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EUA detalham plano de US$ 1 trilhão


Leandro Modé

O governo de Barack Obama finalmente revelou detalhes do plano de resgate do sistema financeiro dos EUA (originalmente anunciado em 10 de fevereiro) e levou euforia ao mercado global ontem. O objetivo principal, segundo o secretário do Tesouro, Timothy Geithner, é tirar cerca de US$ 1 trilhão em ativos tóxicos dos balanços dos bancos, o que permitiria a retomada dos empréstimos. Com isso, a economia voltaria a girar.

Apesar do otimismo, sobraram dúvidas sobre a eficácia do programa. A começar pelo Prêmio Nobel de Economia Paul Krugman, que disse tratar-se de uma “bagunça terrível”. O cerne do plano é a participação do setor privado no resgate dos bancos – tanto que foi batizado de Programa de Investimento em Parceria Público-Privada.

Obama reconheceu que o programa não dará resultados no curto prazo. “Ainda temos um longo caminho e muito trabalho a fazer”, afirmou. Para Geithner, o maior problema, hoje, é que, “depois de tanta irresponsabilidade, o mercado não tome risco suficiente agora”.

A proposta prevê a criação de fundos que comprariam, em leilões, ativos podres que hoje pertencem às instituições financeiras. Esses fundos seriam de investidores comuns e administrados por empresas de gestão como a Pimco e a Black Rock. Os leilões ficariam a cargo da Corporação Federal de Seguro de Depósito (FDIC).

Para atrair investidores privados, o governo ofereceu alguns atrativos. O primeiro é uma garantia da maior parte do valor de compra dos ativos. Além disso, o Tesouro se comprometeria a arcar com parte do desembolso. Exemplo prático: um banco tem uma carteira que, em tese, vale 10 – mas, nas condições atuais, é ilíquida.

O banco faz um leilão dos títulos e arrecada, por hipótese, só 8. O investidor privado entraria com 1 e o Tesouro, com 1. Os 6 restantes seriam vendidos pelo fundo no mercado, com garantia do governo. Se o plano restaurar a confiança e o ativo se valorizar para, diga-se, 12, o fundo vende o ativo e embolsa os 12.

Devolve 7 para os investidores que compraram os papéis de sua emissão (6 mais juros). Os outros 5 seriam divididos entre o Tesouro e os investidores privados. Ou seja, ambos receberiam 2,5 depois de investir apenas 1. Se der errado, o Tesouro arcaria com 7 de prejuízo e o investidor privado, só com 1.

Para Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central (BC), a grande dúvida é que o problema desses ativos não é simples falta de confiança, como muitos acreditam. Para ele, há um problema real em dar preço aos papéis, decorrente da própria crise – com menos emprego, aumenta o calote.

Outro ex-diretor do BC, Paulo Vieira da Cunha, avalia que o governo tenta se equilibrar entre várias restrições – politicamente, o resgate de bancos tem sido muito custoso.