Saída de capital das aplicações ocasionada pelo agravamento da crise faz de 2008 o pior ano para esse mercado desde 2002
Um dos destinos preferidos desses recursos tem sido os CDBs; estoque passou de R$ 360 bilhões em dezembro para R$ 610 bilhões agora
FABRICIO VIEIRA – DA REPORTAGEM LOCAL
O agravamento da crise e as incertezas quanto a seus desdobramentos não tem poupado o mercado de fundos. Apenas na primeira semana de outubro, mais R$ 5,84 bilhões deixaram os fundos de investimento. A saída de capital das aplicações faz de 2008 o pior ano para o mercado de fundos desde 2002.
Os resgates acumulados no ano alcançam os R$ 33,43 bilhões. Com isso, o patrimônio da indústria de fundos está, pela primeira vez no ano, menor do que o registrado no fim de 2007. No último dia 7, o patrimônio total dos fundos somava R$ 1,113 trilhão -em dezembro do ano passado, o patrimônio era de R$ 1,157 trilhão.
Desde 2002 a indústria de fundos não perdia recursos. Naquele ano, os resgates foram maiores que as aplicações em R$ 63,82 bilhões.
Os dados da Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento) mostram que são os fundos multimercados os mais punidos neste ano de crise. Na categoria, os resgates batem as aplicações no ano em R$ 38,93 bilhões. Os multimercados podem aplicar em diferentes segmentos, como ações e títulos públicos e privados que pagam juros.
“Não surpreende que com o aperto da crise os resgates se mantenham bem elevados. Em momentos como o atual, muita gente não fica confortável nem na renda fixa e acaba saindo até de fundos dessa aplicação”, afirma Luiz Antonio Vaz das Neves, analista da KNA Consultores. “O problema é sair em uma má hora e ter de aceitar as perdas acumuladas até o momento”, completa.
Outra categoria que tem perdido muito dinheiro é a de renda fixa. Como boa parte das carteiras dos fundos de renda fixa é formada por papéis prefixados, a elevação abrupta das taxas futuras de juros acabou por fazer com que a rentabilidade da categoria passasse a ficar menos interessante neste segundo semestre.
No acumulado do ano, a captação líquida dos fundos de renda fixa está negativa em R$ 27,14 bilhões.
Enquanto os fundos DI renderam na média 1,06% em setembro, o retorno dos de renda fixa ficou em torno de 0,95% no mês. Os fundos DI carregam títulos públicos e privados pós-fixados em suas carteiras. Isso significa que seus retornos crescem se as taxas aumentarem no futuro.
A captação líquida dos fundos DI no ano está positiva, em R$ 2,74 bilhões.
Fuga de recursos
Um dos destinos preferidos dos recursos que estão abandonando os fundos tem sido os CDBs (Certificados de Depósito Bancário), que são títulos oferecidos pelos bancos a seus clientes e que pagam juros.
O estoque de CDBs registrado na Cetip saiu de R$ 360 bilhões em dezembro passado para R$ 610 bilhões agora. Com o aumento da procura pela aplicação, os volumes emitidos, que foram de R$ 47 bilhões em dezembro do ano passado, alcançaram os R$ 132,2 bilhões apenas em setembro.
Os bancos têm elevado nos últimos meses as taxas que pagam para os clientes que adquirem os CDBs. Além de juros mais atrativos, os CDBs não cobram taxa de administração, que estão presentes nos fundos de investimento.
A poupança também tem recebido parte das economias dos brasileiros. Entre janeiro e setembro, a caderneta de poupança acumulou captação líquida de R$ 10 bilhões, segundo dados do Banco Central. Apesar da rentabilidade menos robusta que a oferecida por outras aplicações, a poupança costuma ser procurada como um porto seguro, por representar menos riscos nos períodos de crise, como o enfrentado atualmente.