Diário do Grande ABC
Pedro Souza
A enxurrada de peças importadas na cadeia produtiva do setor automotivo contribuiu em grande parte para a queda real de 4,78% na renda familiar do Grande ABC, de R$ 3.516 para R$ 3.348 no período de 12 meses. Essa invasão, protagonizada por produtos chineses vendidos a preços muito baixos, tira a competitividade das empresas da região que fornecem às montadoras e seus sistemistas. A consequência foi a redução dos custos para manter as companhias vivas.
Nessa estratégia de menores gastos, entram os cortes de funcionários e a contratação de mão de obra mais barata. Com isso, a remuneração média do trabalhador da indústria na região caiu 9,04%, descontada a inflação, em fevereiro contra igual período de 2011. Passou de R$ 2.230 para R$ 2.028.
A participação da força de trabalho da indústria na renda familiar média do Grande ABC é relevante, tendo em vista que, aproximadamente, 32% dos empregos formais nas sete cidades estão no setor. E grande parte é formada por micro, pequenas e médias empresas – metalúrgicas que estão na cadeia automotiva.
As informações sobre a variação da renda das famílias e dos industriários é da mais recente Pesquisa Socioeconômica do Inpes/USCS (Instituto de Pesquisas da Universidade Municipal de São Caetano).
O estudo revela mais um ponto que corrobora para a influência da indústria no decréscimo da renda familiar. Santo André, São Bernardo, Diadema e Mauá são as quatro cidades que mais concentram industriários e também as únicas da região em que a remuneração média dos trabalhadores chefes de família caiu, na comparação de fevereiro com o segundo mês de 2011.
Diretor titular do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de Santo André, Emanuel José Viveiros Teixeira opinou que atualmente o cenário não é muito positivo para as empresas, normalmente pequenas e médias, que atendem às montadoras e seus sistemistas. “A cadeia tem sido forçada a oferecer produtos de target internacional (equivalência à produção no Exterior)”, pontuou. Portanto, para que elas ofereçam produtos paralelos e com preços competitivos com os chineses, por exemplo, é necessário reduzir os custos “de toda a ordem”, conclui Teixeira, sem citar especificamente a redução do efetivo.
NÚMEROS – Os dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do MTE (Ministério do Trabalho e Emprego), ilustram o tamanho da rotatividade na indústria da transformação da região.
O setor tinha 261.802 empregados formais no fim de 2010 e, até fevereiro, as companhias demitiram 76.033, ou seja, 29% do total. Prova da rotatividade é que, no mesmo período, foram admitidos 76.948 trabalhadores.
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá, Cícero Firmino, o Martinha, disse que a alta rotatividade é o fator que faz a conta fechar. “Nós conseguimos nos últimos anos acordos salariais para reajustes acima da inflação. Portanto, só pode ser a troca de funcionários”, destacou.
Teixeira não contraria a tese de Martinha. “O dissídio na indústria da região tem sido repassado sempre ao lado ou acima da inflação, como no ano passado, com reajustes entre 5% e 6%.”
IMPORTAÇÕES – Junto ao impacto das importações, a desaceleração da atividade econômica no País dá mais força à perda do poder de compra dos trabalhadores da indústria. “Tivemos desaquecimento geral no mercado de trabalho. Não intensamente, mas uma resfriada”, avaliou o professor de Economia Sandro Maskio, que ministra aulas na Universidade Metodista de São Paulo.