Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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GM: 53 carros por hora em S.Caetano

 


Wagner Oliveira

A fábrica de São Caetano da General Motors do Brasil (GMB) já tem capacidade para a produção de 53 carros por hora – um a cada 68 segundos. O aumento de três veículos de dezembro para cá é reflexo da capacidade de superação da unidade, que está em operação há 81 anos no Grande ABC.

Três carros a mais a cada 60 minutos representam no fim do ano para a montadora – que completou, na quinta-feira, 85 anos de atividades no País – 15 mil unidades a mais ao ano apenas com métodos mais eficazes de produção, sem a necessidade de grandes investimentos.

Neste aumento de produtividade não está incluído o novo carro da família Vivo que a GM vai produzir em São Caetano a partir do segundo semestre. O primeiro veículo deste projeto é o Agile, que já foi lançado no ano passado e é produzido em Rosário, na Argentina.

De acordo com o diretor de manufatura da GM na América do Sul, José Eugênio Pinheiro, o salto na capacidade de produção atual é reflexo da política de melhoria contínua, que envolve otimização da mão de obra, transporte, eliminação de gargalos e compra de novos equipamentos. Outras ações envolvem flexibilidade, corte de desperdícios e ampliação de parcerias com fornecedores nas áreas de produção e de serviços.

“Com o compromisso de não se acomodar nunca, a unidade de São Caetano dá passos decisivos para garantir sua sobrevivência num mundo de transformações rápidas e competitividade acentuada”, afirma Pinheiro, há 40 anos na empresa. “Precisamos ter responsabilidade com o futuro para não condenarmos as fábricas mais antigas à extinção.”

Embora já esteja tecnicamente apta para a produção, a unidade ainda não faz, de fato, 53 carros. “Mas assim que o mercado der a demanda, vamos atingir esta incrível marca”, diz.

Nos últimos anos, a GMB vem aprimorando o processo produtivo em suas três fábricas. Entre 2005 e 2009, a empresa havia conseguido um salto na produtividade de 150 mil unidades em São Caetano, São José dos Campos (SP) e Gravataí (RS). Tamanho desempenho evitou desembolso de US$ 500 milhões – investimento necessário para construção de uma fábrica para produção anual de 150 mil veículos.

Até 2005, São Caetano produzia em média 38 automóveis e comerciais leves por hora. Para mudar o quadro, a empresa adotou método de produção global onde o engajamento dos seus 21,5 mil empregados – 9.668 deles em São Caetano – é decisivo para o sucesso.

Diferente das outras duas fábricas (São José dos Campos e Gravataí), São Caetano entrou em férias coletivas entre o fim de dezembro e o início de janeiro para receber a linha do novo Vivo. A unidade do Grande ABC produz também o Classic, o Corsa, Astra e Vectra – os três nas versões hatch e sedã – e, esporadicamente, a picape média Montana.

A empresa encerrou o terceiro turno de trabalho no início do ano passado, dispensando cerca de 800 trabalhadores. Mas pelo menos 300 empregos já foram criados diante da retomada da demanda. Em 2009, a GMB produziu 600 mil veículos – média de 200 mil em cada uma das três plantas.

Vendas surpreendem – Até quinta-feira, as vendas gerais em janeiro haviam alcançado 191 mil unidades – crescimento de 11% sobre o mesmo período de 2009. Para surpresa da própria companhia, a GM estava em segundo lugar, com emplacamento de 39.370 unidades, que representavam 20,5% do mercado.

Com este resultado, a General Motors superava a rival Volkswagen, que aparecia com 38.410 (20% de share). A Fiat liderava a disputa, com a venda de 40.932 veículos (21,4%). A Ford vem a seguir com 21.766 veículos (11,4%). Em 2009, a GM ficou em terceiro lugar.

Cada veículo produzido gera até7 kg de lixo

Apesar dos avanços no processo de uma produção mais limpa, cada veículo que sai da fábrica pode gerar até sete quilos de lixo não reciclável. Este pelo menos é saldo da GM em São Caetano, que monta cerca de 200 mil carros por ano. Unidades mais modernas têm geração menor. Em Gravataí (RS), por exemplo, cada modelo produz cinco quilos de resíduo.

Se o número for parecido em outras montadoras, o descarte da indústria automobilística, só na linha de montagem, pode chegar a cerca de 20 mil toneladas, se for considerada produção de 3,1 milhões de veículos em 2009. Um automóvel pesa, em média, uma tonelada ao incorporar mais de 2.000 peças e componentes.

De acordo com a direção da General Motors, embalagens plásticas impregnadas de óleo, borra de tinta, fuligens de peças usinadas e restos de madeiras são alguns dos materiais que ainda não são reaproveitados pela indústria, que vem se empenhando ao máximo para utilizar matérias-primas que não agridam o meio ambiente.

Os dejetos são encaminhados para aterros sanitários com tratamento e acondicionamento especiais. “São locais certificados pela própria GM e órgãos ambientais”, afirma Claudio Eboli, diretor de instalações da montadora.

Segundo José Eugênio Pinheiros, diretor de manufatura da GM na América do Sul, os resíduos gerados em São Caetano vão para dois aterros, um deles localizado em São José dos Campos. “São abrigos em que o custo para empresa é seis vezes mais alto que num aterro comum. O solo precisa ser impermeabilizado para evitar contaminação das águas subterrâneas e das chuvas, entre outros cuidados”, afirmou.

Nos anos 1970, cada veículo produzido gerava mais de 30 quilos de dejetos não recicláveis. Com o uso de materiais biodegradáveis, principalmente no processo de pintura, montadoras vêm reduzindo não só lançamento em aterros, mas também na atmosfera.

Em 2005, cada carro produzido na GM de São Caetano gerava 13,65 quilos de material não reciclável. Pinheiro diz que a meta da GM é zerar os resíduos nos próximos cinco anos. Neste processo, fornecedores são parte importante, já que são estimulados a desenvolver, por exemplo, embalagens retornáveis, que evitam o descarte.

Na linha de montagem, só há espaço para a concentração

Talvez o consumidor não se dê conta, mas montar um carro é uma atividade complexa e extenuante. Prensas barulhentas, ritmo frenético das máquinas e homens são parte do cotidiano no chão de fábrica das montadoras. Os metalúrgicos têm de estar concentrados o tempo todo em jornadas de até dez horas diárias. Além disso, existe a cobrança pela produtividade e qualidade.

Para mostrar a jornalistas como é o ambiente na linha de montagem, a General Motors desenvolveu uma simulação na fábrica de São Caetano. Além do Diário, vários profissionais da imprensa foram convidados a fazer a imersão. O curso já foi dado a interessados de vários países. Colaboradores de outras áreas da montadora também participam.

Quando se está na linha, a responsabilidade é grande. Carros enfileirados, cada estágio da montagem tem seu tempo cronometrado. Parafusos têm de ser apertados ou peças encaixadas sob ritmo ininterrupto, sob o risco de paralisação de toda a fábrica. Mesmo com carrinhos de madeiras, sente-se a pressão do sistema. Como num time, cada um tem de fazer sua parte para o bem da equipe. Carro malfeito ou que não chega à revenda é substituído pelo do concorrente. A empresa não lucra e o emprego fica em risco.

Na vida real, os 5.862 metalúrgicos da GM em São Caetano têm de montar um carro a cada 68 segundos. O pessoal tem de estar absolutamente concentrado e motivado para atingir a máxima produtividade, com foco na qualidade.

O segredo da manufatura da GM é baseado no seu GMS (Sistema Global de Manufatura). O programa padroniza os processos de montagem em todas as fábricas do mundo. Os cinco princípios da GM são: padronização, desenvolvimento de pessoas, qualidade, curto prazo de entrega e melhoria contínua.