Escrito por Marli Olmos
Desde que General Motors reduziu sua estrutura nos Estados Unidos para poder enfrentar a crise e sair da concordata, sua filial brasileira ganhou projeção e deverá terminar o ano como a mais rentável da companhia no mundo. Manter a operação lucrativa, daqui para a frente, passa a ser um grande desafio para Jaime Ardila, presidente da GM no Brasil e Mercosul. Para começar a trilhar uma estratégia nesse sentido, Ardila decidiu que precisa ter jornadas de trabalho flexíveis, de forma que o ritmo da produção possa mudar de acordo com a demanda.
À primeira vista, a tarefa pode parecer simples. Acordos trabalhistas desse tipo começaram a tornar-se comuns na indústria automobilística. A flexibilidade deu o tom nos entendimentos que a Volkswagen firmou, no ano passado, com os sindicatos nas fábricas de São Bernardo do Campo e Taubaté, ambas em São Paulo. A moeda de troca foi a garantia de levar para essas instalações investimentos para novos automóveis.
Mas o passo que Ardila pretende dar é mais delicado. Ele precisa fechar esse acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, um dos principais focos de resistência a esse modelo de negociação. Comandado por dirigentes ligados ao PSTU, que se opõem à Central Única dos Trabalhadores (CUT) e ao governo Lula, o sindicato de São José tem como principal bandeira combater bancos de horas e toda a espécie de negociação que signifique mudar a carga horária do trabalhador ao sabor do ritmo da atividade da empresa.
Ao saber das intenções da montadora, o presidente do sindicato, Vivaldo Moreira Araújo, mostrou-se irritado. Achou de mau gosto que Ardila tenha exposto seu plano à imprensa antes detalhá-lo aos representantes dos trabalhadores. “Eu acho muito ruim que a GM venha com essa discussão”, disse.
Segundo Araújo, o presidente da GM explicou sobre os planos de crescimento e investimento há duas semanas, em visita ao sindicato. Mas, segundo o dirigente, o executivo não havia mencionado intenções em relação à flexibilização de jornada.
Ardila falou sobre a ideia numa conversa com alguns jornalistas, durante um evento que a GM preparou ontem, em São Paulo, para celebrar as conquistas do ano e anunciar novas versões do Agile, seu último lançamento.
A empresa precisa desse acordo para colocar em prática um plano de crescimento no Mercosul que visa alcançar, daqui a três anos, a produção de 1 milhão de veículos por ano, somando as quatro fábricas da região – três no Brasil e uma na Argentina. Isso significa produzir 300 mil unidades a mais do que hoje.
A instalação de Gravataí, no Rio Grande do Sul, já está sendo preparada para ter mais espaço. Essa fábrica receberá R$ 2 bilhões do total de R$ 5 bilhões que a empresa planeja investir até 2012. Com isso, a capacidade, em torno de 200 mil veículos, aumentará em mais de 50%.
A fábrica de São Caetano do Sul, a mais antiga e mais produtiva, tem capacidade para 250 mil unidades/ano. Mas não conta com espaço físico para crescer. A da Argentina terá a capacidade ligeiramente aumentada, de 100 mil para 130 mil veículos. A melhor alternativa seria investir mais em São José dos Campos, que tem espaço e hoje está na média anual de 230 mil unidades.
Além do aumento da capacidade, a GM precisa modernizar a linha de veículos. Num acordo recente com o sindicato, a GM já se comprometeu a produzir em São José dos Campos dois novos veículos. Mas, segundo Ardila, faltam ainda dois modelos, que precisam chegar no mercado entre 2011 e 2012. O executivo conta que os acordos anteriores foram bem sucedidos. “Mas eles sempre estabelecem períodos curtos; nós precisamos agora de um acordo que dure cinco anos”, afirma.
Desde que chegou ao Brasil, Ardila faz vistas periódicas ao sindicato de São José dos Campos. A iniciativa, segundo os sindicalistas, começou com seu antecessor, Ray Young, hoje chefe das operações financeiras da GM, nos EUA.
Ardila se sente mais à vontade hoje com o sindicato. “O diálogo melhorou”, afirma o presidente da GM, que é colombiano. Primeiro, como ele próprio diz, porque a comunicação ficou mais fácil depois que ele aprendeu melhor o português. Mas agora o executivo quer ser mais claro: garante que se não houver acordo os novos carros poderão ser feitos em outras fábricas.
Fonte: Valor Econômico