A atual etapa da crise financeira mundial surgiu de um impasse entre os dois partidos majoritários nos Estados Unidos, os Democratas, do presidente Obama, e os Republicanos, que atualmente fazem oposição. Na discussão em torno do aumento do teto da dívida norte-americana, os dois partidos se degladiaram, publicamente, até o último minuto do tempo previsto para se confirmar a ampliação do teto da dívida e garantir, assim, a possibilidade de os Estados Unidos continuarem a pagar seus compromissos.
O resultado foi o rebaixamento da classificação dos país que foi considerado como um potencial risco para as finanças mundiais. A consequência todos conhecemos. As bolsas do mundo inteiro despencaram. E uma nova crise mundial se instalou. Ameaçando, inclusive, a economia brasileira e nossos empregos.
Nesta semana, a presidente Dilma vetou o aumento real para os aposentados. Foi o suficiente para a gritaria geral, inclusive a dos dirigentes sindicais. Pois é justo sim, dar aumento real para resgatar o valor das aposentadorias, continuamente achatadas em nome de uma suposta falência da Previdência Social. Falência para a qual os trabalhadores nunca contribuíram, mas que tiveram o voto direto de muitos dos atuais deputados federais e senadores, que apoiaram Fernando Henrique Cardoso na implantação do Fator Previdenciário.
Quando afirmamos que a Previdência está supostamente falida é porque nos lembramos que em 27 de julho, o próprio ministro Garibaldi Alves, da Previdência, anunciou que o órgão espera fechar 2011 com o menor déficit dos últimos anos, porque a arrecadação está aumentando mais que as despesas. Só nos seis primeiros meses, a receita foi 9,3% maior que no 1º semestre de 2010. Ou seja, não engolimos mais o argumento da falência da Previdência para justificar, inclusive o veto da presidente Dilma.
Mas na hora da discussão responsável, em vez de se compartilhar a responsabilidade entre Congresso e Executivo, o que acompanhamos, infelizmente, é parte do Congresso apoiando, entre aspas, o reajuste real das aposentadorias para pressionar o Executivo a vetar e se desgastar.
E, após o desgaste, ser obrigado a voltar a negociar com esta banda impatriótica do Congresso o voto numa nova solução. Tentam, ainda, usar a opinião pública e os trabalhadores e aposentados como massa de manobra, para saírem de santinhos dessa ópera dos malandros.
Por isso, nosso alerta. Somos a favor do reajuste real das aposentadorias. É fator essencial de distribuição de renda e de respeito aos acordos que os trabalhadores firmaram e cumpriram ao longo de mais de três décadas.
Mas deixamos claro que a responsabilidade tem que ser compartilhada entre Poder Executivo e Congresso Nacional. Senão, corremos o risco de transformar as aposentadorias em ponto de apoio para se realizar as nefastas manobras entre os dois poderes. Correndo o risco de se criar uma enorme crise que vai continuar a afetar os aposentados e pensionistas.
Exigimos responsabilidade e patriotismo do Congresso Nacional e do Poder Executivo. Chega de usar nossas necessidades como apoio às manobras vergonhosas. Políticos brasileiros, que a exemplo de seus colegas norte-americanos, não medem consequências e podem, inclusive nos empurrar para uma crise na Previdência Social. Uma crise absolutamente evitável com bom senso, patriotismo e responsabilidade compartilhada.
Por Cícero Martinha, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá