Concorrência com os importados, entre outras coisas, derrubou resultados em 16% no primeiro trimestre
Marcelo Rehder
O lucro das grandes empresas do setor industrial caiu no primeiro semestre deste ano, apesar do crescimento de 6% no Produto Interno Bruto (PIB) no período. Somado, o lucro líquido de um grupo de 79 empresas do setor com ações negociadas em bolsa apresentou queda real (descontada a inflação) de 16% no período, em relação ao ano passado.
O ganho consolidado dessas empresas totalizou R$ 17,6 bilhões, ante R$ 21 bilhões na primeira metade do ano passado. Na mesma comparação, a receita líquida (vendas menos os impostos) cresceu 18%, de R$ 137,9 bilhões para R$ 162,2 bilhões. Contudo, com a alta das commodities, o custo de matérias-primas e insumos, Custo do Produto Vendido (CPV), saltou 24%: para R$ 109,5 bilhões.
A impossibilidade de repassar de imediato a alta de custo para os preços, combinada com efeitos da valorização cambial de 11% no semestre, foi o que mais contribuiu para o resultado, segundo estudo da Fundação do Desenvolvimento Administrativo (Fundap), ligada ao governo paulista.
Ao contrário da indústria, o lucro do comércio cresceu 24% no semestre, e dos serviços avançou 11%. Na média geral, o lucro cresceu 6%. “As novas tabelas de preços da indústria têm sido recusadas total ou parcialmente pelo varejo”, diz Geraldo Biasoto Jr., diretor-executivo da Fundap. “Muitas indústrias adiam os repasses, mas há casos em que jamais conseguirão emplacar aumentos, em razão da concorrência acirrada dos importados e de outras empresas domésticas”.
Os efeitos dessa queda-de-braço ficam mais claros quando se analisam os dados em uma perspectiva de tempo mais longa. A expansão da receita líquida, de 18%, é próxima da média dos últimos cinco anos no período (17%). Já a queda de 16% no lucro contrasta fortemente com o crescimento médio de 21%. A razão para o descompasso, observa o diretor da Fundap, foi o crescimento acentuado do custo de matérias-primas. De uma média anual de 16% entre 2002 e 2007, pulou para 24% neste ano.
Maior fabricante de papel do País, a Klabin encerrou o semestre com uma receita líquida de R$ 1,5 bilhão – um aumento de 8% em relação ao ano passado. Mas amargou uma queda de 32% no lucro líquido, que recuou para R$ 252 milhões. Segundo a empresa, os resultados foram afetados pela alta de insumos como combustíveis e produtos químicos.
CÂMBIO
A desvalorização do dólar provocou queda de R$ 184 milhões nas receitas das exportações da Klabin. A perda foi compensada pela redução do volume gasto com a dívida externa, equivalente a R$ 184 milhões. A dívida da empresa é de US$ 1 bilhão em linhas de exportação.
A Vale foi fortemente prejudicada pela valorização cambial. Com 95% das receitas em dólar e 55% dos custos em reais, a maior mineradora do mundo viu seus ganhos em moeda nacional encolherem 37,5% – de R$ 10,937 bilhões, no primeiro semestre de 2007, para R$ 6,826 bilhões, este ano.
No padrão de contabilidade americano, o lucro da Vale cresceu de US$ 6,321 bilhões para US$ 7,030 bilhões – um aumento de 11,4%. A variação contábil de investimento, prevista na legislação brasileira, reduziu em R$ 5,484 bilhões o lucro da Vale, segundo o diretor de Relações com Investidores, Roberto Castello Branco. Ele explica que a desvalorização do dólar diminuiu o valor em reais dos ativos internacionais da empresa. As normas brasileiras registram isso como um custo que deve ser abatido do lucro.
Nas montadoras de veículos, cuja maioria não divulga resultados no País, o repasse dos custos para os preços tem sido apenas parcial, por razões mercadológicas. Ninguém quer perder participação num mercado crescente como o brasileiro. No momento, as empresas do setor avaliam o impacto do reajuste salarial dos metalúrgicos no preço dos veículos. O salários tiveram reajuste de 11,01% o que representa um aumento real (acima da inflação) de 3,6%.