Assessor de Lula afirma que não dá para obrigar empresas a contratar ou não demitir
Tânia Monteiro e Beatriz Abreu
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva compreende o discurso sindicalista do ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi, de ameaçar punir as empresas que estejam demitindo, mas não pretende interferir na relação entre patrões e empregados. “Vivemos no capitalismo. O governo não tem como obrigar uma empresa a contratar, nem impedir uma empresa de demitir”, afirmou um auxiliar direto do presidente.
A política da não intervenção continua em prática no Planalto, embora isso não signifique uma atitude de distanciamento da classe trabalhadora. Ao contrário, da mesma forma como abriu as portas do Planalto para ouvir os empresários, que agora têm reuniões com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o presidente está agendando um encontro com as centrais sindicais para discutir as condições do mercado de trabalho. Para Lula, o compromisso dos empresários está mantido. “As empresas estão tomando crédito para manter a cadeia produtiva. Não se pode suspender o crédito porque isso limita a capacidade produtiva”, disse uma fonte.
O Planalto, no entanto, avalia que, em meio ao turbilhão criado com a expectativa de fechamento de milhares de vagas em dezembro e do processo acelerado de férias coletivas, demissões de temporários e suspensão de acordos trabalhistas, chegou a vez de os dirigentes sindicais serem ouvidos. “O presidente quer ouvir diretamente deles o que está acontecendo no mercado de trabalho”, disse uma fonte.
Da mesma forma, Lula cobrou de Lupi informações objetivas sobre o fechamento de postos de trabalho em dezembro. Embora não tenha desautorizado o ministro, a percepção de fontes do governo é que “Lupi errou no processo” ao comentar números ainda não conclusivos. O ministro “se assustou” com os dados preliminares, mas a explicação não convenceu Lula, que marcou para segunda-feira novo encontro com Lupi. Até lá, ele deve reunir informações para detalhar a pesquisa do Cadastro Geral de Empregados e Demitidos (Caged).
A expectativa é que até 600 mil postos possam ter sido suprimidos, mas o dado oficial ainda não está fechado. Lupi terá de demonstrar ao presidente que setor e por qual motivo demitiu. “O presidente quer uma radiografia completa para, aí sim, tomar uma decisão”, disse um assessor. Até porque, na avaliação de Lula, a melhor forma de estimular o emprego não é ameaçar empresas com a suspensão do crédito oficial, e sim ampliar o crédito e adotar medidas de estímulo à economia.
“A empresa demite não porque quer. É porque precisa, é porque está enfrentando dificuldades e, com isso, ela também se desorganiza”, comentou um ministro. “Não há medidas a tomar diante da decisão de uma empresa demitir. A única solução é ativar a economia.”