Desde terça, automóveis que entram no país precisam de licença prévia para a liberação, o que pode atrasar processo
Oficialmente, governo afirma que ação visa monitorar importações, mas medida é retaliação contra a Argentina
TATIANA RESENDE
DE SÃO PAULO
O governo federal adotou uma medida que dificulta a importação de automóveis, o que pode atrasar a entrada desse produto no Brasil em até dois meses.
Desde terça-feira, os carros que chegam ao país dependem de uma licença prévia para a liberação da guia, o que, até então, era feito de forma automática.
Oficialmente, a mudança foi feita pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior para “monitorar o fluxo de importações” do setor, de acordo com a assessoria de imprensa do órgão.
Segundo a Folha apurou, a medida, no entanto, é uma retaliação do governo brasileiro ao argentino, que dificulta a entrada dos produtos nacionais naquele mercado.
A Argentina responde por mais da metade dos carros importados para o Brasil e vice-versa, diz a Anfavea (associação das montadoras).
O procedimento será válido para todos os países, seguindo a determinação da OMC (Organização Mundial do Comércio), e o Brasil tem até 60 dias para avaliar a entrada dos produtos.
Segundo Ademar Cantero, diretor de Relações Institucionais da Anfavea, “certamente haverá um reflexo [para as empresas], mas ainda não conseguimos quantificar”, acrescentando ainda que será preciso reprogramar as importações.
O executivo de uma grande montadora foi mais enfático, ressaltando que a medida vai influenciar o fluxo de caixa das empresas, já que os carros foram pagos, mas, enquanto não entrarem no país, não poderão ser vendidos e gerar receita.
FÁBRICA
A maior parte dos carros importados é trazida pelas montadoras com fábrica no Brasil, principalmente da Argentina e do México, com os quais há acordos comerciais para isenção na alíquota de importação, de 35%, de acordo com a logística de produção de cada empresa.
A Fiat, por exemplo, líder na venda de automóveis e comerciais leves, importa da fábrica na Argentina o Siena, também produzido no Brasil.
A GM traz o Agile do país vizinho, o Camaro do Canadá, o Malibu dos EUA e a Captiva do México. O Focus e o Ranger, da Ford, vêm da Argentina. O Fusion e o New Fiesta, do México. Desse país a Volks traz o Jetta, e o SpaceFox vem da Argentina.
Para o presidente da Fenabrave (federação das concessionárias), Sergio Reze, não deve haver falta de carros nas lojas ou demora maior do que o habitual para a entrega, dependendo da cor e dos acessórios. Ele defende a tomada de “medidas restritivas” para importados.
Os dados da Anfavea mostram que a venda de veículos novos trazidos de outros países cresceu 28,5% no primeiro quadrimestre ante o mesmo período no ano passado, para 245.949 unidades.
No mesmo intervalo, o licenciamento de automóveis, comerciais leves, ônibus e caminhões produzidos no Brasil (868.401) apresentou queda de 0,7%.
Considerando o dado do trimestre, o mais recente divulgado pela Abeiva, os importados trazidos por empresas sem fábrica no país representavam só 19,5% do total do exterior. A entidade não quis comentar a mudança.