Companhias que suspenderam contratos de trabalho relatam desinformação no Senai, que oferece cursos
Paulo Justus
Empresas que iniciaram a suspensão temporária do contrato do trabalho na semana passada enfrentam dificuldades para colocar a medida em prática. Em São Paulo, pelo menos três companhias que negociaram a suspensão com sindicatos tiveram entraves burocráticos no Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai).
A suspensão do contrato de trabalho requer que os funcionários sejam matriculados em cursos de qualificação por dois a cinco meses, período em que os trabalhadores recebem uma bolsa com recursos do FAT. As empresas ficam livres dos impostos, mas pagam benefícios e se comprometem a não demitir os funcionários por três meses.
No interior de São Paulo, o Grupo Ruette, do setor sucroalcooleiro, só conseguiu receber a bolsa depois de certo esforço. “No início, a superintendência do ministério disse que os recursos do FAT estavam suspensos por causa de uma reformulação do governo”, diz a gerente de recursos humanos Josiane Prudêncio.
A liberação dos recursos veio na terça-feira, depois que a reportagem do Estado consultou o Ministério sobre o ocorrido. Na ocasião, o MTE informou que não havia problemas na concessão do bolsa, mesmo depois de a superintendência regional do órgão ter confirmado a informação da empresa.
Na capital paulista, duas indústrias de autopeças também tiveram dificuldades para conseguir 150 das 100 mil vagas gratuitas oferecidas pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) para acordos entre trabalhadores e empresas. A Indebrás consultou dois Senai da Grande São Paulo, que não sabiam da existência das vagas gratuitas.
Por este motivo, a gerente de recursos humanos Vivian Perce não conseguiu matricular os funcionários na segunda-feira, quando começou a suspensão do contrato de trabalho na Indebrás. “Tivemos de montar às pressas um curso de segurança no trabalho promovido pela própria empresa”, diz.
Problema idêntico ocorreu com a Basso Componentes Automotivos, que aprovou na segunda-feira acordo coletivo para a suspensão de contrato.
Segundo o Senai, a rapidez da mudança feita na instituição para oferecer os cursos acarretou o problema. “Algumas de nossas centenas de escolas, em período de férias, ainda não estavam informadas dos procedimentos”, informou, por meio de nota. O Senai ressaltou que as vagas existem e que as empresas interessadas devem procurar a sede da entidade, na avenida Paulista.
Na Indebrás, os funcionários começaram as aulas na quinta-feira. As primeiras turmas de qualificação profissional na Ruette ocorreram na quarta-feira. Para o cortador de cana Adão Antonio da Silva, de 37 anos, o curso foi uma oportunidade. “A gente vê com essa globalização que tudo vai ser feito por máquinas e é necessário que a gente se qualifique”, diz.