PORTO ALEGRE – Enquanto cerca de 4 mil pessoas participavam em Porto Alegre da primeira manifestação do movimento “Grito de Alerta” contra a desindustrialização do país, organizado por entidades empresariais e de trabalhadores, o empresário Jorge Gerdau Johannpeter, presidente da Câmara de Gestão do governo federal, reforçou nesta segunda-feira o coro dos descontentes com a falta de competitividade da economia brasileira.
“A competitividade intramuros das empresas brasileiras é boa, mas no quadro geral (da economia) três ou quatro temas são prioritários”, disse o empresário, no fim de uma reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do Estado (CDES-RS) no Palácio Piratini, sede do governo gaúcho. Ao mesmo tempo, do lado de fora, os participantes do “Grito de Alerta” protestavam contra os estragos provocados pelos juros altos, pelo real valorizado, pela alta carga tributária no país e pela “invasão” de produtos importados, sobretudo da China.
Gerdau: críticas à “guerra dos portos”
Para Johannpeter, o país precisa de maiores investimentos em educação para aumentar a produtividade dos trabalhadores, de uma reforma tributária para eliminar os impostos em cascata, da redução dos juros e dos custos de logística. Ele defendeu ainda o fim dos incentivos fiscais às importações concedidos por alguns Estados. “Não posso aceitar que os importados paguem menos impostos do que os produtos fabricados no Brasil”, afirmou o empresário, que classificou a chamada “guerra dos portos” de “artifício ilegal”.
Segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas (Abimaq), Luiz Aubert Neto, a manifestação desta segunda-feira em Porto Alegre é a primeira das seis já agendadas pelo movimento “Grito de Alerta”. O protesto vai se repetir na quarta-feira em Itajaí (SC); dia 3 de abril em Curitiba; dia 4 em São Paulo; dia 13 em Manaus; e dia 10 de maio em Brasília. Também será realizado em Belo Horizonte, Salvador e Recife, ainda sem datas definidas.
“Cansei de fazer estudos e entregar para o governo”, disse Aubert Neto, para quem medidas temporárias como a redução de impostos sobre alguns produtos e o aumento da tributação sobre entrada de capital externo são “puxadinhos” que geram “insegurança” no setor. Segundo ele, a pressão promovida pelas entidades empresariais e de trabalhadores tem como objetivo “ajudar” o governo a promover as reformas necessárias e a estabelecer uma política permanente de apoio à indústria nacional.
Sob chuva fraca, o presidente da Abimaq participou da manifestação de hoje sobre um caminhão de som, ao lado de sindicalistas como Paulo Pereira da Silva, deputado federal pelo PDT de São Paulo e presidente da Força Sindical, e Quintino Severo, secretário geral da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Também participaram dirigentes da Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB), da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB) e da Nova Central Sindical dos Trabalhadores (NCST).
Pelo lado dos empresários, o ato em Porto Alegre reuniu representantes de entidades como o Sindicato das Indústrias de Máquinas Agrícolas do Estado e da seção local da Abimaq, mas o “Grito de Alerta” também é referendado por instituições como as federações das indústrias de São Paulo (Fiesp) e Minas Gerais (Fiemg) e as associações das indústrias eletroeletrônicas (Abinee) e químicas (Abiquim).
A manifestação incluiu uma passeata de cerca de um quilômetro desde o largo Glênio Peres e o Palácio Piratini, reforçada por funcionários de empresas como General Motors, Stara (fabricante de implementos agrícolas), Masal (guindastes) e AGS (cilindros hidráulicos). No encerramento, após os discursos em frente ao Palácio Piratini, representantes do movimento entregaram uma pauta de reivindicações do setor ao governador Tarso Genro (PT), incluindo desde a redução dos juros, a desoneração dos investimentos, medidas de defesa comercial e o fim dos incentivos às importações. Em Brasília, eles tentarão entregar o mesmo documento para a presidente Dilma Rousseff.
(Sérgio Ruck Bueno | Valor)