Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Guerra fiscal acelera fuga de indústrias do Estado

 


Em dez anos, fatia de São Paulo no PIB industrial recuou de 49% para 41%

 

Marcelo Rehder

 

Estado mais industrializado do Brasil, São Paulo perde espaço no Produto Interno Bruto (PIB) industrial. Benefícios fiscais oferecidos por outros Estados provocaram uma fuga de empresas de São Paulo, que passou a concentrar fábricas mais atrasadas tecnologicamente, onde incidem os maiores custos de produção. Em apenas uma década, a participação da indústria paulista no valor de transformação industrial caiu 8 pontos porcentuais: de 49%, em 1988, para 41%, no ano passado.

 

As informações são de levantamento feito por José Ricardo Roriz Coelho, diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

 

“Os produtos de maior valor agregado, que antigamente eram feitos aqui, agora migram para Estados que oferecem vantagens fiscais”, diz Roriz Coelho. “São Paulo fica com a sede de empresas e áreas de marketing e design, entre outras, além de fábricas antigas, com tecnologia defasada”.

 

Para o economista Júlio Sérgio Gomes de Almeida, consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), houve uma desconcentração industrial, que só não foi totalmente “salutar” porque os motivos que o desencadearam não são tão “nobres”.

 

“Não sou contra incentivo fiscal para desconcentrar a indústrias, mas sob o guarda-chuva de uma guerra fiscal eu acho que é um jogo em que os Estados perdem arrecadação desnecessariamente.”

 

Outro motivo que fez São Paulo perder participação na indústria brasileira foi o baixo crescimento econômico ocorrido entre 1998 e 2006, “Isso levou as empresas a uma busca de maior produtividade, mas pelo caminho não tão bom da guerra fiscal”, diz Almeida.

 

Embora abrigue as principais universidades e centros de tecnologia do País, São Paulo também perde a corrida por maior produtividade. Segundo a Fiesp, no espaço de dez anos, a produtividade paulista caiu 24%, bem mais que a dos demais Estados (-7%), o que fez a diferença que havia entre ambos, de 41%, cair para apenas 14% em 2008.”O pessoal ocupado nas nossas fábricas aumentou 33%, enquanto o valor de transformação industrial cresceu só 1,1%, o que significa perda de produtividade”, explica Roriz Coelho. “Nos demais Estados, o número de trabalhadores cresceu 56,3%, porém com aumento de 45,6% no valor agregado ao produto.”

 

Além disso, o custo da mão de obra em São Paulo é 53% maior que nos demais Estados. Contudo, essa diferença já foi maior, de 67%, em 1998.

 

O fato é que, entre 1998 e 2007, o Estado de São Paulo perdeu 2.238 indústrias, que fecharam as portas ou se transferiram para outros Estados. Em compensação, foram abertas 14.585 indústrias no mesmo período. Ou seja, para cada fechamento ocorrem sete aberturas de empresas do setor industrial em São Paulo. No conjunto dos demais Estados, no entanto, a relação é de 417 aberturas para cada fechamento de indústria.

 

“Temos um pessoal mais caro e, mesmo assim, agregamos menos valor ao produto que os outros Estados. Isso é tecnologia, ou seja, eles trabalham com máquinas e equipamentos melhores que os nossos, e que, de certa forma, são financiados por incentivos fiscais”, afirma Roriz Coelho.

 

Para ele, um exemplo claro disso é o da General Motors (GM), que foi para o Rio Grande do Sul e vai investir R$ 2 bilhões na ampliação da fábrica em Gravataí. “É a melhor fábrica deles hoje, a mais produtiva, a que tem o pessoal melhor qualificado, enquanto São Paulo fica com a fábrica antiga.”A montadora negociou incentivos fiscais com o governo gaúcho.