Assis Moreira, de Genebra – Valor Econômico
O aumento das importações brasileiras ocorre num cenário de real valorizado, que barateia as importações e dificulta as exportações
O Brasil lidera a corrida às importações entre os grandes países do comércio internacional. Dados da Organização Mundial do Comércio (OMC) mostram que as compras externas brasileiras cresceram 56% no segundo trimestre em relação ao mesmo período do ano passado. O aumento superou o da China, que ampliou suas importações em 44% no período. Enquanto isso, as exportações chinesas cresceram 41% e as brasileiras, 29%.
O aumento das importações brasileiras ocorre num cenário de real valorizado – ontem a cotação do dólar fechou pela primeira vez abaixo de R$ 1,75 desde maio -, que barateia as importações e dificulta as exportações. Na China, o yuan continua subvalorizado, o que torna as mercadorias chinesas mais baratas.
Entre abril e junho, as exportações globais subiram 27% e as importações, 25%. As exportações tinham diminuído 23% em valor em 2009, alcançando US$ 12,1 trilhões. O aumento do comércio mundial no segundo trimestre refletiu o maior preço das commodities e forte dinamismo nas trocas por parte das economias emergentes. Ásia, África e o Oriente Médio aumentaram seu comércio entre 35% e 45% em valor. A alta nos EUA foi mais modesta. E a União Europeia fez mais comércio com parceiros de fora do que entre seus 27 países-membros. O principal ganhador continua sendo a Alemanha, beneficiando-se do euro desvalorizado.
Normalmente, o comércio mundial se contrai ou se expande mais rapidamente do que a economia internacional. As trocas globais tinham declinado em abril e maio, mas voltaram a crescer em junho, mantendo a tendência do primeiro trimestre e mostrando uma tentativa de recuperação da economia global.
A forte expansão das importações brasileiras mostrada pela OMC no segundo trimestre mantém-se no terceiro. Ontem, em Brasília, o Ministério do Desenvolvimento informou que, de janeiro a agosto, as compras externas cresceram 45,7% e atingiram US$ 114,4 bilhões. Houve superávit de US$ 11,7 bilhões, mas esse valor é 41% inferior ao do mesmo período de 2009. O secretário de Comércio Exterior do MDIC, Welber Barral, disse que o Brasil vive um período de “plata dulce”, porque o fator cambial tem tornado as importações muito baratas.