Concordata divide a montadora em duas, e o governo dos EUA fica com 60% do controle acionário da “nova GM”
GM afirma ter ativos de US$ 82 bilhões e dívidas de US$ 173 bilhões; marcas como Saturn, Hummer e Pontiac serão eliminadas
FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK
Na quarta maior concordata da história americana, e a maior de uma empresa industrial, a General Motors foi estatizada de fato, com o governo dos EUA assumindo 60% do controle acionário.
Mas a administração federal, que se descreve como um “acionista relutante”, prometeu ficar longe do dia a dia dos negócios da montadora, participando apenas de decisões consideradas “fundamentais”.
Em pronunciamento ontem, o presidente dos EUA, Barack Obama, disse que não haverá a participação de funcionários públicos no comando da GM e que autoridades federais só deverão intervir na administração quando isso for “absolutamente imprescindível”. “Seremos acionistas relutantes, pois essa é a única maneira pela qual a empresa pode obter sucesso.”
A concordata da GM, registrada ontem em uma corte de Manhattan, prevê a divisão da montadora em duas: a “nova GM”, que continuará produzindo as marcas mais rentáveis, aliviada de grande parte das dívidas; e a “velha GM”, que ficará com os passivos e encarregada de liquidar o restante dos negócios que não interessarem.
Entre as marcas e modelos a serem mantidos constam Cadillac, Chevrolet, Buick e camionetes e caminhões GMC. Outras, como Saturn, Hummer e Pontiac, serão eliminadas.
Como parte desse processo, são esperados o fechamento de até 20 fábricas, o encerramento de 2.400 das 6.000 revendedoras da companhia no mercado americano e a demissão de mais 21 mil trabalhadores sindicalizados (de um total de 54 mil) e representados pelo UAW (United Auto Workers).
A GM emprega diretamente 92 mil pessoas nos EUA e também é responsável pelo pagamento de aposentadorias a 500 mil. Em seu auge, nos anos 1950, empregava 514 mil.
Como parte de um acordo anterior à concordata, por ter feito concessões, a UAW terá 17,5% na “nova GM”; o governo do Canadá, 12,5%; e os credores de US$ 27 bilhões da empresa, uma participação inicial de 10%, mas que pode ir a 25%.
Além dos quase US$ 20 bilhões já injetados na GM, o Tesouro americano vai colocar mais US$ 30 bilhões na empresa, e o governo do Canadá, onde a montadora também opera, mais US$ 9,5 bilhões, para mantê-la funcionando.
Obama, porém, disse que as decisões serão tomadas pela empresa: “O governo federal vai se abster de exercer seus direitos como acionista em todas as decisões, exceto nas mais fundamentais. Quando uma importante decisão tiver de ser feita a respeito de onde abrir uma nova fábrica ou de lançar um novo veículo, será a “nova GM”, e não o governo dos EUA, que vai tomar essa decisão”.
Fritz Henderson, atual presidente da montadora, deverá ser mantido no comando da “nova GM”. Já a “velha GM”, que deve ser liquidada, terá a supervisão de Al Koch, da firma AlixPartners. Ele já fez trabalho semelhante nas concordatas de Kmart e Enron.
Na petição de concordata, a GM informou ter ativos totais de US$ 82,3 bilhões e dívidas conjuntas de US$ 172,8 bilhões. A reestruturação prevê que a “nova GM” saia da concordata com apenas US$ 17 bilhões em dívidas -excluindo cerca de US$ 30 bilhões em créditos dos governos de EUA e Canadá.
Em entrevista em Nova York, Henderson disse que a divisão da empresa era a única saída possível. “Não há nenhum outro tipo de saída presente ou no horizonte.”
Questionado sobre por quanto tempo ele acredita que o governo dos EUA terá de continuar como principal sócio da GM, Henderson respondeu: “Será uma questão de anos, não de meses”.
Mesmo assim, segundo prevê o ambicioso plano de reestruturação, a “nova GM” já estaria pronta para entrar em funcionamento em um prazo estimado entre 60 e 90 dias. E, assim, poderá sair da concordata.