Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos

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Fim de acordos e custo salarial elevam risco de demissões

Cibelle Bouças, de São Paulo
24/04/2009
 

O mercado de trabalho passa por uma nova fase de tensão com a finalização dos acordos de redução de jornada, licença remunerada e suspensão temporária dos contratos de trabalho. Setores da indústria voltados à exportação que ainda mantêm os funcionários com jornada reduzida apresentaram aumento no custo do trabalho – fator que pode levar as empresas a fazer novos ajustes no quadro de pessoal. O fim dos acordos de jornada reduzida, que garantiam estabilidade aos trabalhadores, preocupa sindicatos.

A produtividade na indústria, que representa a relação entre a produção e o número de horas pagas, cresceu 1,2% em 2008. Nos 12 meses até janeiro, inverteu o sinal e caiu 0,4% e, nos 12 meses até fevereiro, a retração foi de 1,6%. O custo unitário do trabalho, que mede a relação entre a produtividade e os gastos com a folha individual de pagamento já descontada a inflação, também apresentou piora. A alta neste custo, que nos 12 meses do ano passado ficou em 2,8%, passou para 4,4% no acumulado até janeiro e para 6,1% até fevereiro – esse último resultado inclui o impacto do reajuste do salário mínimo e o pagamento de horas extras em alguns setores.

Setorialmente, o custo do do trabalho apresenta comportamentos distintos. Setores industriais que efetuaram volumes significativos de dispensas nos últimos meses apresentaram redução neste indicador no dado acumulado até fevereiro (12 meses), o que significa que os ajustes feitos na folha de pagamento (com corte de pessoal ou redução de salários) foram suficientes para equilibrar os gastos. Este foi o caso das indústrias de fumo (queda de 1%), vestuário (-0,4%) e papel e gráfica (-4%). Outros setores apresentaram expansão no custo do trabalho e são apontados como setores que possivelmente terão de fazer novos ajustes em seu quadro de pessoal, como produtos químicos (10,4%), coque e refino (18,1%), metalurgia básica (13,9%), produtos de metal fora máquinas e equipamentos (13,9%), máquinas e equipamentos (8%), aparelhos elétricos e eletrônicos (10%).

Enquanto as montadoras e seus fornecedores diretos encerraram antes ou não renovaram acordos de redução de jornada (voltando à produção normal), nos sindicatos preocupa o fim dos acordos em empresas cuja produção é destinada à exportação ou a setores que ainda não dão sinais de recuperação no mercado interno. Representantes dos trabalhadores buscam alternativas para evitar uma nova onda de demissões. Em Jundiaí, o Sindicato dos Metalúrgicos local renovou para o período de maio a julho os acordos de redução de jornada e salários fechados com as empresas de autopeças Sifco e ThyssenKrupp em janeiro e que venciam neste mês. Empresas que fornecem para montadoras de automóveis (Neumayer Tekfor, Eckerle e AOC) encerraram o acordo de redução de jornada um mês antes da data prevista.

De acordo com o vice-presidente do sindicato, Luís Carlos de Oliveira, há preocupação com as autopeças que produzem para exportadores e para o mercado de caminhões, ônibus e máquinas agrícolas, que ainda não se recuperaram da crise. “Há uma expectativa de que os US$ 5 bilhões repassados pelo governo americano à GM estimulem o mercado americano e, com isso, as empresas voltem a exportar para lá”, observa.

Na Zona Franca de Manaus, os setores de eletroeletrônicos e duas rodas mantêm até maio os acordos de suspensão temporária dos contratos de trabalho negociados entre dezembro e janeiro. Mantêm empregados com contratos suspensos as empresas Philips, Proview, Motopraxx, Sundown, Eucopeq, Envision, Dafra e Yamaha, envolvendo 3 mil trabalhadores. Das empresas que fizeram acordos de redução de jornada na Zona Franca, apenas a Salcomp voltou ao ritmo normal de trabalho – no seu caso, com 45 dias de antecedência.

De acordo com o secretário de comunicação do Sindicato dos Metalúrgicos de Manaus, Sidney Malaquias, as indústrias de duas rodas já operam com quase 85% da capacidade utilizada normalmente, mas o segmento de eletroeletrônicos ainda não deu sinais de retomada. “A produção melhorou, mas é uma recuperação muito tímida”, diz. Conforme Malaquias, a decisão do governo de prorrogar por mais 90 dias a redução da Cofins e do ICMS sobre energia elétrica para os setores de duas rodas, termoplásticos e papel e papelão em troca da estabilidade dos funcionários contribuiu para reduzir custos das indústrias e incentivá-las a manter o número de empregados. “O setor de eletroeletrônicos não quis fazer o acordo com o governo, o que para o sindicato é motivo de preocupação para o meio do ano, quando a suspensão temporária dos contratos de trabalho termina”, diz Malaquias.

Na avaliação do presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região, Adilson dos Santos, a recente melhora no nível do emprego e das vendas é reflexo apenas das vantagens tributárias concedidas pelo governo federal. “Não são indicadores de que a crise está acabando e que o mercado consumidor vai bem, tanto que o governo prorrogou a redução do IPI para automóveis”, observa. Na região, diz, o volume de demissões diminuiu, mas o ciclo de ajustes ainda não terminou.

A economista do Santander Luiza Rodrigues acrescenta outro fator de risco. À medida que os 753,5 mil trabalhadores demitidos nos últimos cinco meses deixarem de receber o seguro-desemprego, as vendas no comércio tendem a uma desaceleração mais forte, configurando um risco de demissões ou de fim das contratações no varejo. “Grande parte do ajuste foi feito na área industrial. Comércio e serviços começam agora a enfrentar uma desaceleração mais forte e devem fazer um ajuste mais significativo que as indústrias. O primeiro semestre não tende a ser bom para o mercado de trabalho”, afirma.

Luiza estima, porém, recuperação no segundo semestre, podendo o mercado formal encerrar com geração líquida de 500 mil a 800 mil postos de trabalho – longe dos 1,452 milhão gerados em 2008 e ainda abaixo do acumulado em 12 meses até março (840 mil). A taxa média de desemprego para o ano está estimada em 9,3%, ante 7,9% em 2008.

A LCA Consultores prevê uma taxa média um pouco menor, de 8,7%. Para o economista Fábio Romão, o principal ajuste no mercado de trabalho já foi feito entre novembro e fevereiro. “Pode haver alguma deterioração, mas longe de alcançar a intensidade observada no fim do ano”, diz. Romão prevê para o ano uma geração líquida de 800 mil postos de trabalho com carteira assinada. A equipe econômica do Bradesco aposta em um saldo menor de empregos formais no fim do ano, próximo de 300 mil vagas, caso a recuperação do mercado formal mantenha-se no mesmo ritmo observado em março.