Samantha Maia, de São Paulo
A afirmação do ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, de que o Brasil poderá assumir metas obrigatórias de redução nas emissões de gases do efeito estufa na segunda fase do Protocolo de Kyoto gerou dúvidas na indústria paulista. Uma das questões levantadas pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) foi como ficaria a geração de crédito de carbono por projetos brasileiros, hoje vendidos a países que precisam cumprir metas. Segundo a regra em vigor, apenas a redução de emissão de carbono acima da meta estabelecida gera crédito.
“Perder esse incentivo não seria bom para o Brasil, é uma questão a ser negociada, mas o governo não detalhou sua estratégia”, diz Nelson Reis, diretor do Departamento de Meio Ambiente da Fiesp. Segundo ele, o governo deve precisar o seu plano, pois a discussão não foi levada ao setor produtivo. “Eu acho que a postura do Minc não é errada, tem que haver uma política nacional de mudanças climáticas e a redução de emissão de carbono é irreversível. No entanto, gostaríamos de participar para que cada setor pudesse mostrar o que pode fazer”, diz.
Segundo Reis, para se comprometer com metas, o país precisa ter um inventário sobre as suas emissões. “Tem que haver clareza onde é possível ter mais ganhos e aí sim definir metas.” O governo acenou que a meta de redução de 20% da emissão de gás de efeito estufa de 2012 a 2020 poderia ser atingida com a redução em um terço do índice atual de desmatamento da floresta amazônica. Reis diz que não seria viável aplicar a mesma meta apenas ao setor industrial. “É uma meta alta para um setor que já está se esforçando, e por isso partiria de uma base de emissão mais baixa”, diz. Segundo ele, o setor químico, por exemplo, conseguiu diminuir em 7% sua emissão de carbono de 2001 a 2006 com substituição de combustíveis e ganhos de eficiência.
Dessa forma, para que a indústria pudesse se comprometer com metas, Reis diz que o governo também precisaria dar garantias como a certeza de suprimento de gás natural. “Para reduzir a poluição, muitas empresas substituíram o óleo combustível pelo gás natural. O governo hoje prioriza o abastecimento das usinas termelétricas em caso de falta de gás. Nós precisamos ter condições para nos comprometer.”
Segundo dados do governo de São Paulo, o Estado responde sozinho por um terço das emissões de gás carbônico no país, sendo que as indústrias responderam em 2006 por 65% das emissões de dióxido de carbono no Estado. O governo paulista trabalha um projeto de lei para obrigar as empresas a reduzirem suas emissões.