Setor quer revisão da Política de Desenvolvimento Produtivo, considerada defasada para o período pós-crise
Marcelo Rehder
A crise financeira global dizimou as chances de sucesso das metas da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), que já eram consideradas difíceis pela indústria. Lançada com pompa pelo governo em maio do ano passado, quando a economia crescia num ritmo superior a 6% ao ano, a PDP ficou desatualizada. Representantes do setor produtivo pressionam agora o governo para que a política seja revista à luz do pós-crise.
“A prioridade é incentivar o investimento na inovação tecnológica e modernização da indústria nacional”, defende o diretor do Departamento de Produtividade e Tecnologia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), José Ricardo Roriz Coelho.
Além de fortalecer a competitividade do produto brasileiro, a medida estimula o setor de bens de capital, estratégico para a economia do País, cuja produção desabou com a crise, diz.
Para o empresário Mario Bernardini, assessor econômico da diretoria da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), até agora o governo agiu sem plano estratégico. “Incentivou mais o consumo, o que no curto prazo dá resultado, mas no longo prazo é ineficiente”, observa. “Isso deveria ter sido feito, mas com um objetivo na frente.”
Para exemplificar, Bernardini faz uma comparação com a China. Em função da crise, o governo chinês priorizou ampliar os investimentos em ferrovias e infraestrutura. “Eles vão sair da crise mais competitivos do que entraram. Nós, tirando o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) de carros e eletrodomésticos, vamos sair da crise antes, porém não sairemos mais competitivos.”
O incentivo aos investimentos pleiteado pela indústria se resume em desoneração tributária. O problema é que o governo já disse que esgotou sua capacidade de reduzir impostos. Um dos argumentos mais usados pelo setor para justificar o pleito é o fato de o Brasil ser hoje um dos poucos países a tributar investimento. Tanto que não causou surpresa para a diretoria da Fiesp os resultados de uma pesquisa da entidade sobre intenção de investir em 2009 mostrando que a carga tributária é apontada por 64% dos entrevistados como o maior obstáculo ao investimento.
Para os industriais, dificilmente a taxa de investimento atingirá 21% do Produto Interno Bruto (PIB) ou haverá crescimento de 10% no número de micro e pequenas empresas exportadoras, como previam as metas da PDP para 2010. Também é improvável que os empresários elevem para 0,65% do PIB os investimentos em pesquisa e desenvolvimento.
“A única meta com condições reais de ser atingida é a ampliação do share das exportações brasileiras para 1,25%, já que as exportações mundiais caíram mais que as nossas, graças à demanda por commodities”, diz o diretor da Fiesp.
Se dependesse só do aumento das exportações para US$ 208,8 bilhões, como previa a PDP, a meta não seria alcançada, frisa. Segundo Roriz Coelho, seria necessário que as vendas externas brasileiras crescessem 31,9% em 2010, fato que não ocorreu nenhuma vez na história recente do País, e se torna mais difícil diante das perspectivas do comércio mundial.
“Numa revisão da PDP, teríamos de ter uma política de exportação de manufaturados muito mais forte e agressiva do que a atual”, diz o assessor econômico do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Julio Sergio Gomes de Almeida. Para ele, as metas são “muito tímidas”.
“Vamos precisar de um arrojo muito maior se quisermos continuar a ter alguma expressão no comércio mundial de manufaturados, coisa que hoje está em xeque”, diz Gomes de Almeida. Ele ainda cita que o Brasil perdeu 50% da exportação de automóveis, 50% de aço, 60% de motores elétricos e 40% de calçados. “O Brasil está ameaçado na sua exportação de manufaturados como nunca esteve antes.”
A Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) entregou ao governo propostas de política industrial para aumentar a participação das empresas do setor dos atuais 4,3% do PIB para 7% em 2020.