, disse o diretor-comercial e de marketing, Eduardo Santos. Para o ano, ele prevê expansão de 27% sobre os R$ 35 milhões obtidos em 2007, quando a empresa cresceu 10%. Já a produção física deve empatar, na faixa de 1,2 milhão de pares de calçados femininos. “Há dois anos estamos trabalhando na mudança do estilo e no aumento do valor agregado dos produtos da marca”, disse Santos.

A mudança incluiu a substituição das grandes redes e magazines por lojas especializadas como principal canal de distribuição. Segundo o diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein, se no acumulado do ano o setor repetir o faturamento de 2007 (de US$ 1,91 bilhão) “será motivo para comemoração”.

As encomendas da Henn, empresa de móveis localizada no Oeste catarinense, aumentaram 12% em agosto na comparação com julho e 6% em relação sobre agosto de 2007. O presidente da empresa, Bruno Henn, diz que historicamente o segundo semestre sempre é melhor e a empresa lançou 20% a mais de produtos no mercado interno. Focada na produção de dormitórios, a Henn prevê fechar o ano com alta de 12% na receita. Até agora, a empresa cresceu 9%.

Os fabricantes de porcelanas e cerâmicas de mesa de Campo Largo, na região metropolitana de Curitiba, estão otimistas. O presidente do Sindilouça-PR, José Canisso, contou que o setor está crescendo e recuperando o espaço perdido em anos anteriores, apesar das dificuldades com o preço do gás e da concorrência com os chineses.

A expectativa para 2008 é de alta de 20%. “Não sentimos queda e devemos chegar a dezembro com resultado dentro da previsão”, diz Canisso. De acordo com o executivo, em 2007 foram vendidas na cidade 120 milhões de peças para mesa, volume que deve somar 150 milhões de peças em 2008.

Na Germer Porcelanas Finas, uma das maiores empresas do segmento no país, o crescimento no primeiro semestre foi de 6% em relação a igual período de 2007, que já havia sido considerado bom. Segundo o diretor-industrial, Márcio Cruzara, o segundo semestre normalmente é melhor e ele também espera aumento de 6% nas vendas, embora em agosto o incremento tenha sido de cerca de 4%, o que ainda não é visto como sinal de desaceleração. Apostando em bons negócios, a Germer está investindo em um novo forno, a gás natural, que ampliará sua capacidade de produção em 40% e deverá entrar em atividade em meados de 2009.

No segmento de eletroeletrônicos e eletrodomésticos, que registrou queda na produção em julho segundo dados do governo (ver abaixo) os relatos são de recuperação do ritmo de expansão da demanda em agosto. O Grupo SEB do Brasil elevou a produção de itens da marca Arno entre 2% e 3%, mantendo o nível de crescimento obtido no primeiro semestre, disse o diretor-financeiro para América Latina, Paulo Feijó. “Ainda não se sente uma redução na demanda. Agosto ficou um pouco abaixo do previsto, mas a expectativa é fechar o terceiro trimestre com mesmo ritmo de crescimento”, disse Feijó. A expectativa da empresa, baseada nos pedidos em carteira de produtos de ventilação, é de que as vendas no quarto trimestre cresçam no mesmo ritmo de 2007, encerrando o ano com alta de 10% na produção.

A Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), que reúne 411 indústrias, prevê para o segundo semestre uma demanda tão aquecida como no primeiro semestre, quando as vendas cresceram 31,46% em receita, para US$ 15 bilhões. A causa, disse o coordenador-geral de estudos econômicos e empresariais da Suframa, José Alberto da Costa Machado, é a transição da transmissão de sinal analógico para o digital, que estimula as vendas de TVs de LCD e plasma. No primeiro semestre, as vendas de televisores de LCD cresceram 249%, para 913 mil unidades; aparelhos com tela de plasma tiveram saída 48,2% maior, totalizando 121, 8 mil unidades. “Todas as empresas trabalham com expectativa de crescimento da demanda no segundo semestre nos mercados interno e externo.”

No setor de aços planos, houve redução nas vendas em agosto por fatores sazonais, mas sem sinais de desaceleração, disse o presidente da distribuidora Rio Negro, Carlos Loureiro. Ele estima que as vendas tenham se situado entre 320 mil e 330 mil toneladas, 20% inferiores a ao volume do mês anterior. “Em julho houve antecipação das compras em função do reajuste de preços”, observa. Loureiro pondera que a média dos dois meses fica em 370 mil toneladas, acima da média mensal dos meses anteriores (342 mil toneladas). Nos próximos meses a taxa de crescimento será menor, devido à base alta de comparação de 2007. Para o ano, ele prevê aumento de 16%, inferior aos 27% de janeiro a julho.

A Eternit é uma das indústrias que têm se beneficiado do cenário favorável da construção civil. O presidente da empresa, Élio Martins, afirmou que opera com o máximo da capacidade instalada há três trimestres. Em agosto, a produção cresceu entre 20% e 25% e, no ano, as vendas da Eternit ao mercado interno cresceram 25,2% e da Sama, 27%. “As compras ainda estão abaixo do esperado. As construtoras ainda não cumpriram o cronograma no ritmo que previam. Se isso acontecer no fim do ano, haverá falta de produto”, afirmou. Ele espera para o ano crescimento de 10% a 15%, resultado inferior ao observado até agosto por conta dos fortes resultados do quarto trimestre de 2007.