Estudo aponta que, em SP, cresceu a diferença de rendimento em relação às mulheres
Segundo Dieese/Seade, desemprego masculino teve queda maior (de 12,3% para 10,7%) que o feminino (de 17,8% para 16,5%)
NATÁLIA PAIVA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O crescimento econômico em 2008 -alcançado antes da retração do último trimestre- beneficiou mais os homens. De acordo com estudos do Dieese e da Seade divulgados ontem, a queda na taxa de desemprego foi maior entre eles (de 12,3% para 10,7%) do que entre elas (de 17,8% para 16,5%), e a diferença entre as taxas chegou ao maior número em 20 anos. Aliado a isso, em 2008 cresceu ainda mais a diferença entre os ganhos dos dois gêneros.
O rendimento médio real por hora das mulheres ocupadas apresentou variação negativa de 0,9% em relação ao ano anterior -os R$ 5,76 por hora passaram a equivaler a 76,4% do pago aos homens (R$ 7,53). Eles tiveram leve aumento de ganhos (1%), o que ampliou ainda mais a discrepância.
Para a economista do Dieese Patrícia Lino, uma das responsáveis pela pesquisa, o que justifica o aumento da diferença é o fato de o crescimento econômico do ano passado ter sido puxado principalmente pela indústria e pela construção civil, setores que empregam mais mão-de-obra masculina.
“Então, o salário deles nesses setores puxou a média dos rendimentos masculinos para cima. No caso da mulher, houve crescimento maior no comércio e nos serviços, setores em que houve diminuição de rendimento, que puxou sua média para baixo.” No ano passado, o crescimento da ocupação entre as mulheres (que, em geral, foi de 5,6%, ante 3,8% entre os homens) foi maior nos setores de serviços (7,6%) e comércio (5,9%), em que a rotatividade é maior e os salários, menores.
Neste ano, os ventos devem mudar. “Como em 2009 a gente imagina que a desaceleração de comércio e serviços vai se dar em menor proporção do que na indústria e na construção civil, a mão-de-obra feminina deve ser favorecida”, projeta o economista Fábio Romão, da LCA. Romão vai ao encontro de estudo do Ipea divulgado no mês passado, que indicou que em 2009 as mulheres devem ser beneficiadas, por atuarem mais nos setores menos afetados.
Em 2008, a participação de mulheres no mercado de trabalho voltou a crescer: atingiu 56,4%, ante 55,1% em 2007.
“Pobreza feminina”
Segundo o Dieese e a Seade, as mulheres sem marido e com filhos são a ponta mais frágil do mercado de trabalho, apesar de terem participação expressiva. Das famílias chefiadas por mulheres, 64,8% estiveram no mercado de trabalho em 2008, mais de 1/4 como empregadas domésticas. O estudo apontou que 62,5% dessas famílias estão entre os 50% mais pobres.
A socióloga da Seade Márcia Guerra diz que essas famílias, cujas mães têm inserção em postos de menor qualidade e, muitas vezes, sem garantias trabalhistas, são as mais empobrecidas. Mulheres sem marido e com filhos possuem a menor taxa de assalariamento (41,6%) entre os quatro grupos analisados -casada e com filhos, casada e sem filhos e sozinha- e o menor índice de emprego com carteira assinada (31,4%).
Quando, sem marido, Ana Cristina Carlos, 40, teve de sustentar a filha, recorreu ao serviço doméstico -no qual se ocupa até hoje, 22 anos depois. Ela está desempregada desde janeiro -quando se recusou a ter carga horária aumentada e salário mantido em R$ 450, sem carteira assinada. “É uma profissão que ninguém reconhece e você se desgasta muito”, diz.