Folha de S.Paulo
JULIA BORBA
DE BRASÍLIA
31/01/2015 02h00
O governo Dilma Rousseff começará a discutir, a partir da semana que vem, a criação de um novo modelo para o reajuste do salário mínimo.
A ideia, segundo a Folha apurou com assessores da presidente, é iniciar o debate durante reunião com as centrais sindicais na terça-feira (3).
Do lado do governo, está prevista a participação dos ministros Miguel Rossetto (secretaria-geral), Carlos Gabas (Previdência) e Manoel Dias (Trabalho).
O encontro, segundo a Folha apurou, servirá não apenas para discutir as novas regras do seguro-desemprego, auxílio-doença e abono salarial, mas também os possíveis cenários para reajuste do mínimo no próximo ano.
A fórmula em vigor, que vence neste ano, prevê reajuste de acordo com a variação do PIB do ano anterior e a inflação de dois anos antes.
A ideia é mostrar às centrais que, diante das perspectivas de um PIB ruim, o melhor caminho seria repensar a regra. Mesmo sem propostas concretas, o governo quer indicar que um novo modelo pode garantir aumento real do salário independentemente do
desempenho econômico.
Projeções do mercado indicam que, ao manter as atuais regras de reajuste, o ritmo de valorização do salário mínimo deve cair mais de 50% do primeiro para o segundo mandato de Dilma.
Como o assunto é delicado, assessores do governo consideram que as discussões devem se estender ao longo de todo o ano. A estratégia é ganhar tempo e evitar uma crise com as centrais em 2016.
A discussão sobre o modelo de reajuste do mínimo já foi motivo de bronca da presidente Dilma Rousseff em seu recém-chegado ministro Nelson Barbosa (Planejamento) no início do mês.
Barbosa afirmou que uma nova regra seria encaminhada ao Congresso. A avaliação agora é que o tema seja tratado de forma gradual, com o tom de que será “para o bem”.
O momento para o debate, porém, é ruim. O governo ainda está perdendo na briga pela manutenção do pacote trabalhista e previdenciário.
O secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, opõe-se ao debate. Para ele, a regra atual é vantajosa. O presidente da UGT, Ricardo Patah, vê risco de redução dos ganhos para o trabalhador. “É melhor manter um reajuste pequeno, mas apostar em um Brasil que cresça.”