Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Governo vê uma retração de 1,5% do PIB no 1º trimestre

Com dois trimestres consecutivos de PIB negativo, país já estaria em recessão

Governo pretende adotar discurso de que a economia irá se recuperar no segundo semestre do ano após queda nos juros e estímulos oficiais

LEANDRA PERES

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apesar do discurso otimista, até o governo já admite uma recessão no país. As projeções feitas pela equipe econômica indicam que a economia encolheu cerca de 1,5% no primeiro trimestre quando comparada ao último trimestre do ano passado e 2,4% em relação ao primeiro trimestre de 2008.

Se confirmado pelo IBGE na semana que vem, terá sido o segundo trimestre consecutivo de queda do PIB brasileiro, o critério mais usado para afirmar que uma economia está em recessão.

A principal explicação para o resultado negativo é o desempenho da indústria, que vem se recuperando num ritmo mais lento do que projetado inicialmente tanto pelo governo quanto por economistas do mercado financeiro.

Os últimos números do IBGE registraram uma desaceleração de quase 15% na produção industrial em abril em relação ao mesmo mês do ano passado.

O país não vivia uma recessão desde o início de 2003. Naquele ano, foram dois trimestres consecutivos de queda na economia. Desde então, o PIB registrou taxas negativas em apenas dois outros trimestres, havendo recuperação logo em seguida. No último trimestre de 2008, a retração da economia foi de 3,6%.

Já comitê criado pela FGV (Fundação Getulio Vargas) para monitorar os ciclos econômicos brasileiros, trabalhando com outros parâmetros, anunciou na semana passada que a recessão atual teve início no fim de 2008.

Para se contrapor ao peso político e econômico que a confirmação de uma recessão deve trazer, o governo pretende concentrar seu discurso na recuperação esperada para o segundo semestre.

Também continuará afirmando que a economia crescerá neste ano. A projeção oficial é de 1%, mas já se admite que o resultado fique próximo a 0,5%.

A aposta é que no último trimestre do ano a economia estará sendo beneficiada pela redução de 4,5 pontos já feitas na taxa de juros e pelos programas oficiais, como o pacote habitacional. Essas duas variáveis devem ajuda a elevar o investimento, que teve uma queda de 9,8% no fim do ano passado. Até lá, o governo espera que as obras federais e da Petrobras ajudem a evitar reduções ainda maiores no investimento.

A projeção feita pelo governo para o primeiro trimestre está próxima à média dos analistas do mercado financeiro, que é de queda de 2,1% em relação ao primeiro trimestre de 2008. A expectativa anual, no entanto, é divergente. Os analistas ouvidos pelo Banco Central estimam que o PIB caia 0,73% neste ano.

O economista Sérgio Vale, da MB Associados, prevê melhoras na demanda doméstica puxada pelos aumentos no salário de servidores públicos, salário mínimo e Bolsa Família. Os pagamentos feitos pelo governo darão suporte ao consumo, que responde por 60% do PIB, e devem evitar uma queda muito forte do PIB.

“A classe média havia sido o fator crucial de aumento da renda em 2008, mas neste ano o aumento de consumo dependerá dos estímulos de curto prazo do governo”, diz Vale.

Roberto Padovani, economista sênior do banco WestLB, vê melhoras nas condições de crédito e no cenário externo impulsionando o crescimento no final do ano. Ele lembra também que a base de comparação será fraca, o que, estatisticamente, leva a um resultado positivo.