Diário do Grande ABC
A partir da semana que vem, a GM irá colocar mais 900 empregados da fábrica de São Caetano em lay-off (suspensão temporária do contrato de trabalho). Com isso, o número de funcionários afastados chega a 1.719, já que outra turma, de 819 pessoas, está suspensa desde novembro, com previsão de retorno para o dia 9 de junho. O objetivo da medida é adequar a produção à queda nas vendas.
Entre os 900 operários que terão os contratos suspensos, 386 estavam de licença remunerada desde o dia 5. Outros 514 ainda estão exercendo atividades na linha de produção. Eles ficarão fora do serviço por cinco meses. Considerando que a planta do Grande ABC possui cerca de 10,5 mil colaboradores, o número de profissionais parados equivale a aproximadamente 16,5% do total.
Para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano, Aparecido Inácio da Silva, o Cidão, o afastamento foi a solução encontrada pela empresa para não demitir os trabalhadores. “Diante da atual conjuntura, foi uma proposta boa. É melhor adiar a dor do que ser morto de imediato. Enquanto isso, estamos construindo um cenário para ver se melhora a situação.”
Ainda de acordo com o sindicalista, a montadora se comprometeu a oferecer aos atingidos pelo lay-off estabilidade de trabalho por seis meses após o término do prazo de suspensão. Caso haja cortes, a empresa garante, segundo ele, o pagamento de seis salários nominais, mesmo que o funcionário não tenha exercido atividades na fábrica durante esse período.
Os termos negociados serão submetidos à apreciação da categoria em assembleia que será realizada amanhã, às 15h, em frente ao portão 4 da fábrica, na Avenida Goiás. O vice-presidente da entidade, Francisco Nunes, avalia que, caso a proposta seja rejeitada, há possibilidade de o grupo de 900 funcionários ser demitido.
Sobre os 150 metalúrgicos desligados na semana passada, o sindicato não conseguiu reverter a situação. O número de cortes pode subir ainda mais em junho, já que a GM não garantiu que os 819 que estão em lay-off desde novembro retornem à ativa. “Se não encontrarmos solução, serão demitidos”, diz Cidão, que terá reunião com a direção da montadora na semana que vem para negociar a situação.
Entre os 150 dispensados, 50 estavam entre os 436 que saíram de licença remunerada no dia 5. Inicialmente, o número divulgado pelo sindicato era de 467. Procurada desde o início do mês, a GM não forneceu os dados corretos ao Diário. Também não comentou sobre a reunião de ontem.
A diferença entre o lay-off e a licença remunerada é que, no primeiro modelo, parte do salário é paga pela União, por meio do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), com teto de R$ 1.385,91. O restante dos vencimentos fica sob responsabilidade da empresa, que pode ou não complementar a totalidade. Quem for incluído no programa terá de passar por curso de atualização profissional. Na licença, a remuneração é integral e não há obrigatoriedade de matrícula em cursos de capacitação.
Neste ano, 2.050 postos foram eliminados
Desde janeiro, cerca de 2.050 postos de trabalho foram cortados nas seis montadoras localizadas no Grande ABC. Pouco mais de 1.000 trabalhadores deixaram as empresas após aderirem a PDVs (Programas de Demissões Voluntárias).
Atualmente, 12,9 mil funcionários estão afastados, sendo 715 em lay-off (suspensão temporária do contrato de trabalho – 460 voltam em junho e, os demais, em setembro) na Mercedes, 3.000 na Ford (424 em banco de horas por tempo indeterminado, 200 em lay-off até outubro e restante em férias coletivas até o dia 22), 1.205 na GM (819 em lay-off até junho e 386 em licença remunerada por tempo indeterminado) e 8.000 na Volkswagen em férias coletivas, que se encerram hoje.
Na semana que vem, entram em lay-off 900 colaboradores da GM. Com isso, o total de metalúrgicos com contratos suspensos na região deverá chegar a 2.634.
A Volkswagen pretende colocar em lay-off 230 operários da fábrica de São Bernardo. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, o afastamento deverá começar no dia 1º. Procurada, a montadora disse que não iria se pronunciar.
Para evitar demissões, sindicalistas e empresários defendem a aprovação, junto ao governo federal, do chamado PPE (Plano de Proteção ao Emprego). O mecanismo permitiria às indústrias reduzirem a carga horária – e, consequentemente, os salários – por tempo determinado em momentos de crise financeira.
Os cortes e os afastamentos de funcionários na indústria automobilística são resultado do péssimo momento que o setor atravessa. O número de unidades produzidas no País no mês passado, 217,1 mil, é 14,5% inferior à produção de março e 21,7% menor do que o nível do mesmo período de 2014. Foi o pior abril do setor desde 2007, segundo dados da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores).
As vendas também tiveram queda acentuada. Em abril, 219,3 mil carros zero-quilômetro foram licenciados no País, 25,2% a menos do que no mesmo mês de 2014. Na comparação com março, a redução foi de 6,6%. Com isso, as indústrias estimam que sejam necessários 50 dias para que os estoques sejam esvaziados.