Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Greve por salário paralisa montadoras

Na segunda-feira, 8 mil metalúrgicos do Paraná que trabalham nas montadoras Volkswagen, Renault e Nissan fizeram uma paralisação de 24 horas em resposta à falta de uma nova contraproposta de reajuste salarial pelas empresas, prazo que foi estendido em 48 horas e, na ausência de uma nova oferta das montadoras, será convertida em greve por tempo indeterminado. Ontem, no Estado de São Paulo, 14,2 mil metalúrgicos fizeram paralisação de 24 horas em cinco fábricas, para forçar as indústrias a reverem suas propostas de reajuste salarial, cuja data-base é setembro – em um dos casos, com ameaça de greve por tempo indeterminado, dependendo da proposta feita pelas indústrias. 

 

O risco de greve de cunho nacional – estratégia adotada pela última vez pela categoria em 2001 e substituída em anos recentes pelas chamadas greves-pipoca, localizadas e de curta duração – parece ter voltado a rondar as montadoras. Não existe um acordo entre Conlutas, Intersindical, Central Única dos Trabalhadores (CUT) e Força Sindical para criar um movimento de paralisação unificado mas, individualmente, essas lideranças sindicais seguem a mesma estratégia. E um ponto que deve preocupar as montadoras: a paralisação feita ontem na Mercedes-Benz de São Bernardo do Campo (SP) por 3 mil metalúrgicos com indicativo de greve por tempo indeterminado pode estimular a disseminação do movimento no ABC Paulista, que não passa por uma greve por reajuste salarial desde 2003. 

 

“Com a paralisação, os trabalhadores estão mandando um recado. A intensidade dos protestos só vai aumentar se não houver avanço nas negociações”, disse Moisés Selerges, diretor-executivo do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. A paralisação na Mercedes foi feita em desagravo à proposta do Sindicato dos Fabricantes de Veículos Automotores (Sinfavea) de aumento de 1,25 ponto percentual sobre a inflação – menos da metade do reajuste acordado em 2007 e aquém do pedido dos metalúrgicos neste ano, de 5% de ganho real. 

 

Na manhã de hoje, sindicalistas realizam assembléias na porta das fábricas da Volkswagen, Ford e Scania para discutir a possibilidade de paralisações nessas montadoras. Ontem, a Mercedes deixou de produzir 150 veículos e, no fim de semana, outros 400 deixarão de ser fabricados, já que os trabalhadores decidiram paralisar os três turnos extras implantados no fim de semana, para a acelerar a produção das linhas 2009. No fim de semana, 9 mil metalúrgicos da montadora deixarão de trabalhar em São Bernardo do Campo. 

 

As greves ocorrem no primeiro momento do ano em que a euforia crescente trouxe sinais de acomodação. De janeiro a julho, as montadoras produziram 2,01 milhões de veículos, volume 21,8% superior ao de igual período do ano passado. Em licenciamentos (vendas internas), o aumento chegou a 30%, também na comparação com os primeiros oito meses de 2007. Depois desse forte avanço, contudo, as vendas de agosto mostraram um

crescimento mais tímido em comparação com o mesmo mês de 2007, de 4,05%. A indústria já esperava índices menores (por causa da base de comparação mais forte), mas o resultado veio abaixo do esperado e, junto com o aumento de estoques (com a média de veículos disponíveis para venda passando de 216 mil para 250 mil unidades), acendeu sinais de alerta no setor. 

 

Enquanto os metalúrgicos miram os resultados até julho para ancorar seu pedido de aumento real de 5%, as montadoras usam agosto e as recorrentes notícias de que o governo pode adotar medidas para conter o financiamento de automóveis para justificar a cautela e oferecer 0,5% de aumento real. Neste ano, ao contrário de outros momentos, os metalúrgicos têm a seu favor a recuperação do emprego. Dados da Anfavea mostram que, em julho, as montadoras estavam empregando 129,4 mil metalúrgicos, número 13% superior ao de igual mês de 2007. 

 

No Paraná, por conta da paralisação iniciada segunda-feira, a Volkswagen-Audi deixou de produzir cerca de 1,7 mil automóveis. Na Renault, a perda foi de 1,6 mil veículos, segundo o Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba. Uma unidade da Volvo ficou parada por 24 horas e voltou a operar terça-feira, à espera de uma nova proposta até hoje. “Se não houver proposta, o movimento vai se encaminhar para a greve por tempo indeterminado a partir de quinta-feira [hoje]”, afirmou Sérgio Butka, presidente do sindicato. 

 

No interior paulista, a estratégia dos sindicatos está concentrada nas greves-pipoca. Ontem, na região de Campinas, metalúrgicos das montadoras Honda (3.500), Toyota (1.900) e Mercedes Benz (800) realizaram paralisação de 24 horas. “Nos últimos anos, adotamos a greve-pipoca como estratégia. Estoura aqui e ali e logo todos voltam a trabalhar. Mas passou a ser importante ampliar esse movimento porque os empresários estão muito resistentes a aceitar as propostas dos metalúrgicos”, afirmou Eliezer Mariano da Cunha, diretor do sindicato de Campinas. 

 

Na segunda-feira, a metalúrgica Wirex Cable, do setor de eletroeletrônicos, ficou parada. Ontem, foi a vez dos 5 mil metalúrgicos da General Motors. A paralisação afetou a produção de 950 a 1 mil veículos. Hoje, disse Vivaldo Moreira Araújo, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, outras empresas terão sua atividade parada sem aviso prévio. “Cada dia será uma fábrica. E se o patronato não melhorar a proposta, não vamos ter outra opção que não seja a greve por tempo indeterminado”, afirmou Moreira. Os metalúrgicos do interior de São Paulo pedem aumento real de 9,17% e garantia de gatilho salarial quando a inflação atingir 3% em 12 meses. A última proposta feita pelo Sinfavea foi de 1,25% de aumento real. Procurada, a assessoria de imprensa da entidade informou que não comenta detalhes das discussões com os trabalhadores.