Conjuntura: Em 12 meses, queda foi de 3,9%, mas eficiência do setor fabril cresceu 2,4% em maio sobre abril
Cibelle Bouças, de São Paulo
A MWM International viu sua produção cair subitamente de uma média mensal de 12,5 mil motores para até 7,5 mil unidades ao mês, como efeito do agravamento da crise externa e da queda da demanda por veículos. A perda de até 40% na produção mensal obrigou a empresa a fazer ajustes. À semelhança do que foi feito por outras 80 empresas de autopeças, a MWM decidiu reduzir a jornada de trabalho e os salários para adequar os custos com folha à demanda menor, preservando empregos.
Entre fevereiro e abril, a empresa reduziu a jornada dos 3 mil funcionários das unidades de São Paulo, Canoas (RS) e Jesús María (na província argentina de Córdoba) em 20% e os salários em 15,75%. Pelo acordo firmado com os funcionários, a empresa comprometeu-se a restituir o valor dos salários reduzidos quando a produção mensal voltasse a 10,8 mil motores no prazo de seis meses consecutivos. O diretor de marketing e vendas da MWM, Michael Ketterer, diz que com a recuperação da demanda por veículos no mercado interno a produção já se aproxima de 9,5 mil unidades ao mês.
No primeiro semestre, a MWM reduziu a produção em 30% e baixou os custos com folha em 8%. Como resultado, a empresa teve uma perda de produtividade próxima a 24% em comparação com o segundo semestre do ano passado. “A previsão para o segundo semestre é de números mais animadores, mas no ano a produção ainda terá uma redução de 23,4% em volume, com produção no ano de 108 mil motores”, afirma Ketterer. Para o segundo semestre ele prevê expansão na produção de 25,5% em relação aos seis primeiros meses do ano. O nível atingido em 2007 (122 a 125 mil motores ao ano) só voltará a se repetir no ano que vem. Apesar dos esforços da empresa, a MWM, assim como a maioria das indústrias do país, perdeu eficiência produtiva com a crise.
Cálculos da Tendências Consultoria Integrada, a partir de dados de emprego e salários levantados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam que a produtividade na indústria apresentou melhora no segmento automotivo ao longo do semestre e está próxima da normalidade. O segmento de fabricação de meios de transporte, no qual está inserido o setor de autopeças, acumula queda de 2,9% na produtividade, medida pela relação entre produção e número de horas pagas.
No total da indústria, a perda ainda é maior. A produção da indústria de transformação registra queda de 5,1% nos 12 meses encerrados em maio, enquanto o total de horas pagas sofreu redução de 1,53% no mesmo intervalo. Como resultado desse desempenho, a produtividade na indústria acumulou queda de 3,9%, segundo cálculo da Tendências.
As maiores quedas de produtividade ocorreram nos setores de máquinas e aparelhos elétricos, eletrônicos, de precisão e de comunicações (15,8%), metalurgia básica (14,5%), máquinas e equipamentos (11,7%), coque, refino de petróleo, combustíveis nucleares e álcool (9%) e produtos de metal (7,6%).
A analista da Tendências Ariadne Vitoriano observa que a produtividade na indústria tem aumentado mensalmente desde janeiro, mas ainda é inferior ao período pré-crise. Em maio, segundo cálculo da consultoria, a produtividade aumentou 2,4% em relação a abril, com ajuste sazonal. Em comparação com dezembro, diz, a produtividade aumentou 13,1%, mas esse resultado é insuficiente para compensar a queda de 17% ocorrida no quarto trimestre de 2008. “O corte na produção industrial foi mais forte que nas horas pagas. No primeiro semestre, a recuperação em produção também foi mais intensa que o aumento dos gastos em folha, o que explica a melhora na produtividade”, afirma.
“A produtividade ideal é a que ocorre com aumento da produção mais intensa que o aumento dos salários. O que ocorre agora é um ajuste”, diz Fernando Sarti, professor do Instituto de Economia da Unicamp. Ele observa que a massa real de salários cresceu no primeiro semestre e permitiu que a demanda por bens de consumo não duráveis se mantivesse aquecida no mercado interno. “Setores direcionados ao mercado interno tiveram recuperação mais rápida no primeiro semestre”, avalia Sarti.
De acordo com dados do IBGE, dentre os 17 setores da indústria da transformação, 4 apresentaram aumento da produtividade no acumulado de 12 meses. A indústria do fumo teve expansão de 9,8%, seguida por vestuário (3,8%), alimentos e bebidas (0,4%) e têxtil (0,1%).
Na contramão da média da indústria, a Lupo contratou no primeiro semestre 250 trabalhadores, ampliando seu quadro de funcionários em 7%. Nesse período, diz o diretor comercial, Valquírio Cabral, a produção cresceu 22%. A produtividade da empresa teve incremento pouco superior a 14% no período. “No inverno, alguns setores operaram com horas extras, porque a demanda estava intensa”, acrescenta Cabral. A empresa investiu R$ 17 milhões na reforma da fábrica de Araraquara (SP) para ampliar a sua capacidade produtiva em 7%. Em função da demanda aquecida, a empresa antecipou a compra de 50 máquinas para a nova linha de produção, todas importadas da Itália. “As exportações representam 5% das vendas. Como o foco é o mercado interno, a empresa não sofreu perdas com a crise internacional”, diz Cabral.
Sarti, da Unicamp, salienta que no, primeiro semestre, os setores mais dependentes da massa de salários tiveram recuperação mais significativa. No segundo semestre, os setores mais dependentes de crédito terão aceleração. Dados do Banco Central revelam que a concessão de crédito à pessoa física acumulou aumento de 17,4% no trimestre encerrado em maio. No ano, a expansão foi de 5,8%.
“Automóveis, construção e seus insumos tiveram uma ajuda do IPI reduzido, mas agora terão as vendas estimuladas pela recuperação da oferta de crédito. Bens intermediários serão submetidos à competição com as importações, por conta do dólar fraco. O setor de bens de capital continua fragilizado por conta das decisões de investimento ainda tímidas. A variável chave ainda será o consumo”, diz Sarti.
Ariadne, da Tendências, observa que a recuperação do consumo se dará sem pressões inflacionárias. Pelos cálculos da consultoria, o custo unitário do trabalho – medida utilizada para verificar o risco de pressões inflacionárias – apresentou elevação de 0,7% em maio, contra abril, com ajuste sazonal. Em 12 meses, o custo subiu 10,3%.