o Metalúrgico – Quais as principais propostas de sua categoria para que o País se desenvolva com geração de empregos de qualidade, distribuição de renda, justiça e inclusão social?
Pedro Celestino – São cinco os eixos principais da nossa proposta. O desenvolvimento industrial de ponta, que emprega mão-de-obra altamente qualificada, contempla o fortalecimento da Petrobras, da Embraer e da indústria nuclear. Por outro lado, o Brasil hoje tem 80% da sua população vivendo em cidades, que demandam investimentos em habitação, saneamento, mobilidade, etc., que empregam muita mão-de-obra de menor qualificação. Igualmente, investimentos em infra-estrutura em um País de área continental, serão necessários por muitas décadas ainda. Por exemplo, passamos de 800 km de rodovias pavimentadas em 1955 para os atuais 220 mil km, quando os Estados Unidos e a China já têm quatro milhões de km. No campo, o agronegócio é cada vez mais tecnificado, empregando mão-de-obra qualificada a utilizar equipamentos produzidos pela nossa indústria, enquanto a agricultura familiar, responsável por 70% dos alimentos que chegam à nossa mesa, emprega muita mão-de-obra de menor qualificação.
o Metalúrgico – Nosso atual lema é a Luta faz a Lei, que serve para impulsionar as lutas contra a aplicação da lei da reforma trabalhista na base metalúrgica e em defesa das conquistas da Convenção Coletiva. Qual a sua opinião sobre a reforma trabalhista? Ela deve ser revogada?
Pedro Celestino – Reformas de legislação que afetem direitos sociais devem ser precedidas de amplo debate, para que se preserve o que foi conquistado em lutas anteriores. A “reforma” vigente precariza o trabalho e enfraquece o sindicato, principal instrumento de luta organizada dos trabalhadores, pelo que a luta pela sua revogação é prioritária.
o Metalúrgico – Nós defendemos o voto em candidatos aos governos e parlamentos que assumam o compromisso de defender os direitos trabalhistas, sociais e previdenciários da classe trabalhadora. Temos, porém, um descrédito grande da sociedade com a política. E o reflexo disto está em pesquisas que indicam grande intenção de votos brancos e nulos. De que modo o Clube de Engenharia pretende se posicionar nas eleições gerais de 2018?
Pedro Celestino – O Clube de Engenharia pauta a sua atuação pela defesa da democracia, da soberania nacional e da engenharia, sem envolvimento político-partidário. Democracia não é uma palavra vazia; direitos trabalhistas, sociais e previdenciários da classe trabalhadora são parte da democracia, e contam com o nosso irrestrito apoio.
o Metalúrgico – Há uma forte onda conservadora no País, com ataques ao movimento sindical e criminalização de movimentos sociais. Ao mesmo tempo, temos a necessidade de ampliarmos a sindicalização e a participação dos trabalhadores em nossas ações coletivas. Como equacionar estas questões?
Pedro Celestino – A força do sindicato depende da capacidade da sua direção encaminhar as reivindicações concretas da base. Hoje, por exemplo, a luta contra o desemprego e a campanha com o mote “nenhum direito a menos” são as que mais mobilizam. Por outro lado, a unidade de ação se impõe para enfrentar a ofensiva em curso contra direitos históricos dos trabalhadores.
o Metalúrgico – No cenário político atual, com recente greve dos caminhoneiros, como o Clube de Engenharia se posiciona com relação à Petrobras, política de preços e suas consequências para o Brasil?
Pedro Celestino – O Clube de Engenharia se posiciona contra o desmonte da Petrobras e pelo restabelecimento do seu papel como âncora do desenvolvimento industrial do nosso País. A política de preços da Petrobras deve voltar a ser a que sempre praticou ao longo da sua história: preços suficientes para assegurar à empresa a margem de lucro indispensável para garantir o seu programa de investimentos, e não atualmente praticados, especulativos, que levaram os caminhoneiros à loucura, e prejudicam, pela sua imprevisibilidade, todas as atividades da economia.
o Metalúrgico – Você concorda que a Lava Jato, a pretexto de combater a corrupção, foi mais um instrumento de perseguição política, seletiva, que prejudicou a engenharia brasileira inclusive no exterior?
Pedro Celestino – Com certeza, a pretexto de se combater a corrupção, que todos combatemos, desmontou-se a capacidade gerencial e tecnológica da nossa engenharia, acumulada nas seis últimas décadas, para que o nosso mercado seja ocupado por empresas estrangeiras, quando há mais de 60 mil engenheiros desempregados. A nossa engenharia estava presente em 41 países, não tinha medo de competir, ao contrário, conquistava mais e mais mercados. Hoje, luta para se manter à tona.
o Metalúrgico – O governo congelou por 20 anos os investimentos em áreas sociais e corremos o risco de não termos mais a política de valorização do salário mínimo. Comente, por favor, este dois temas.
Pedro Celestino – Não tivemos em nossa História governo tão descomprometido com os interesses nacionais e os interesses sociais como o atual, de Temer. A preocupação única é a de destruir o que foi feito nos últimos oitenta anos, para que voltemos a ser colônia, exportadora de grãos, de minérios, de petróleo, e importadora de produtos industriais. Como garantir a paz social sem uma política de geração de empregos? O País explode. Vejam o que ocorre com a Nigéria, do outro lado do Atlântico: é grande exportadora de petróleo cru para os Estados Unidos, não tem indústria, nem agricultura, é um barril de pólvora. Não há polícia, não há exército que contenha a explosão dos miseráveis.
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Atual presidente do Clube de Engenharia, Pedro Celestino é engenheiro civil especializado em Transportes, formado pela PUC-RIO em 1967. Preside a Internacional de Consultoria e Planejamento S.A. (ICOPLAN), empresa de engenharia consultiva com serviços realizados em quase todos os Estados brasileiros, desde 1975. É membro vitalício do Conselho Diretor do Clube de Engenharia. Representou o Clube no CREA-RJ por nove anos e na Federação Brasileira de Associações de Engenheiros (FEBRAE) por seis anos. Fez parte da direção da Associação Brasileira de Consultores de Engenharia (ABCE) por três anos. Foi membro do Conselho Diretor da Associação Comercial do Rio de Janeiro por dois anos.
Entrevista publicada no jornal o Metalúrgico, edição 627, página 5