Valor Econômico
Carlos Giffoni
De São Paulo
A indústria de transformação e a economia brasileira poderiam fechar o ano de 2011 com resultados bem mais empolgantes não fossem falhas de gerência do governo de Dilma Rousseff, na avaliação de Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Para ele, o aumento da taxa básica de juros (Selic) durante o primeiro semestre, a valorização do real, que abriu espaço para uma “invasão” de importados, e a elevada carga tributária conduziram o setor a um cenário de pessimismo, o que, inclusive, colocou o discurso de desindustrialização na boca de muitos empresários no país.
As medidas de contenção adotadas entre o fim do ano passado e o começo do ano funcionaram e os resultados do PIB do terceiro trimestre demonstram isso, na avaliação de Skaf. Enquanto a economia ficou estável em relação ao segundo trimestre, a indústria de transformação recuou 1,4% em igual comparação. A previsão da Fiesp é que o setor cresça 0,9% no ano. E as expectativas para 2012 não são muito mais animadoras: avanço de 1,5% no setor.
“Nossos resultados poderiam ser melhores. A crise nem nos atingiu, mas a nossa economia já esfriou”, diz Skaf. Durante balanço anual da Fiesp em São Paulo, ele foi categórico ao apontar falhas do governo de Dilma na condução de políticas industriais em um ano que passou em branco. “A marca do governo de Fernando Henrique Cardoso foi a Lei de Responsabilidade Fiscal e a estabilidade monetária; a de Lula, a ascensão da classe média e o Bolsa Família. E a de Dilma? A troca de ministros? Isso é muito pouco”, avaliou.
Em outro núcleo industrial, a avaliação é diferente. Júlio Gomes de Almeida, consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), acredita que a postura adotada pelo governo foi necessária e destaca pontos positivos. “O governo fez tudo o que poderia fazer. Foi criado o plano Brasil Maior, incentivando inovação e produtividade, além de algumas medidas para conter o câmbio e baixar os juros. São iniciativas importantes, mas limitadas.”
Para o economista, a dimensão dos problemas da indústria é o que faz parecer que faltaram iniciativas. “A situação da indústria nacional se agravou com o assédio ao nosso mercado, fruto da crise externa. O setor passa por um momento extremamente grave e isso faz parecer que tudo que é feito pelo governo seja pouco”, diz.
Na segunda-feira, o ex-presidente do Iedi, Josué Gomes da Silva, do Coteminas, organizou um jantar com diferentes empresários e integrantes da cúpula “industrial” do governo – os ministros do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, e da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, e o presidente do BNDES, Luciano Coutinho. A preocupação com a importação e a crise externa, partilhada pelos três, fez parte do cardápio.
Na Fiesp, o discurso dos industriais não variou ao longo do ano. A tríade juros altos, penetração dos importados com o real valorizado e elevada carga tributária foi sempre apontada como o grande responsável pelo desempenho pífio da indústria. O tom é que ficou mais contundente ontem, quando a ideia de “falta de marca” do governo Dilma virou mantra.
No mês passado, a entidade lançou o “Jurômetro”, que mede os gastos do governo no pagamento de juros da dívida brasileira em 2011. A previsão é que, até o fim do ano, esse gasto chegue a R$ 237 bilhões. “Os juros altos tiram a competitividade de quem exporta. O poder de compra do brasileiro aumentou, mas quem capturou essa diferença foram os produtos importados”, afirma José Ricardo Roriz, diretor do Departamento de Tecnologia e Competitividade da Fiesp. “Estamos vivendo um câmbio irreal. Muitas vezes a empresa sente que é mais fácil importar do que produzir”, completa Skaf.
O presidente da Fiesp aponta uma falha na equipe econômica de defesa comercial. Segundo ele, no começo de 2011 houve a promessa de contratação de 120 pessoas para essa função, mas, até agora, nenhum concurso público foi realizado. “Não é uma questão de competência de quem está lá, mas temos poucas pessoas para olhar os interesses do Brasil. Os processos demoram”, avalia.
Skaf ainda disse que o Brasil temeu crescer. “Além do aumento dos juros no primeiro semestre, o governo reduziu o nível de atividade com as medidas macroprudenciais e freou a concessão de crédito, com medo do crescimento. Crescimento puxa empreendedorismo. Ou o governo errou, ou aplicou doses erradas de contenção.”
Para Almeida, o aumento do salário mínimo ajudará na recuperação industrial em 2012, principalmente em alimentos e bebidas, onde o avanço da remuneração é fortemente sentido. As previsões da Fiesp apontam para um crescimento de 2,8% da economia neste ano. Para 2012, a previsão é de nova desaceleração do PIB, para 2,6%.
O emprego industrial, aponta a Fiesp, deve crescer 0,1% neste ano e 0,4% em 2012. “Não estamos com desemprego, mas perdemos a oportunidade de gerar muito mais”, diz Skaf. Segundo eles, o volume de importações do Brasil em 2011 corresponderia à criação de 2,2 milhões de empregos no país.