O Globo
Taxa de desocupação nos 27 países da União Europeia atingiu 9,8% em outubro, maior patamar em 16 anos
LONDRES e BERLIM — Em meio a uma de suas mais graves crises políticas, a União Europeia (UE) está em sintonia num aspecto indesejado: o desemprego.
Segundo dados divulgados nesta quinta-feira pela agência de estatísticas Eurostat, o índice de desemprego dos 27 países da UE atingiu 9,8% em outubro, o maior patamar da série histórica, iniciada em 1995. São 23 milhões sem emprego, e 2011 foi um dos piores anos na História recente para procurar emprego no continente.
A maioria (16 milhões) está nos 17 países que compõem a zona do euro, cujo índice atingiu 10,3%, o maior desde a criação do euro, em 1999. Mas há diferenças. Enquanto Áustria, Luxemburgo e Holanda estão abaixo de 5%, a Espanha tem o impressionante índice de 22,8%. Superou até a Grécia, que registrou desemprego de 17,7% no terceiro trimestre.
Já na Alemanha o número de desempregados recuou a 2,7 milhões, com a menor taxa desde 1991: 6,4%. Mas o de subempregados cresceu, para 3,9 milhões. E os analistas mostram pessimismo para 2012, por causa da crise da dívida no bloco. Mesmo assim, o “milagrinho econômico alemão”, como é chamado, é motivo de admiração. No fim dos anos 90, eram cinco milhões de desempregados.
A principal causa da queda do desemprego alemão foi a chamada “agenda 2010”, criada pelo ex-chanceler Gerhard Schröder (1998-2005), e a política de arrocho salarial. Até os sindicatos ajudaram, com renúncia a aumentos salariais, o que reduziu os custos de produção e elevou o superávit comercial.
Para Heiner Flassbeck, ex-vice-ministro da Fazenda, o arrocho salarial criou um amplo subemprego e pesou na crise do euro. Isso porque a competitividade alemã deixou para trás as dos países do Sul da Europa.
— Os salários não aumentaram por cerca de dez anos, o que reduziu o consumo interno e produziu enormes superávits — disse Flassbeck, acrescentando que a Alemanha contribuiria para solucionar a crise se começasse a ter déficits.
A Alemanha ainda planeja um programa no estilo do green card americano para atrair mão de obra especializada. Segundo a ministra do Trabalho, Ursula von der Leyen, especialistas dos setores de matemática, informática, ciências naturais e técnicas de fora da UE podem ser contratados por empresas alemãs a partir de um salário de 33 mil anuais. Antes, o limite era de 66 mil anuais.
E o cenário à frente é pessimista. Relatório da consultoria Ernst & Young divulgado nesta quinta-feira prevê retração da economia no trimestre corrente e no próximo, e crescimento de apenas 0,1% em 2012, o que deve manter o desemprego no patamar atual. Não ajuda o fato de que diversos países da UE adotaram pacotes de austeridade, que incluem demissões no serviço público.
— A Europa precisa de crescimento. A atual estratégia corre mais o risco de erodir a confiança do mercado do que de reforçá-la — afirmou Simon Tilford, economista do Centro para a Reforma Europeia.