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Índia luta para conter inflação e seguir crescendo

Valor Econômico

Por Alex Frangos | The Wall Street Journal, de Nova Déli

Para muitas nações emergentes que se vangloriam com taxas invejáveis de crescimento, um aviso de cautela vem da Índia, que está pagando o preço por deixar a inflação contaminar a economia.

O banco central da Índia se reúne nesta semana para decidir se mais uma vez eleva a taxa básica de juros – agora em 8% – no contínuo cabo-de-guerra entre a alta da inflação e a queda da expansão econômica.

O problema da inflação na Índia, onde se aproxima dos dois dígitos, está acontecendo num nível menor em outras economias em desenvolvimento. Em meio ao enfraquecimento da demanda do Ocidente por produtos dos mercados emergentes, o crescimento está se desacelerando em países como China, Coreia do Sul e Brasil, onde preços têm sido puxados para cima pela escassez de alimentos, demanda dos consumidores e reajustes de salários.

Esses fatores colocam os bancos centrais numa situação difícil. Autoridades monetárias podem aumentar juros para combater a inflação, mas correm o risco de empurrar a economia para uma séria desaceleração. Se não apertam a política monetária, a inflação pode sair do controle, exigindo aumentos de juros mais fortes no futuro.

O Brasil se mostrou mais preocupado com o desaquecimento da economia do que com a inflação, quando o Banco Central cortou as taxas de juros no mês passado, mesmo com a inflação se acelerando para 7,2% nos 12 meses até agosto, uma combinação perigosa num país com histórico de hiperinflação.

O governo brasileiro está agindo sob a premissa de que a política monetária precisa de tempo para fazer efeito. Uma vez que os cortes dos juros tenham impacto sobre a economia, segundo o raciocínio do BC, um crescimento mais lento terá amenizado a inflação. Dados sobre as tendências da atividade econômica, tais como pesquisas sobre a produção industrial e encomendas de exportação, apontam para um desaquecimento, e o Banco Central acredita que reduzir as taxas agora ajudará a evitar que a desaceleração se torne mais acentuada por vários meses.

A China e a Coreia do Sul passam por situações semelhantes. Os índices que medem a atividade manufatureira caíram para os menores níveis desde a crise financeira e indicam que um desaquecimento está a caminho. Ainda assim, a inflação na China permanece em um nível altamente desconfortável. Na sexta-feira, dados do governo chinês mostraram que o índice de preços ao consumidor de 12 meses havia subido 6,2% em agosto, menos que os 6,5% de julho, mas não muito. Na Coreia do Sul, os preços ao consumidor mostraram alta de 5,3% em agosto na taxa anual, o ritmo mais forte em três anos. O banco central sul-coreano deixou os juros inalterados semana passada.

Na Índia, 11 aumentos das taxas de juros em 18 meses pesaram sobre a décima maior economia do mundo, com a perda da confiança dos empresários e o crescimento se desacelerando por cinco trimestres seguidos. Mas as altas não diminuíram a inflação.

Os aumentos dos preços despertaram o receio de que a inflação esteja infiltrada na economia do país. Isso indica que será necessário um esforço ainda maior, mesmo com a recuperação global mais lenta.

Pode se argumentar que a situação da Índia é pior do que a maioria, o que põe o país numa posição de ter de elevar os juros quando em circunstâncias normais a receita seria manter as taxas ou mesmo cortá-las para estimular o crescimento.

Existem dúvidas sobre a qualidade das medidas de inflação da Índia. O índice de preços no atacado, que é o mais acompanhado, apesar de ter caído um pouco em julho, está na casa de 10% há vários meses, duas vezes acima do nível considerado saudável por economistas e políticos. Mais preocupantes, as expectativas de inflação – ou a tendência de preços entre consumidores e empresários – estão acima de 12%. Nesse nível, alertam economistas, as pessoas mudam seus padrões de comportamento e gastam dinheiro mais rapidamente, porque acreditam que os preços vão continuar a subir. Esse salto nos gastos, por sua vez, estimula ainda mais a inflação, alimentando um ciclo que pode ser quebrado apenas por um desaquecimento da atividade econômica. Isso é o que vários governos e planos econômicos tentaram consertar na economia brasileira nos anos 80 e 90, e que Paul Volcker, ex-presidente do banco central dos Estados Unidos, teve que arrumar na economia americana no começo da década de 80.

Existem muitas teorias sobre o que teria causado o problema da Índia. Alguns argumentam que as safras ruins fizeram com que os preços dos alimentos disparassem. Outros citam as consequências inesperadas do aumento do número de crianças nas escolas rurais, o que reduziu a oferta de mão-de-obra infantil, levando a aumentos de salários. A alta dos preços pressiona empresários e o governo por reajustes. E há quem culpe o banco central.

“Existe a desculpa, ´ah, tivemos uma safra ruim´ ou ´houve um choque global dos preços das commodities´ ou ´ah, a culpa é toda do petróleo´. Acho que isso é um grande erro. Este tem sido um problema persistente e reflete o fracasso da política macroeconômica”, disse Ajay Shah, economista do Instituto Nacional de Finanças e Políticas Públicas, sediado em Nova Déli.

A inflação tem se mantido acima da meta informal do governo desde 2006, afirmou o economista, bem antes do salto dos preços dos alimentos.

Shah disse que Duvvuri Subbarao, presidente do banco central indiano, tem prejudicado os esforços de combate à inflação ao questionar se os aumentos de juros realmente funcionam. Seis dias depois de subir as taxas em maio, por exemplo, Subbarao disse que a política monetária é um “instrumento ineficaz para controlar a inflação vinda das pressões da oferta”.

“Não é realista, sob essas circunstâncias, esperar que o banco central estabeleça uma meta de inflação de curto prazo”, afirmou.

O banco central indiano adotou uma postura mais agressiva nos últimos meses, surpreendendo os mercados com uma série de aumentos dos juros de meio ponto percentual. Num discurso em 3 de setembro, um diretor da instituição, Deepak Mohanty, reconheceu que a inflação havia se espalhado pela economia de forma “generalizada”, mas estimou que as altas dos juros começariam a reduzir a inflação no começo de 2012.

A economia da Índia está pagando o preço. A expansão das vendas de automóveis, até recentemente em forte alta, se desacelerou. Políticos que contavam com um crescimento anual de 10% do PIB para competir com a rival China agora estão se confrontando com uma taxa de 8%.

Embora seja um ritmo robusto em termos globais, é muito pouco para cumprir as promessas de redução da pobreza e criação de empregos dentro do país.

“É preciso enfrentar um declínio doloroso das condições do ciclo de negócios para conseguir exorcizar esta inflação”, disse Shah.

Outros mercados emergentes devem ficar atentos.