Planalto deixa debate para empresários e sindicatos, afirmam ministros
Luiza Damé, Patrícia Duarte e Cristiane Jungblut
COSTA DO SAUÍPE (BA) e BRASÍLIA.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu aos empresários intermediar a discussão da flexibilização das leis trabalhistas, mas não se comprometeu em defender a tese.
Na reunião da semana passada, diante das ponderações do empresariado sobre a necessidade de mexer em direitos para manter os empregos, Lula disse que encaminharia a discussão com as centrais sindicais e os ministros José Pimentel (Previdência) e Carlos Lupi (Trabalho) para levantar o que eles pensam a respeito. Mas o Palácio do Planalto não vai tomar posição – até porque não acredita que este seja o foco do enfrentamento à crise.
– Não está na pauta do governo essa discussão – afirmou ontem ao GLOBO o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, responsável pela articulação dos projetos de interesse do governo no Congresso.
Vários auxiliares do presidente aconselharam Lula a se afastar dessa polêmica, afirmando que isso seria desgastante e contraproducente num momento como este. O GLOBO conversou com três ministros e obteve de todos avaliações nesse sentido.
O governo quer deixar para empresários e sindicatos a discussão direta de possíveis flexibilizações trabalhistas como forma de manter o emprego num momento de crise. Lula prefere se concentrar em cobrar dos empresários a manutenção dos empregos como contrapartida das medidas já adotadas pelo governo, como a redução do IPI sobre os carros e a liberação de financiamentos.
– Lula está fazendo um esforço para ajudar os empresários, e a parceria é que não se demita. O presidente está pedindo uma outra postura das empresas – afirmou o governador da Bahia, Jaques Wagner.
Integrante da comitiva do presidente Lula na Bahia, o ministro do
Desenvolvimento, Miguel Jorge, disse que discussões sobre flexibilizações trabalhistas devem ser feitas entre empresas e sindicatos. O ministro lembrou que é comum esse tipo de discussão e que participou de muitas no setor empresarial: – Acordos devem ser feitos entre empresas e sindicatos – disse o ministro, que rechaçou qualquer mudanças de direitos trabalhistas, como fim do FGTS.
– Com isso eu não concordo.
Paulo Bernardo: conta seria dos trabalhadores Já o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, descartou as discussões de flexibilização das leis trabalhistas. Ele citou uma entrevista do presidente da Vale, Roger Agnelli, ao jornal “Estado de S.Paulo”, quando defendeu “medidas de exceção” temporárias na área trabalhista. Paulo Bernardo disse que o governo não tem proposta nesse sentido e que, se procurado por trabalhadores e setor produtivo, pode discutir o assunto.
– Com certeza não vejo o governo fazendo isso. Quem vai assinar isso? O presidente (Lula)? O Congresso? (…) Não podemos entregar a conta para os trabalhadores.