Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Ganhos de produtividade recuam no mês de agosto

Cibelle Bouças, de São Paulo

A indústria apresentou resultados menos alvissareiros em agosto, resultado da queda de 1,3% na produção do mês comparado a julho (com ajuste sazonal) e da retração de 0,6% no número de horas pagas, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No mês, a produtividade recuou 0,1%, resultado pouco superior à queda de 0,5% na folha de pagamentos real média, o que garantiu à indústria uma redução no custo do trabalho de 0,4%.

No acumulado de 12 meses até agosto, o aumento da produtividade foi de 3,68%, intervalo em que a produção industrial avançou 6,45% e o número de horas pagas cresceu menos, 2,67%. O resultado, entretanto, ficou abaixo dos ganhos de produtividade registrados nos 12 meses até julho (4,09%) e junho (4,08%). O ganho de eficiência nos 12 meses até agosto foi muito similar à elevação nos gastos com a folha de pagamento média real (3,49%), fazendo com que o custo unitário do trabalho ficasse próximo da estabilidade: o indicador apresentou resultado negativo de 0,18%. Nos 12 meses até julho o recuo foi de 0,45% .

A economista Cláudia Oshiro, da Tendências Consultoria Integrada, pondera que os resultados de agosto poderiam ter sido melhores, se não tivessem sido particularmente afetados pelo efeito-calendário (agosto teve 2 dias úteis a menos que em 2007) e pela paralisação técnica da refinaria Repar, da Petrobras, que contribuiu para a queda de 4,1% na produção do setor de refino de petróleo e álcool no mês. “Setembro tende a apresentar um resultado melhor, porque o mês terá três dias úteis a mais e é provável que a produção cresça. Mas o que realmente preocupa são os reajustes salariais negociados agora, que têm grande peso na área industrial e podem pressionar custos de produção, principalmente no quarto trimestre”, diz.

A Tendências projeta para setembro crescimento de 10% na produção industrial em comparação com o mesmo intervalo do ano passado, e de 1,8% sobre agosto, com ajuste sazonal. “Talvez setembro tenha um resultado bom, mas outubro, novembro e dezembro terão resultados mais fracos, até porque a base de comparação é alta”, observa Cláudia. A produção vai crescer menos e os dissídios provocarão aumento nos gastos com salários. A conseqüência, prevê a economista, tende a ser uma deterioração nos dados de produtividade e custo do trabalho.

Uma das preocupações da economista reside nos reajustes concedidos aos metalúrgicos, categoria que está na base de seis dos 11 setores da indústria de transformação, e que apresentaram bons resultados em termos de ganhos de produtividade e custo do trabalho. Os metalúrgicos do setor automotivo, por exemplo, receberão aumento real de 3,6%, que será pago em um período em que parte das montadoras já inicia férias coletivas para reduzir o nível de produção.

No acumulado de 12 meses até agosto, o segmento de meios de transporte apresentou os melhores resultados da indústria de transformação, com ganho de produtividade de 7,11% e redução do custo unitário do trabalho de 3,85%. Outros setores com maior peso na indústria, como petroleiros e químicos, negociam o reajuste salarial até novembro.

De acordo com dados do IBGE, o setor têxtil foi o que apresentou o maior incremento em produtividade, de 10,85%, mas ele decorreu da redução das horas pagas em 4,48%, o que levou à redução do custo do trabalho em 2,22%.

Para Thaís Marzola Zara, economista da Rosenberg Consultores, a desaceleração o ritmo de atividade industrial esperada para os próximos meses fará declinarem as taxas de produtividade. A consultoria prevê para o ano fechado de 2008 um ganho médio de produtividade de 3,3% – abaixo do acumulado em 12 meses até agosto e inferior ao ganho de eficiência de 4,1% obtido no ano passado.

Para Rogério César de Souza, consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), enquanto a produtividade da indústria crescer acima de 3%, o saldo será positivo porque o aumento dos salários estimulará o consumo e, em conseqüência, a produção industrial. “Mas também é possível que em alguns setores o aumento na folha de pagamento real supere os ganhos de produtividade, o que ofereceria um risco inflacionário”, avalia. Segundo o economista, é preciso aguardar a evolução da crise financeira externa e seus efeitos sobre o mercado doméstico, bem como dos pacotes anunciados pelos governos europeus e americano, para dimensionar os efeitos sobre a produção industrial brasileira.

Mariano Francisco Laplane, diretor do Instituto de Economia da Unicamp, pondera que, no primeiro semestre, as indústrias conseguiram absorver o aumento nos custos de matérias-primas sem repassar toda alta ao varejo porque o custo dos salários ficou “contido”. “Agora as indústrias têm pressão da renegociação salarial e uma possível pressão vinda do balanço entre depreciação do real e variação nos preços das commodities. A avaliação de custos pelas indústrias tornou-se uma tarefa árdua.”