Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Galpão ocioso disfarça agitação da Foxconn no interior de SP


Gustavo Brigatto e Talita Moreira
| De Jundiaí e de São Paulo

Foto: Cláudio Belli/Valor
Condomínio onde poderá ser feita a produção da Apple, em Jundiaí, é ocupado principalmente por empresas de logística

Na entrada do condomínio que pode abrigar a produção inicial da Apple no país, em Jundiaí (SP), uma placa indica que os oito galpões que permaneciam ociosos já têm destino certo: “locado”, diz o letreiro. “Só falta colocar o nome da Foxconn “, afirma um funcionário.

É ali que a taiwanesa Foxconn vai montar os iPhones e os iPads para a companhia americana, até que fique pronta uma fábrica definitiva onde produzirá, sob encomenda, os aparelhos da Apple no Brasil. A expectativa do governo federal é de que a produção comece em julho. A Foxconn, entretanto, não confirma a escolha da cidade que receberá a produção.

Por enquanto, a movimentação no local pouco lembra a agitação de uma porta de fábrica. O entra e sai de caminhões está relacionado, principalmente, às empresas de logística que ocupam a maioria dos 21 galpões que constituem o condomínio – aberto há cerca de um ano na estrada que liga Jundiaí a Itapeva. Uma dessas companhias é a Syncreon, operador logístico da Apple, que recentemente transferiu algumas atividades de Santo André, no ABC paulista, para Jundiaí.

A cerca de cinco quilômetros dali, na fábrica que a Foxconn tem nas margens da rodovia dos Bandeirantes, a produção da Apple é tratada com sigilo. No entanto, os primeiros sinais de mudança começam a ser notados pelos funcionários. O Valor apurou que alguns gerentes e diretores têm sido sondados para se transferir para o novo projeto. Um diretor teria sido enviado à China para aprender sobre a fabricação dos tablets e celulares da companhia dirigida por Steve Jobs.

Impacto nos preços vai depender de enquadramento dos produtos no Processo Produtivo Básico

Enquanto surgem as primeiras definições dentro da Foxconn, do lado de fora dos portões permanecem muitas dúvidas. A principal delas é a que preço o iPad será vendido nas lojas – o que depende dos incentivos fiscais que a empresa poderá receber e de como o produto será classificado do ponto de vista tributário.

As empresas de tecnologia fazem lobby para que os tablets recebam a mesma classificação que os notebooks. Por influência da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), o deputado Beto Albuquerque apresentou um pedido de emenda à Medida Provisória 517 para que seja dado esse tratamento fiscal aos tablets. A MP, que será votada na Câmara, dispõe sobre medidas relativas ao Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), entre outros temas.

Segundo cálculos da Abinee, a equiparação aos notebooks permitiria reduzir em 30% o custo de um tablet produzido no Brasil, quando comparado a um importado. A principal razão é que seria possível enquadrar os equipamentos no Processo Produtivo Básico (PPB) dos computadores, que contempla isenção de PIS e Cofins, além de outros benefícios.

Se essa economia fosse integralmente repassada ao consumidor, o preço do iPad mais simples poderia cair para R$ 1.100. Segundo levantamento feito em dezembro pela publicação “Macworld”, essa versão custa R$ 1.649 – o que coloca o Brasil como o país onde o produto custa mais caro.

A redução de preços, na prática, não deverá ser tão grande. Ainda é difícil estimar o valor final do produto, já que isso depende de outros incentivos que a Foxconn poderá receber. No entanto, o analista Luciano Crippa, do IDC, lembra que ao lado da redução de impostos virá um custo adicional de mão de obra – que não é baixo no país.

Companhias que já fabricam tablets no Brasil – casos da Samsung, da Motorola e, agora, da STI – por enquanto o fazem sem PPB.

“A classificação tributária é algo simples de se resolver. O que o governo precisa negociar são as contrapartidas que a Apple tem a oferecer”, avalia Ivair Rodrigues, consultor da IT Data.

A prefeitura de Jundiaí – que não confirma que a fábrica será na cidade – diz que não concede benefícios fiscais e que as vantagens do município são sua infraestrutura e a proximidade de São Paulo e Campinas.

A Foxconn se instalou em Jundiaí no fim de 2007. Atualmente, mantém na cidade linhas de produção da Dell, HP e Sony. Por questão de sigilo industrial, todas são operadas de forma independente – inclusive, é rara a transferência de funcionários entre as montagens de uma e outra marca.

A unidade abriga cerca de mil trabalhadores, mas o número chega a 3,5 mil no segundo semestre, com as contratações temporárias para atender à demanda de fim de ano. A companhia recruta mão de obra em lojas, empresas de telemarketing e até donas de casa, diz Evandro Santos, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Jundiaí.

O salário inicial de um funcionário de chão de fábrica, na Foxconn, é de R$ 1.045 mensais. No ano passado, os trabalhadores receberam também R$ 2 mil de participação nos lucros.

Santos afirma que a rotatividade na companhia é alta, mas pondera que o sindicato não recebe queixas diferentes das apresentadas por trabalhadores de outras empresas. “Aqui, as condições de trabalho são brasileiras”, diz.