Alexsander Wilson Gonçalves
Miguel Torres, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e da CNTM e vice da Força Sindical, recebe livro Paraíso Perdido das mãos do autor Frei Betto, em visita ao Sindicato no dia 7 de junho de 2017
Frei Betto
Há quem se mova, se desinstale e se mobilize em função de causas políticas. Nos últimos tempos, estudantes ocuparam escolas e, agora, manifestantes gritam nas ruas FORA TEMER!
Ora, entusiasmo é bom na ação política, mas não forma militantes. Passado o embalo, tudo volta como antes no quartel de Abrantes. O que forma militantes revolucionários para toda a vida é a articulação entre prática e teoria.
A prática se dá em movimentos sociais, sindicatos, partidos ou mesmo instâncias pastorais, como Comunidades Eclesiais de Base. A formação teórica exige ferramentas adequadas para se compreender a realidade e saber como transformá-la.
Nos anos da ditadura se investiu nessa dupla face da moeda: prática e teoria. Movimentos sociais se multiplicavam pelo país, e equipes de educação popular, que cuidavam da parte teórica, se proliferaram Brasil afora. O movimento sindical e o PT chegaram a dirigir, em Cajamar (SP), uma escola-hotel para a qual afluíam militantes de todos os estados. Hoje, o MST mantém, em Guararema (SP), a Escola Florestan Fernandes para aprimorar a formação de seus militantes.
Fico me perguntando o que foi feito dos jovens que ocuparam as escolas no início do ano. Cessado o movimento, findou o entusiasmo? Quem lhes ofereceu ferramentas teóricas para que compreendessem que a luta de um setor da sociedade é a luta de um povo, é o antagonismo da liberdade contra a opressão, é a busca de uma sociedade na qual o capital deixe de prevalecer sobre os direitos humanos?
As ferramentas teóricas estão disponíveis e são de fácil acesso: as obras clássicas do marxismo; os livros de Paulo Freire; a história das revoluções sociais; a história da América Latina e do Brasil.
Mudanças sociais não são feitas apenas com entusiasmos. São feitas sobretudo com convicções arraigadas, capazes de tornar os e as militantes imunes às três principais tentações na luta política: poder, dinheiro e sexo.
Quando se foca a luta em alcançar o poder e/ou nele se manter, troca-se um projeto de nação por uma feira de cargos e salários. Quando se corre atrás do dinheiro e do aumento do patrimônio pessoal, cede-se à corrupção. Quando se cai na promiscuidade, ferindo sentimentos de companheiras e companheiros, mina-se a base ética da construção de homens e mulheres novos.
Na história do Brasil há suficientes exemplos de militantes que se destacaram por suas firmes convicções ideológicas e práticas revolucionárias: Tiradentes, Prestes, Olga Benário, Mauricio Grabois, Marighella, Apolônio de Carvalho, Frei Tito, Chico Mendes, Margarida Alves, irmã Dorothy Stang, padre Josimo etc.
Basta estudar suas histórias para saber como se formaram e foram capazes de enfrentar todo tipo de adversidades para se manterem fiéis à causa de libertação de nosso povo.
Frei Betto é escritor, autor de “Batismo de sangue” (Rocco), entre outros livros.