Um ambiente barulhento, onde se passa os dias apertando botões e tentando aparar as arestas das frias peças de metal. Para alguns, um lugar bastante acolhedor, porque de lá sai o sustento da família. Mas um fantasma aterrorizante anda rondando esses espaços. O fantasma do desemprego está louco para atacar.
“Nós temos hoje uma ociosidade na companhia por volta de 30 a 40%, então nós precisamos eliminar essa ociosidade, uma redução de 40%”, afirma o gerente de Recursos Humanos Élcio Fornari.
Como fazer isso? O único jeito encontrado foi continuar apertando os parafusos de sempre e começar a apertar o orçamento, reduzindo o salário dos funcionários e a jornada de trabalho. Se for para continuar trabalhando, por eles, está tudo em paz.
“Como está a crise aí fora, está difícil arrumar emprego aí fora. Então, reduz o salário, mas eu vou garantir meu emprego aqui dentro”, diz o operador de máquinas Nivaldo Soares Pereira.
A empresa fez esse acordo direto com o sindicato da categoria, antes do governo regulamentar o programa de proteção ao emprego, que foi divulgado nesta terça-feira (21).
É como uma questão de física. Imagina que uma folha de papel representa a empresa, e outra os trabalhadores. Com a crise a empresa encolhe, e para a tesoura das demissões não cortar forte o outro lado da questão, os trabalhadores se apertam e continuam torcendo para empresa voltar a crescer.
Para as centrais sindicais, qualquer medida que evite as demissões é bem-vinda. Mas ela depende de negociação.
“Isso vai ser resolvido empresa por empresa, se o trabalhador e o sindicato assim negociarem”, explica Miguel Torres, presidente da CNTM e da Força Sindical.
Só que para um professor da USP o programa tem um grande problema, que é o critério usado para definir qual empresa pode participar: só entra a empresa que aumentou em até 1% o quadro de funcionários no período de um ano.
“Pode ser um tiro no pé até. Porque você veja: quem demitiu até agora? Indústria e construção civil. Quem ainda não demitiu quase nada e portanto não vai poder usar o tal programa? Comércio e serviços. Talvez sejam os que mais precisem usar. Eles não vão poder usar porque eles cresceram nos últimos 12 meses já”, aponta Hélio Zylberstajn, professor de Economia da USP.
Mas o governo quer estender o programa às empresas que ainda estão gerando emprego.
“Nós queremos que as empresas que ainda estão gerando empregos líquidos, pouco, é 1%. Mas que ainda estão gerando empregos possam aderir ao PPE. Ou seja, nós queremos oferecer o PPE antes que as empresas demitam. Antes que elas entrem em uma rota negativa”, explica Laudemir Muller, Secretaria-Geral da Presidência.