A planta de São Caetano da GM (General Motors) irá produzir, até 2020, pelo menos mais um novo modelo, totalizando cinco na fábrica do Grande ABC. A novidade é fruto do processo de ampliação e modernização da linha de produção, para a qual será investido R$ 1,2 bilhão. O aporte faz parte do pacote de R$ 13 bilhões injetados no País entre 2014 e 2020, conforme anunciado no ano passado.
“Planejamos novos modelos para 2020 ou 2021, mas, além daqui ão Caetano), temos outras fábricas, como em Gravataí (Rio Grande do Sul) e em Rosário (Argentina), que também irão receber parte desta produção”, pondera Marcos Munhoz, vice-presidente da GM Mercosul. Hoje, são fabricados quatro veículos em São Caetano: Cobalt, Spin, Montana e Ônix Joy (versão de entrada). Ainda que a montadora não confirme, o mercado especula a produção de SUV compacto, que substituiria o Tracker, na planta da região.
A nova configuração da fábrica, instalada há 93 anos em São Caetano, foi projetada para incorporar tecnologias de manufatura da indústria 4.0 ou inteligente. Dentre as mudanças estão novos sistemas de montagem e transmissão, funilaria, usinagem, pintura e produção de pára-choques; ampliação da capacidade de estamparia; prensas de última geração; solda a laser; novas injetoras plásticas e novo transportador de veículo.
Com isso, ao fim das obras, a capacidade de produção do complexo passará de 250 mil para 330 mil veículos por ano. Embora haja este aumento, Munhoz afirma que a abertura de postos de trabalho irá depender da demanda do mercado. Vale lembrar que, em 2017, apenas 160 mil carros foram produzidos – cerca 64% da capacidade. Porém, ele não descarta a possibilidade de contratação e retomada do terceiro turno nos próximos anos – encerrado em novembro de 2014 devido à crise.
Até o dia 19 de março, cerca de 4.500 dos 8.600 funcionários estarão em férias coletivas, enquanto mudanças na planta são concluídas – o que não exclui a chance de outros afastamentos ao longo do ano. E outros 320 operários que possuem algum tipo de restrição médica seguem em licença remunerada. Segundo Aparecido Inácio da Silva, o Cidão, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano, “por enquanto, não há função compatível para esses trabalhadores desenvolverem. Com a modernização, talvez possa haver atividades para voltarem à ativa”. Esses profissionais integravam grupo de 750 pessoas que estavam em lay-off e, cerca de 50 deles, foi demitida por telegrama em abril do ano passado, devido ao excesso de mão de obra diante da queda nas vendas, além da transferência da montagem do Cruze para Rosário.
Otimista com o futuro da economia no País, Carlos Zarlenga, presidente da GM Mercosul, projeta alta de 20% na receita da montadora em 2018, ante expansão de 10% no ano passado. “Este investimento não será o último”, sentencia. “Os novos aportes vão transformar o complexo de São Caetano em um dos mais eficientes e avançados da indústria.” O prefeito de São Caetano, José Auricchio Júnior (PSDB), completa, ao dizer que a GM é responsável por grande parcela da geração de emprego, renda e tecnologia na cidade. “Com a reforma da planta, ela se tornará a mais competitiva do País e, quem sabe, do mundo.” O governador Geraldo Alckmin (PSDB), presente em evento para apresentar obras de expansão, avalia que “a cadeia automotiva é a mais longa e complexa do Estado, pois os outros setores da economia dependem diretamente dela.”
HISTÓRICO – Em fevereiro de 2017, ao anunciar os investimentos na região, a GM garantiu a permanência em São Caetano até, pelo menos, 2028, dado que, sem as melhorias, a vida útil da planta duraria mais quatro anos. No entanto, como contrapartida, suprimiu direitos dos trabalhadores. O adicional noturno dos trabalhadores será reduzido de modo escalonado: de 30% passará para 27% em setembro deste ano; em 2019, para 24% e, em 2020, 20% – o mínimo previsto na legislação. Ainda, houve manutenção dos salários de 2018 em troca do abono, e apenas em 2020 haverá reajuste de 100% sobre a inflação do ano anterior.
Rota 2030 sairá nos próximos dias
O Rota 2030, que propõe incentivo fiscal a montadoras que investirem em P&D (Pesquisa e Desenvolvimento), deve sair nos próximos dias, até o fim do mês, segundo Marcos Jorge de Lima, ministro interino do MDIC (Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços). Ele afirma, no entanto, que os detalhes acerca do projeto, inclusive a proposta de renúncia de impostos no valor de R$ 1,5 bilhão por ano – teto do antecessor Inovar-Auto – ainda não foram definidos. “Continuamos trabalhando com o Ministério da Fazenda para que cheguemos a um acordo sobre a forma de concessão e estímulo.”
FERRAMENTARIA – Quanto ao projeto de apoio à ferramentaria às montadoras que consumirem de empresas nacionais, sugerido ao MDIC no dia 10, cujo objetivo é que seja devolvida parte de impostos como PIS/Cofins e IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), sob a forma de crédito, a Pasta diz que ainda não há previsão.
“Todas as propostas são discutidas entre trabalhadores e o setor privado. Estamos levando para análise ao ministério, já que os trabalhadores apresentaram o projeto (a proposta foi apresentada pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC)”, explica Igor Calvet, secretário de Desenvolvimento e Competitividade Industrial.
LIVRE COMÉRCIO – De acordo com Lima, o Mercosul e a União Europeia estão negociando para que os países dos blocos econômicos possam praticar o livre comércio. Sem detalhar, o ministro diz que o acordo deve ser firmado em breve. “Nós já estamos com os chefes negociadores trabalhando com a comissão europeia.”
Para ele, a ação pode impulsionar ainda mais as exportações do Brasil. Para se ter ideia, no ano passado saíram das fábricas brasileiras cerca de 790 mil veículos, recorde histórico e 90% a mais que em 2016.