Folha de S.Paulo
CLAUDIA ROLLI
DE SÃO PAULO
No mesmo dia em que o presidente da Anfavea (fabricantes de veículos) e diretor da GM (General Motors), Luiz Moan, participava do lançamento do Programa de Proteção ao Emprego, em Brasília, a montadora iniciou demissões na fábrica de São Caetano.
O programa, previsto em medida provisória, permite redução de salários em até 15% e da jornada em até 30% em troca de estabilidade aos trabalhadores, caso as empresas decidam aderir ao plano e os trabalhadores o aprovem em assembleia. É defendido por centrais sindicais e entidades patronais como uma alternativa às demissões.
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano, Aparecido Inácio da Silva, disse que as dispensas começaram nesta segunda-feira (6) e não soube informar o número de cortes. A GM emprega 9.800 trabalhadores nessa unidade, segundo a entidade, filiada à Força Sindical.
Em comunicado, a GM afirmou que a “redução permanente do quadro funcional deste complexo atinge um número inferior a 5% do total de empregados” e que foi aprovada pelos empregados em assembleia quando aprovaram o “lay-off” (suspensão temporária do contrato de trabalho).
“Caso as condições do mercado não melhorem no futuro, poderemos sim utilizar esse programa [de proteção ao emprego]”, informou a empresa.
As demissões causaram revolta entre os trabalhadores, que iniciaram uma paralisação na linha de produção por cerca de três horas, das 14h às 17h desta terça (7). A fábrica pode voltar a parar nesta quarta, segundo relato de diretores do sindicato, que informaram que desde segunda-feira a empresa demitiu 150 pessoas.
As dispensas atingem trabalhadores da ativa e parte dos 819 funcionários que está em “lay-off” desde outubro de 2014 e teriam seus contratos encerrados nesta quinta (9). Outros empregados dispensados são do segundo turno e alguns tinham até estabilidade, segundo a Folha, apurou.
Editoria de arte/Folhapress
´PALIATIVO´
“O plano de proteção ao emprego seria uma medida paliativa aqui [na GM de São Caetano], porque esse grupo está afastado desde que a empresa encerrou o terceiro turno da fábrica em 2014”, diz o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano.
Segundo o sindicato, 400 operários desse grupo em “lay-off” vão permanecer um tempo maior afastados. Mas não há previsão ainda de quanto será esse prazo.
Existe um segundo grupo em lay-off, com 628 trabalhadores, que se afastou em maio e deve ficar com contrato suspenso até outubro deste ano.
APOIO
Em nota, a GM informa que o plano de proteção ao emprego “tem como objetivo promover um ajuste temporário no contrato trabalhista com o objetivo de preservar empregos e conta com o apoio da GM do Brasil”.
“No entanto, no caso específico de necessidade de restruturação de uma operação industrial para adequar sua organização a uma nova realidade de mercado, não é o melhor caminho neste momento. Este é o caso da unidade da GM em São Caetano do Sul”, completa.
Como representante da Anfavea, Moan destacou na segunda-feira que “o PPE é um grande avanço ao oferecer um mecanismo adicional de preservação do emprego”. Também disse que o plano “permitirá maior estabilidade ao funcionário e uma adequada previsibilidade ao empregador. É um verdadeiro seguro-emprego e um avanço social que nos equipara aos sistemas adotados em mercados maduros e desenvolvidos.”
CUT
Entre os metalúrgicos do ABC, filiados à CUT, que informaram que há interesse de montadoras de São Bernardo em negociar o programa de proteção ao emprego, o anúncio das demissões na GM causou estranheza.
“A empresa poderia ter esperado para tentar negociar um saída, uma alternativa aos cortes, com a criação do programa”, disse João Cayres, secretário-geral da CNM-CUT (Confederação Nacional dos Metalúrgicos).